Mórbida precisão científica

Cientistas calculam tudo. O que é imprescindível e o que nem importa tanto assim.

Submersível Titan | Foto: OceanGate Expeditions/Divulgação via Reuters

Cientistas calculam tudo. O que é imprescindível e o que nem importa tanto assim. Essa é a minha impressão, modesto leitor sobre o assunto.

Agora mesmo fico sabendo, através de matéria publicada n’O Globo, que a tripulação do Titan, percebeu o desastre mortal entre 48 e 71 segundos antes da implosão.

O submersível, que desapareceu no último dia 18 de junho durante em expedição para visitar os destroços do Titanic, teria afundado em “queda livre” antes do seu inesperado fim.

Como terá sido feito o cálculo não me interessa. É detalhe para estudiosos.

Inesperado fim digo eu, que estou há anos luz de entender do assunto. Pode até ter sido um risco calculado pelos aventureiros que encararam a empreitada.

Porque esse é um fenômeno sobretudo deste atribulado século XXI. Multimilionários provavelmente entediados porque, a seu juízo, conseguiram tudo e quedam em monotonia exasperante, inventam aventuras o máximo possível arriscadas.

Desejam experimentar o frisson do que imaginam o instante preciso entre a vida e a morte.

Para contarem a aventura posteriormente, se sobreviverem, em tom triunfal e, se for o caso, lucrativo.

Os aventureiros do Titan se deram mal. Mas não significa que outros não tentem empreitadas semelhantes.

Cá com meus modestíssimos botões, considero que a vida em si mesma já é uma imensa aventura.

Maravilhosa e emocionante aventura. Plena de possibilidades e de riscos.

E não me interessa nenhum cálculo que diga respeito à morte. Que ela venha quando eu já não puder, em limite extremo, sobreviver.

Aliás, o único cálculo que de fato me agrada é o de que em queda de avião — meio de transporte que me dá muito prazer —, com a despressurização, em 10 segundos o passageiro perde os sentidos.

Ou seja, se for o caso, nem saberá que morreu.

Fora disso é tocar a vida, que como ensina Gonzaguinha, “…é bonita/E é bonita…/Viver!/E não ter a vergonha/De ser feliz.”

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