Memória das ruas

Muitos paulistanos, sobretudo os mais jovens, não têm a menor ideia, mas há muitas ruas, avenidas, praças e escolas na cidade que foram nomeados em homenagem a figuras que colaboraram diretamente com a repressão e a violência e assassinatos durante o regime militar.

A intenção da administração Haddad, por meio do Plano de Ocupação do Espaço Público pela Cidadania, é substituir os nomes desses locais pelos de personalidades que se dedicaram à defesa da dignidade humana, à promoção da igualdade social e à consolidação da democracia.

Alinhados com esse pensamento, nós, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, pretendemos erguer uma estátua de Zumbi dos Palmares, para enaltecer o grande herói que defendeu Palmares, uma sociedade justa e igualitária onde brancos, indígenas e africanos que fugiam da escravização e da perseguição do regime escravocrata encontravam abrigo. A escultura será instalada no centro da capital, a 100 metros da Bolsa de Valores.

Diz um ditado africano: “O que seria das histórias de caçadores se os leões soubessem escrever”. A invisibilidade histórica na qual negros, indígenas e também brancos, que deram a vida para que hoje pudéssemos protestar e alguns até terem o direito de pedir a volta do regime autoritário, será finalmente revertida com esse projeto.

Em algumas cidades do mundo, como Paris, boa parte das ruas com nomes próprios traz uma pequena informação sobre a pessoa, justificando por tabela o motivo dela merecer a placa.

Oxalá caminhemos nessa direção, aproximando os dignos personagens da nossa história aos endereços do cotidiano, permitindo assim que a população saiba, por exemplo, que avenidas como a famosa Rebouças, em São Paulo, inicialmente chamada rua Doutor Rebouças, homenageia o engenheiro abolicionista negro e baiano André Rebouças, fato que, hoje, poucos têm conhecimento.