Lula profético ou anatomia de uma queda de Moro

Circula nas redes sociais um vídeo em que Lula, “o profético”, alerta sobre o destino do justiceiro da moralidade, agora isolado no cenário político e jurídico

Sérgio Moro - Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado | Presidente Lula - Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Sergio Moro, que era saudado pela mídia e extrema direita como justiceiro, está em plena queda. Se não abusamos da ligação do real com o cinema, lembramos que o filme “Anatomia de uma Queda” fala de um processo onde  se discute a autoria de um crime, com a   leviandade com que se distribui justiça nas redes sociais. Mas na vida real do Brasil, o processo contra Lula foi mais complexo. Ele foi da imprensa para Sergio Moro, e do justiceiro  para a mídia, num perfeito diálogo de destruição do maior estadista do Brasil até hoje. 

E onde entra a profecia de Lula sobre o destino de Moro? É que muito antes do desmascaramento público de Sergio Moro pelo STF, o atual presidente Lula já o avisara em audiência, quando fora acusado por montagem caluniosa de fatos. Olhem, circula agora na internet um vídeo do presidente sob o nome de Lula profético. O flagrante da profecia de 2019 pode ser visto aqui:

E, de fato, as notícias desta semana explicam as imagens da profecia. O julgamento que pode cassar o mandato do poderoso e arbitrário “justiceiro da moralidade” e o inquérito aberto recentemente pelo STF podem afundar a sua pessoa logo, logo, além de aprofundar a farsa da Lava Jato.

Fala-se que o cenário de isolamento que Moro vive no mundo político e jurídico amplia o seu risco. Ele, que foi o “cara” e a cara da limpeza contra os adversários de Bolsonaro, teve em grande parte suas decisões e sentenças anuladas no STF por recorrer a manobras ilegais nas investigações. Os processos contra Moro tramitam em um contexto de isolamento do senador tanto no Legislativo quanto no Judiciário em Brasília.

No auge da popularidade da Lava Jato, os tribunais superiores referendavam praticamente todas suas decisões e os políticos profissionais, com mandatos, temiam criticar a operação. Agora, o ambiente é oposto, o que amplia a chance de o ex-juiz sofrer reveses nos processos a que responde.

Neste mês, Moro começou a responder a uma investigação criminal. O ministro Dias Toffoli determinou abertura de inquérito para apurar a atuação de Moro no acordo de delação premiada do ex-deputado Tony Garcia firmado 20 anos atrás, em 2004, no  caso do Banestado. O fato de Toffoli ser o relator do caso aumenta o risco de Sergio Moro. O magistrado do Supremo é um dos principais algozes da Lava Jato na cúpula do Judiciário.

Por justiça, devo dizer que eu também “profetizei” o fim do falso justiceiro no artigo “Começa a cair o castelo de Moro”. Nele, publiquei  em 08/11/2019 no Vermelho, no Brasil 247 e no Jornal GGN:   

“Com a decisão do STF, que derruba a condenação em segunda instância, aparece para o grande público a ilegalidade que alcançou a condenação do presidente Lula. Já antes, pude notar aberrações no julgamento de Moro para o famoso caso do tríplex.

A sentença do juizeco era tão miserável de provas, que os parágrafos da condenação podiam ser copiados de qualquer lugar do documento, e o resultado seria o mesmo. As desrazões se repetiam ou apenas mudavam os nomes dos delatores. Mas sempre a nota do samba em uma só: declarou, declarou, declarou…. Ou então se referiam a e-mails, onde Zeca Pagodinho era Lula. Brahma era Lula. Chefe era Lula. Madame era Marisa… Todos arrazoado desarrazoado eram um labirinto de idas e vindas, recuos, voltas, de fixação em busca de um só ponto: a condenação do eterno-presidente Lula.

Então possuía a lembrança de um diálogo de Lula frente a seu algoz:

Moro – Senhor ex-presidente, pode esclarecer se havia a intenção desde o início de adquirir um triplex no prédio invés de uma unidade simples?

Lula: Não havia no início e não havia no fim. Eu quero falar, porque tenho direito de falar que não requisitei, não recebi e nem paguei um apartamento que dizem que é meu.

Moro: Nunca houve a intenção de adquirir esse tríplex?

Lula: Nunca houve a intenção de adquirir o tríplex.

Moro: Aqui, tem uma proposta de adesão, sujeita à aprovação, relativamente ao mesmo imóvel. Isso foi assinado pela senhora Marisa Leticia, vou mostrar aqui para o senhor.

Lula: De quando que é essa data aqui?

Moro: 01/04/2005. Consta nesse documento, não sei se o senhor chegou a verificar, uma rasura. O número 174 correspondente ao tríplex nesse mesmo edifício foi rasurado e, em cima dele, foi colocado o número 141. Este documento em que a perícia da PF constatou ter sido feita uma rasura, o senhor sabe quem o rasurou?

Lula: A Polícia Federal não descobriu quem foi? Não?! Então, quando descobrir, o senhor me fala, eu também quero saber.

Moro: Aqui, consta um termo de adesão de duplex de três dormitórios nesse edifício em Guarujá, unidade 174 A, que depois, com a transferência do empreendimento a OAS, acabou se transformando triplex 164 A. Eu posso lhe mostrar o documento?

Lula: Tá assinado por quem?

Moro: .. A assinatura tá em branco…

Lula: Então o senhor pode guardar por gentileza!’

E com tais provas, enfim, o juizinho sentenciou:

‘Condeno Luiz Inácio Lula da Silva’

A recente decisão do STF não julgou esse processo estúpido, ilegal e injusto. O mérito foi outro, o de retirar de juízes à semelhança de Moro o poder de condenar em segunda instância. Mas essa foi a primeira sentença do juizeco a cair. Em 7/11/2019 teve início a queda do castelo de Moro. Um castelo de cartas, já se vê. Um castelo de cartas marcadas pela perseguição, mentiras e abusos”.

É a história. É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar

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