MST e PSOL: novos alvos do PSTU

Em julho último, a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), entidade fundada em maio passado sob o comando do PSTU, festejou a sua primeira ocupação de terras nos arredores de Caçapava, no interior de São Paulo. A iniciativa teve um nítido objetivo polít

Esta estratégia fica explícita no jornal Opinião Socialista, seu órgão oficial, que procura desqualificar um dos mais representativos movimentos sociais brasileiros, assim como já fizera contra a CUT e a UNE. Esta demarcação de campos dá vazão a um sectarismo doentio e ao puro divisionismo!


 


Segundo o texto ufanista deste jornal, a ocupação de Caçapava, com apenas 80 famílias, “contrasta com os acampamentos dirigidos de forma ultracentralizada pelo MST. Ex-integrante do movimento, Ramos fala com autoridade sobre o assunto. ‘Entramos em 1997 no MST, na primeira ocupação de Tremembé. Depois de lá fomos para várias outras fazendas até chegarmos a Santa Rita. De três anos pra cá, depois de uma série de atitudes do MST, querendo impor sua normas e sua política, de que só eles têm direitos, começamos a formar dentro do assentamento uma associação, que começou a romper com eles. Vemos que dentro da Conlutas nós temos a liberdade de discutir uma forma de ocupar”.


 


Ainda segundo o presunçoso artigo, “Ramos não poupou críticas às relações entre o MST e o governo Lula. ‘O MST fechou com o governo Lula. Ficou muito conivente com as políticas do governo. Não concordamos com essa situação, pois achamos que a luta tem que continuar independentemente de que governo esteja no poder”. O texto nada fala sobre as conhecidas – e oficiais – críticas do MST ao atual governo, seja no descumprimento das metas da reforma agrária ou à política macroeconômica de marca neoliberal. O jornal Opinião Socialista ainda deixa implícito que o objetivo do PSTU é promover novas ocupações de terras nas bases do MST, visando fragmentar e disputar espaço com este movimento.


 


Divisão e isolamento


 


A aposta na divisão do MST tem como base a tradicional concepção voluntarista e principista do PSTU, que atingiu as raias do absurdo desde a posse do presidente Lula. Sem levar em conta a real correlação de forças no país e no mundo e a partir da leitura míope sobre a natureza “neoliberal e pró-imperialista” do atual governo, este partido exacerbou seu sectarismo entre as esquerdas brasileiras. Tudo é feito para demarcar campos. Nenhuma outra força política ou social presta! Todas as dificuldades do movimento operário, sindical e popular decorrem da chamada “traição das direções”, segundo a leitura mecanicista que este partido trotskista faz de um dos principais textos de Leon Trotsky, o “Programa de Transição”.


 


Como insiste num artigo recente, o PSTU avalia que as condições já estão maduras para a retomada da ofensiva revolucionária. Ela só não ocorre “em função da ajuda da CUT, UNE e MST, que conseguiu evitar a explosão de grandes mobilizações e canalizou tudo para a via morta da eleição”. Mesmo assim, este partido esbanja seu “otimismo voluntarista” – conforme a expressão cunhada pelo principal grupo trotskista argentino que rompeu com a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), a matriz do PSTU. “Pode ser que 2006 não seja marcado pelas eleições, mas que existam mobilizações muito importantes. O PT, a CUT e a UNE não poderão evitá-las, como não puderam impedir a fundação da Conlutas. Essa entidade nacional foi formada exatamente para ser uma nova alternativa para a luta dos trabalhadores”.


 


Essa mesma leitura delirante, que coloca a vontade acima da realidade, é que levou o PSTU a investir na divisão da CUT e da UNE e que agora explica a investida fracionista sobre o MST. No caso da CUT, toda a grave crise do sindicalismo derivaria da tal “traição da direção”, como se os sindicatos dirigidos por este partido fossem exemplos de luta e de organização – e não aparelhos, muitas vezes, de minorias ativas –, e que não padecessem da queda do número de sócios, da baixa presença nas assembléias e das distorções burocráticas. Quanto à UNE, que tem uma estrutura menos engessada, o PSTU não explica porque é incapaz de canalizar a alardeada rebeldia da juventude e de empolgar a direção da entidade.


