Mano Oxi: Churrasco de salsichão em Porto Alegre – O filme

Luz câmera e ação, gravando!
TAKE 01: câmera 02 e 03 acompanham em plano aberto e pode fechar em zoom!!… ok?
 

Iniciava com o último telefonema do designer gráfico da direção estadual da Nação aqui no sul ''Michel Criador'' confirmando o horário que o ônibus sairá da Vila Elza Município de Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, me disse:
– Negão o motorista é dos nossos e não cobrará a mais, pelo fato do ônibus ter que entrar nas vilas atrás da rapaziada. A fita tá dominada Oxi, é tudo nosso!


 


Fiquei tranqüilo porque até esse momento nada estava certo, isso já era 03:45 da madruga de sábado, saltei da base onde tínhamos estrutura para fazer as articulações, estava eu juntamente com o rapper Dogg, Malik, e o graffiteiro Kuca,  fomos descansar, até porque teríamos que levantar cedinho, cedinho.



 
TAKE 02: atenção ! Câmera 01 ligada, grava tudo sem cortes que no final da cena, a decupagem deste plano eu mesmo editarei e abrirei em fade.



 
Com o telefone despertando e acordando a vagabundagem toda, levantamos por volta das 06:45, da manhã, enquanto eu tomava banho, pra levantar moral, o Malik levantava o acampamento, dobrava os forros de cama, e colocava, água para esquentar, gaúcho quando acorda de manhã cedo, não fica sem tomar um bom chimarrão, bem quente, e de preferência pelando, pra queimar a língua, tá ligado?


 


07:30 da manhã, largamos fincado, fazia exatos seis graus neste momento, o frio do minuano aqui no sul, é de derrubar qualquer um pela frente, na ida até a Câmara dos Vereadores, contamos 15 pessoas dormindo nas ruas, uns com cobertores e outros só com a roupa do corpo.
– Pelo amor de Deus!
Foi o comentário que fiz ao Malik, porque que as autoridades públicas, não tomam suas devidas providencias, na noite passada o jornal noticiava que dois moradores de rua haviam morrido de frio, em fim… fora a nossa dor pessoal, tínhamos uma missão a ser cumprida, cuidar dos detalhes finais do nosso evento, até para que possamos contribuir um dia para o fim destas condições desumanas e quem sabe amenizar este problema que já crônico, aqui nos sul e certamente em todo o País.


 


Chegamos no local da atividade, Malik, ficou supervisionando os detalhes finais, a tarefa primordial dele neste momento era criar o cenário ideal para o nosso evento, ele já tem um currículo de grandes produções na área cultural, é o mano mais qualificado, me despedi do nosso guerreiro com um abraço e a certeza de que não haveria falhas.



 
TAKE 03: câmera dois, esta cena a câmera já esta no tripé e em cima do praticável, quero um movimento de  pan… da esquerda pra direita e em seguida pode sair com um chicote violento ok! E por favor, silêncio no sete de gravação! Atenção… gravando!



 
Coloquei fogo na churrasqueira, assim que cheguei em nossa base, com a certeza de que conseguiria o dinheiro para comprar a carne, foi essa a estratégia usada para concretizar nossa mobilização. Por aqui, quando a rapaziada fica sabendo que vai rolar um churrasco, não tem boi! Todo mundo levanta cedinho, cedinho e larga correndo pro lugar onde vai rolar a churrasqueada. Lliguei para vários amigos meus atrás deste recurso, que ainda não estava na mão, e nada de conseguir levantar os cento e cinqüenta reais. Até que me obriguei a ligar para o meu ''anjo da guarda'', que a partir daquele momento passou a ser o ''anjo da guarda do nação ''. Já é a segunda vez que ela representa na moral, até por entender a importância de tudo que estamos construindo, foi a mesma pessoa que abriu as portas da universidade da PUC, para realizarmos uma mostra cultural e uma apresentação teórica do hip-hop no JUBRA, evento que tratou da realidade da juventude na América Latina em 2006.


 


Enfim, Rita Butts, assim que a chamamos, não exitou em atender meu pedido de socorro, e me trouxe pessoalmente a importância que eu havia pedido emprestado. Trouxe-me também um filme documentário para ser exibido em nossa atividade, sem palavras Rita, em nome da Nação Hip-Hop Brasil, um muito obrigado! Você salvou o almoço de mais de 50 pessoas entre mães e crianças que saíram da cidade de Viamão e de Alvorada, pela parte da manhã sem ao menos tomar café. Já mais irei esquecer teu ato de humanidade.     



 
TAKE 04: atenção câmera 04 que esta posicionada em plano fechado, assim que começar a cena, a câmera 05, que esta posicionada em cima da grua, fará um movimento de decida em plano aberto e logo após este movimento a câmera 06 que esta no trilho fará um movimento em câmera lenta até a porta do ônibus ok, atenção ! Silêncio no sete de filmagem e gravando…   



 
Era exatamente 13hs, ou uma hora da tarde como preferirem. Conduzidos pelo rapper Whithe Jay, nosso povo começou a entrar no ônibus, preenchendo todos os lugares, eu não tinha tempo nem de me emocionar, mesmo estando já emocionado até porque, estava na linha de frente da direção do documentário que estamos produzindo aqui no sul. Nossa equipe de reportagem, a Imprensa F, tinha em punho uma câmera digital da Panasonic, a mesma que registrou o lançamento estadual, o Marcelo Buraco já conheceu a nossa ''Gertrudes'', que carinhosamente a chamamos. Está com a gente nos momentos mais cruciais, registrando tudo, sem perder um só momento.



