Mais itens na pauta

Nas manifestações de rua das últimas semanas, anotei duas dezenas de tópicos das palavras de ordem e cartazes nelas apresentados. Todos muito justos, quase unânimes. Mas, há alguns outros itens que não entraram em pauta e que terão que ser levantados, caso queiramos discutir seriamente o Brasil.

É claro que a tarifa dos transportes públicos, a mudança na forma de representação política, a qualidade dos serviços de saúde, da educação, o combate à corrupção, o respeito à diversidade sexual e os demais temas levantados deverão ganhar atenções das mais diversas após a chacoalhada das ruas. No governo, no parlamento, nos tribunais e na própria participação popular. É o que se espera.

Dos cinco pontos apresentados pela presidente Dilma Rousseff na última segunda-feira, o que ganhou mais destaque, pela sua grande abrangência, é o da Reforma Política. A ideia de um plebiscito para decidir a forma de se fazer isso tem recebido amplo apoio. Convocar uma Assembleia Constituinte específica é uma proposta.

Mas, peguei um pincel atômico e escrevi em cartolinas alguns outros pleitos sobre questões que esbarram em forças e empecilhos que impedem, muitas vezes, a própria ação do governo. E que não foram levantados nas grandes cidades. São apenas os motes, como exemplos, sem querer aqui aprofundar cada tema. Vejamos:

1. Reforma do judiciário, já!
O Judiciário não pode mais ser um feudo. O próprio Conselho Nacional de Justiça, formado por maioria de membros do próprio Judiciário, é impedido de trabalhar. Não há controle externo algum. Qualquer juiz pode mandar e desmandar ao bel-prazer, ou ao bel-prover, e só prender ladrão de galinha, que não rende nada. Os tribunais e fóruns são palacetes, aonde pobre não entra.

2. Democracia nas comunicações 
Os meios de comunição, de um modo geral, estão nas mãos de alguns. Concessões antigas são renovadas quase que automaticamente. E novos canais abertos vão pras mãos dos mesmos alguns. Quem consegue emissoras comunitárias, por exemplo, padece com todo tipo de pressão, especialmente a econômica. Sem falar nas verbas da publicidade oficial, que na sua maior parte vai para o grande. A máfia está infiltrada até nos órgãos públicos que deveriam regular e democratizar o setor.

3. Põe a mão no banco!
O sistema financeiro continua metendo a mão no bolso do trabalhador, do empresário e do próprio País. Quando os poderes da República vão colocar as mãos nele?

4. Cadê nossos minérios? 

Por uma política mineral decente, que tenha controle sobre o que é levado do nosso subsolo. Vai do minério de ferro, metais não ferrosos, metais preciosos ou minerais estratégicos. Do ouro, bauxita, cassiterita, cobre, manganês até o lítio, nióbio e urânio, alguém sabe pra onde estão indo? O que se sabe é que estão tirando.

5. Privatizou pra quem?

Como estamos fazendo com os crimes da ditadura, no campo dos direitos humanos, é hora da verdade, também, sobre as privatizações dos governos FHC. Só a Vale do Rio Doce (CVRD) já daria pano pra manga. Era empresa eficiente e lucrativa, uma referência mundial. Mas, foi vendida por menos do que valiam os 17 navios que a ela tinha. O principal foi embora, ninguém sabe, ninguém viu. E este é só um caso.

6. Mobilidade urbana pra valer!

O Plano de Mobilidade Urbana já existe, mas esbarra nos interesses do mercado imobiliário, construtoras e indústria automobilística, entre outros. As cidades estão caóticas. A prioridade absoluta deve ser dada ao transporte público, com a bicicleta e o pedestre. Junto, claro, vem a necessária infraestrutura, o que inclui saneamento básico, calçadas etc. Depois é que vem o automóvel. É o rico no ônibus, não o pobre no carro.

7. Abaixo a festa na roça!
A Reforma Agrária segue seu ritmo, com a mesma festança do latifúndio, enquanto o trabalhador do campo vai pras periferias da cidade. Quando é feito um assentamento, os agricultores e suas famílias são jogados na terra, e que se virem! Já o grande, muitas vezes em terras da União, recebe os créditos, as benesses e sonega o que pode, no mais das vezes pra exportar grãos sem agregar valor algum.

Esses são exemplos de alguns temas candentes que, em momento oportuno, devem ser levantados pela sociedade brasileira.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor