Maria e suas companheiras

Maria aproveitou as manhãs de sol e a paciência que lhe faltava para ampliar as margens do rio.

Xilogravura: Mulheres do Sertao, de J Borges

A pedra é enorme e atolou no meio do rio, logo, o melhor local para banhar o corpo. Agora a água está rasa, não cobre nem os pés. O banho acabou, estão esperando que a pedra crie pernas e saia do atolamento. Quem acredita em milagres, até acha possível.

Maria que não faz milagres e muito menos acredita neles, adorava tomar banho e se indispõe a esperar pela vontade da pedra. Mesmo sem força, começou a cutucar o rio e chamou as suas companheiras.  Foi na casa de cada uma, dividiu a agonia e apresentou solução. Maria não encontrou nenhuma para vir com as outras.

A pedra atolada não tinha como se comover. Pedra é pedra. Maria aproveitou as manhãs de sol e a paciência que lhe faltava para ampliar as margens do rio. Com enxada e pá, aos poucos foi refazendo o espaço da água, o templo do banho.

Maria morreu. A pedra continuou atolada e suas companheiras todas banhadas

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