 


Diante das evidentes dificuldades para fazer vingar as suas teses, este partido prefere o “atalho” da pura divisão. O MST é o seu novo alvo, apesar da reconhecida capacidade de mobilização deste movimento. Com esta postura irresponsável, o PSTU joga na divisão das organizações dos trabalhadores numa fase decisiva da luta de classes no país, quando a direita neoliberal tenta retornar ao poder. Daí o seu esforço para semear confusão, usando as mesmas baixarias da mídia para estigmatizar o MST, a CUT e a UNE. A Conlutas foi criada exatamente como cunha para esta política. Ela é uma entidade partidarizada, sob rígido controle do PSTU, que investe permanentemente na fragmentação dos movimentos sociais.


 


Os atritos com o PSOL


 


Esta ação sectária acaba levando ao próprio “auto-exílío” deste partido. Nem mesmo setores do PSOL, que se somam na oposição frontal ao governo Lula, topam virar apêndices do PSTU. A maior parte não embarcou no aparelho da Conlutas e tende a rechaçar sua nova investida contra o MST. Com isso, este partido tende ao isolamento, aprofundando a sua trajetória de seita. Quando da crise do PT, ele apostou que seria a alternativa das esquerdas no Brasil. Ao final, foi excluído da formação do PSOL, perdeu vários de seus quadros e viu-se na condição de apoiador da “reformista e eleitoreira” Heloísa Helena. E nem esta “aliança eleitoral” parece que durará muito tempo. O casamento entre PSTU-PSOL é litigioso!


 


Na semana passada, a direção nacional deste partido lançou uma dura “carta à coordenação da frente de esquerda”, na qual rechaça uma entrevista do economista César Benjamin à Folha de S.Paulo (23/7). “Causou-nos enorme estranheza a entrevista concedida por César Benjamin, candidato a vice de nossa frente. César é apresentado como ‘coordenador do programa de governo’ e responsável pela preparação das ‘propostas para o país’… Não foi feita nenhuma discussão na coordenação da frente de esquerda sobre o fato de que estaria preparando o programa de governo. Não reconhecemos nenhum programa que esteja sendo elaborado unilateralmente por César Benjamin, ou por um dos partidos da frente. E achamos um grave erro que isso tenha sido anunciado na mídia sem nenhuma consulta aos partidos”.


 


Para o PSTU, entretanto, o problema mais grave não estaria na forma. “Ele se agrava qualitativamente porque César Benjamin anunciou, como proposta de governo de Heloísa, posições opostas às definidas em comum por PSOL, PSTU e PCB, e expressas no manifesto da frente. Em relação à dívida externa, na entrevista somente a auditoria é proposta. No manifesto, defendemos, além da auditória, a suspensão do pagamento da dívida. César também propõe a duplicação do salário mínimo em oito a dez anos, enquanto no manifesto defendemos a sua duplicação imediata. Na entrevista, César afirma ainda não saber o que fazer com a Vale do Rio Doce, porque não pode prometer reestatizá-la. No manifesto, propomos a reestatização de todas as empresas privatizadas, a começar pela Vale”, condena a tal carta.


 


Para Eduardo Almeida, dirigente do PSTU, a entrevista revela o rebaixamento do “programa socialista” e a defesa de um projeto de “desenvolvimento capitalista sustentado”. Conforme relembra, o seu partido sempre “defendeu uma frente classista e este caráter acabou por não ser aceito pelo PSOL e o PCB”. Num outro texto incisivo, ele chega a afirmar que “a concepção estratégica de uma parte importante da direção do PSOL e do conjunto do PCB não é classista” – o que significa acusá-la de reformista. Como se observa, o PSTU demarca campos até com os seus aliados temporários. Todos são “reformistas” ou traidores! No final da citada carta é dado um ultimato: “Não reconhecemos este ‘programa’ anunciado por César Benjamin, nem a metodologia unilateral com a qual ele está sendo construído. Diante disto, solicitamos uma reunião da coordenação da frente para discutir o tema”. O divórcio pode estar próximo.

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