Lula ainda aos quinze minutos do primeiro tempo

Análise das políticas de negócios de Lula revela desafios na busca por governabilidade e avanços em meio à complexa mobilidade de forças.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Juan Medina/Reuters

A propósito das negociações com o “centrão” no sentido de conquistar a base parlamentar necessária à governabilidade, lê-se opiniões impacientes sobre a conduta do presidente Lula.

Na grande mídia, articulistas interessados em aumentar a cota conservadora no governo — como parte da vigilância em defesa dos fundamentos macroeconômicos neoliberais —, dizem que o presidente “brinca com fogo” por prolongar em demasia as negociações.

Em alguns sites de esquerda, ou se defende negociação zero ou se considera inegociável todo ministério ou órgão de destaque na administração federal. 

Por exemplo, se o Esporte passar da atual ministra Ana Moser para um deputado do Republicanos, será a prova (sic) de que para Lula esta seria uma pasta sem importância.

Na verdade, tanto à direita como em parte da base governista de esquerda há muita má fé ou incompreensão.

Óbvio que se a representação de esquerda na Câmara dos Deputados não passa de um quinto das 513 cadeiras, concessões relevantes são necessárias para o deslocamento de uma parcela dos eleitos do campo oposto para o lado governista.

É assim aqui e mundo afora.

O fato é que nas duas vezes anteriores que Lula se elegeu, e Dilma também, seus governos se iniciaram sob franca minoria parlamentar. Tiveram que negociar muito. E fazer conceções.

Basta lembrar que o Ministério das Cidades no primeiro governo Lula era liderado pelo ministro Olívio Dutra apoiado em equipe de alto nível formada por urbanistas consagrados e comprometidos com a luta pela reforma urbana.

No segundo governo, Olívio Dutra deu lugar a Márcio Fortes, do PP, situado a anos luz de distância da peleja reformista.

A questão de fundo é a maldita correlação de forças, de que tanto falo aqui na coluna, elemento definidor das tendências existentes numa determinada situação política.

No “18 Brumário”, o próprio Karl Marx examina a conjuntura francesa de então tendo esse elemento como um dos fios condutores da análise, tal como fizera em seu livro precedente “A luta de classes na França”.

Adiante, Lenin — que elevou ao máximo o manuseio dos conceitos de estratégia e tática na condução da luta revolucionária — proclamou que a essência da política está na tática e que esta depende antes de tudo da correlação de forças.

Se examinarmos o programa de reconstrução nacional com o qual Lula se elegeu à testa de amplíssima frente democrática e progressista, veremos que a despeito de importantes avanços — particularmente na restauração de políticas públicas de ampla repercussão social —, o governo ainda peleja nos primeiros 15 minutos da partida.

Até os 90 minutos previstos muita coisa há a acontecer.

Basta considerarmos o conflito entre a inescapável necessidade de fortes investimentos públicos e privados na indústria e na infraestrutura versus a política monetária e fiscal fundamentalmente comprometida com o rentismo.

Nessa matéria, se é possível reconhecer os méritos do governo quanto ao arcabouço fiscal e a reforma tributária, cabe acentuar que, na essência, os interesses fundamentais do todo-poderoso mercado financeiro ainda não estão sendo feridos.

Como diria o velho e querido amigo “sábio de Guaxuma”, a luta é titânica.

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