Maternidade & direitos humanos

Por que, sendo tão importante, na prática a maternidade é uma
condição tão relegada a plano nenhum pelos governos? 

Estimulada pelas comemorações do último Dia das Mães e seu caráter cada vez mais mercantilizado, coloco em debate algumas reflexões partindo da constatação de que a maternidade é um assunto da mais alta relevância para a humanidade, pois no essencial significa a perpetuação da espécie humana.
 
Há algo mais importante para o futuro humano? Por que, sendo tão importante, na prática a maternidade é uma condição tão relegada a plano nenhum pelos governos?

E por que a desimportância do papel de mãe para os governos, a sociedade e as famílias, ainda que abstratamente santificado por muitas religiões e pela católica elevado à única coisa que dignifica as mulheres perante a Deus?
 

As questões relativas à maternidade constituem temas de direitos humanos e demandas por justiça social quando tais direitos são desrespeitados. É assim que pensa o feminismo.

Não é assim que pensam muitos setores da sociedade que sequer percebem os calvários intermináveis que muitas mulheres enfrentam para o exercício dos seus direitos reprodutivos, desde a escolha de se querem ou não ser mães em algum momento de suas vidas.

A Carta das Mulheres Negras, elaborada no Encontro Nacional Olhares da Mulher Negra sobre a Marcha Zumbi 10 (maio, 2005) revela elementos suficientes para que olhemos com mais solidariedade a situação de crueldade para a vivência da maternidade para metade das brasileiras, as negras.

De fato, as negras são as mulheres que no Brasil mais morrem fulminadas pela primeira causa (hipertensão arterial não tratada durante a gravidez) e pela quarta causa de morte materna: abortamento inseguro, ambas representativas do quanto é cruel e racista um Estado que permite que mulheres, a maioria negras, sejam imoladas quando há meios seguros de respeitar seus direitos e suas decisões reprodutivas.

Alçar a maternidade ao lugar legítimo de vivência prazerosa coberta pelos direitos humanos é uma exigência ética, pois governos e sociedade assistem, em geral, de forma passiva, à morte de mulheres durante a gravidez, parto e puerpério como algo natural. Não é.

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