 
TAKE 05: neste momento da gravação, estarei acompanhando tudo pelo VT, quero toda esta cena em plano fechado se possível em três por quatro, quero expressão no olhar e no gestual de todos, porque depois aplicarei um efeito de slow, deixa que a trilha sonora eu mesmo construo… um, dois, três e gravando…   



 
Foi maravilhoso olhar pela lente da ''Gertrudes'', e ver mulheres, crianças, jovens, adolescentes rapper's da cultura hip-hop, e nomes da Política Nacional, como a deputado federal Manuela D´Avila, sendo entrevistada e falando da importância da Nação Hip-Hop Brasil. No processo de inclusão e de protagonismo da juventude, contribuindo de maneira incisiva para as mudanças em nosso país.


 


Do deputado estadual Raul Carrion, que também se fez presente, juntamente com outras lideranças que lá passaram, a abertura do evento foi marcada por uma amostra de sarau poético, através do free style ou simplesmente rap feito na hora. Logo em seguida um telão gigantesco, rodava o filme documentário sobre a vida de ''Estamira''. Que no meu ponto de vista além da parte política de nosso evento, foi o grande diferencial do dia, depois rolou um debate sobre o que assistiram.


 


Em seguida Isadora Pisoni, membro da UJS e de nossa organização Nacional, iniciou os trabalhos da mesa mediando as falas que estavam por vir, White Jay, usou sua fala para enfatizar a importância das atividades sócio-culturais promovidas pelos manos e pelas minas e como seria importante utilizarmos profissionais liberais, que estão desempregados dentro das periferias, para serem, multiplicadores no processo de capacitação de jovens que ainda não tiveram experiência alguma profissionalmente, interligados com projetos nacionais de hip-hop contribuindo para políticas publicas emergenciais.


 


Tendo em vista esta epidemia que se alastra dentro das periferias, que vem destruindo lares e famílias: “a pedra de crack”. Nega Gil, uma jovem guerreira, fez uma fala maravilhosa sobre as jovens mulheres negras e que passa a compor a direção Municipal de Porto Alegre, com a incumbência de construir nossa organização na cidade de Canoas.


 


Isadora fez uma retrospectiva de como foi a construção da Nação Hip-Hop Brasil, no sul. Pontuando momentos que foram significativos para chegarmos até aqui, já o deputado estadual Carrion, fez uma fala sobre a importância do negro dentro do nosso estado e conseqüentemente em nosso País. Reforçando a importância das cotas terem sido aprovadas na UFRGS.


 


Minhas contribuições, foi dividindo com todos que lá estavam como foi difícil minha trajetória até encontrar a cultura que me acolheu e me deu a confiança que minha própia família nunca depositou em mim. Possibilitando-me chegar vivo até este momento, juntamente com outros jovens iguais a mim, fazendo com que eu possa contrariar as estatísticas. A cultura que falo é a cultura que foi fecundada e parida nas ruas das grandes metrópoles mundiais,  conhecida como hip-hop.


 


Falei também que o ser humano não existiria se não houvesse cultura e não existiria cultura se não existisse o ser humano. Foi a cultura que contribuiu para que nossa geração de jovens líderes de gangues pudessem ser tocados pela arte, e conseqüentemente não ignorar mais os livros. Antes só falamos sobre mortes e sobre armas, de  quem foi preso e quem foi solto. Hoje, falamos sobre Marx, Engels, Maquiavel, Lênnin, Gramsci,  Paulo Freire, Diorgenes Arruda, entre tantos outros intelectuais dos quais estamos estudando…


 


Já sabemos de boa parte do que aconteceu no passado. Sabemos também porque as classes dominantes, têm o interesse em nos confinar dentro das periferias, para que nós mesmos nos exterminarmos, pelas armas e pelas drogas. A Nação será uma ferramenta, juntamente com tantas outras formas de organização, vindas do povo, para o processo de libertação mental do nosso próprio povo.



 
 
TAKE 06: atenção equipe. Todos apostos, nossa gravação, é ao vivo, câmeras 01, 02, e 03. Quero o corte de uma pra outra, com bastantes closes, chicotes e zoom, se possível dentro do tempo da música do rapper, que fará o show no palco, já a câmera que está em cima da grua, quero que ela de um passeio por cima do publico, ok ! atenção total na luz em cima do artista, se tiver fumaça ela não pode comprometer a qualidade de capitação visual, portanto puçá fumaça no sete de filmagem. um dois três e gravando!



 
O último ato, rapper Dogg, diretor do documentário que retrata a epidemia do crack no Rio Grande do Sul, fez um espetáculo musical chamado A Maldição da Pedra, fazendo com que o auditório do teatro ''Glenio Perez, viesse abaixo!


 


Foram 30 minutos de muita tensão e adrenalina, como os grandes shows de rap, costumam ser. Seus seis filhos subiram no palco e cantaram todas as musicas juntinho com ele. Foi um dos momentos mais emocionantes do evento, até pelo fato do do rapper Dogg ter vivido praticamente toda  sua vida atrás das grades, passando por Febens e pelo Sistema Prisional do Rio Grande do Sul. Ao final do evento, foram apresentado os nomes que estariam compondo a direção provisória de nossa entidade, em Porto Alegre. Com isso conheceríamos o time que já nasce campeão. É nóis mesmo vagabundo!



 
Corta …

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