MST e PSOL: novos alvos do PSTU
Em julho último, a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), entidade fundada em maio passado sob o comando do PSTU, festejou a sua primeira ocupação de terras nos arredores de Caçapava, no interior de São Paulo. A iniciativa teve um nítido objetivo polít
Publicado 01/08/2006 19:44
Esta estratégia fica explícita no jornal Opinião Socialista, seu órgão oficial, que procura desqualificar um dos mais representativos movimentos sociais brasileiros, assim como já fizera contra a CUT e a UNE. Esta demarcação de campos dá vazão a um sectarismo doentio e ao puro divisionismo!
Segundo o texto ufanista deste jornal, a ocupação de Caçapava, com apenas 80 famílias, “contrasta com os acampamentos dirigidos de forma ultracentralizada pelo MST. Ex-integrante do movimento, Ramos fala com autoridade sobre o assunto. ‘Entramos em 1997 no MST, na primeira ocupação de Tremembé. Depois de lá fomos para várias outras fazendas até chegarmos a Santa Rita. De três anos pra cá, depois de uma série de atitudes do MST, querendo impor sua normas e sua política, de que só eles têm direitos, começamos a formar dentro do assentamento uma associação, que começou a romper com eles. Vemos que dentro da Conlutas nós temos a liberdade de discutir uma forma de ocupar”.
Ainda segundo o presunçoso artigo, “Ramos não poupou críticas às relações entre o MST e o governo Lula. ‘O MST fechou com o governo Lula. Ficou muito conivente com as políticas do governo. Não concordamos com essa situação, pois achamos que a luta tem que continuar independentemente de que governo esteja no poder”. O texto nada fala sobre as conhecidas – e oficiais – críticas do MST ao atual governo, seja no descumprimento das metas da reforma agrária ou à política macroeconômica de marca neoliberal. O jornal Opinião Socialista ainda deixa implícito que o objetivo do PSTU é promover novas ocupações de terras nas bases do MST, visando fragmentar e disputar espaço com este movimento.
Divisão e isolamento
A aposta na divisão do MST tem como base a tradicional concepção voluntarista e principista do PSTU, que atingiu as raias do absurdo desde a posse do presidente Lula. Sem levar em conta a real correlação de forças no país e no mundo e a partir da leitura míope sobre a natureza “neoliberal e pró-imperialista” do atual governo, este partido exacerbou seu sectarismo entre as esquerdas brasileiras. Tudo é feito para demarcar campos. Nenhuma outra força política ou social presta! Todas as dificuldades do movimento operário, sindical e popular decorrem da chamada “traição das direções”, segundo a leitura mecanicista que este partido trotskista faz de um dos principais textos de Leon Trotsky, o “Programa de Transição”.
Como insiste num artigo recente, o PSTU avalia que as condições já estão maduras para a retomada da ofensiva revolucionária. Ela só não ocorre “em função da ajuda da CUT, UNE e MST, que conseguiu evitar a explosão de grandes mobilizações e canalizou tudo para a via morta da eleição”. Mesmo assim, este partido esbanja seu “otimismo voluntarista” – conforme a expressão cunhada pelo principal grupo trotskista argentino que rompeu com a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), a matriz do PSTU. “Pode ser que 2006 não seja marcado pelas eleições, mas que existam mobilizações muito importantes. O PT, a CUT e a UNE não poderão evitá-las, como não puderam impedir a fundação da Conlutas. Essa entidade nacional foi formada exatamente para ser uma nova alternativa para a luta dos trabalhadores”.
Essa mesma leitura delirante, que coloca a vontade acima da realidade, é que levou o PSTU a investir na divisão da CUT e da UNE e que agora explica a investida fracionista sobre o MST. No caso da CUT, toda a grave crise do sindicalismo derivaria da tal “traição da direção”, como se os sindicatos dirigidos por este partido fossem exemplos de luta e de organização – e não aparelhos, muitas vezes, de minorias ativas –, e que não padecessem da queda do número de sócios, da baixa presença nas assembléias e das distorções burocráticas. Quanto à UNE, que tem uma estrutura menos engessada, o PSTU não explica porque é incapaz de canalizar a alardeada rebeldia da juventude e de empolgar a direção da entidade.
Diante das evidentes dificuldades para fazer vingar as suas teses, este partido prefere o “atalho” da pura divisão. O MST é o seu novo alvo, apesar da reconhecida capacidade de mobilização deste movimento. Com esta postura irresponsável, o PSTU joga na divisão das organizações dos trabalhadores numa fase decisiva da luta de classes no país, quando a direita neoliberal tenta retornar ao poder. Daí o seu esforço para semear confusão, usando as mesmas baixarias da mídia para estigmatizar o MST, a CUT e a UNE. A Conlutas foi criada exatamente como cunha para esta política. Ela é uma entidade partidarizada, sob rígido controle do PSTU, que investe permanentemente na fragmentação dos movimentos sociais.
Os atritos com o PSOL
Esta ação sectária acaba levando ao próprio “auto-exílío” deste partido. Nem mesmo setores do PSOL, que se somam na oposição frontal ao governo Lula, topam virar apêndices do PSTU. A maior parte não embarcou no aparelho da Conlutas e tende a rechaçar sua nova investida contra o MST. Com isso, este partido tende ao isolamento, aprofundando a sua trajetória de seita. Quando da crise do PT, ele apostou que seria a alternativa das esquerdas no Brasil. Ao final, foi excluído da formação do PSOL, perdeu vários de seus quadros e viu-se na condição de apoiador da “reformista e eleitoreira” Heloísa Helena. E nem esta “aliança eleitoral” parece que durará muito tempo. O casamento entre PSTU-PSOL é litigioso!
Na semana passada, a direção nacional deste partido lançou uma dura “carta à coordenação da frente de esquerda”, na qual rechaça uma entrevista do economista César Benjamin à Folha de S.Paulo (23/7). “Causou-nos enorme estranheza a entrevista concedida por César Benjamin, candidato a vice de nossa frente. César é apresentado como ‘coordenador do programa de governo’ e responsável pela preparação das ‘propostas para o país’… Não foi feita nenhuma discussão na coordenação da frente de esquerda sobre o fato de que estaria preparando o programa de governo. Não reconhecemos nenhum programa que esteja sendo elaborado unilateralmente por César Benjamin, ou por um dos partidos da frente. E achamos um grave erro que isso tenha sido anunciado na mídia sem nenhuma consulta aos partidos”.
Para o PSTU, entretanto, o problema mais grave não estaria na forma. “Ele se agrava qualitativamente porque César Benjamin anunciou, como proposta de governo de Heloísa, posições opostas às definidas em comum por PSOL, PSTU e PCB, e expressas no manifesto da frente. Em relação à dívida externa, na entrevista somente a auditoria é proposta. No manifesto, defendemos, além da auditória, a suspensão do pagamento da dívida. César também propõe a duplicação do salário mínimo em oito a dez anos, enquanto no manifesto defendemos a sua duplicação imediata. Na entrevista, César afirma ainda não saber o que fazer com a Vale do Rio Doce, porque não pode prometer reestatizá-la. No manifesto, propomos a reestatização de todas as empresas privatizadas, a começar pela Vale”, condena a tal carta.
Para Eduardo Almeida, dirigente do PSTU, a entrevista revela o rebaixamento do “programa socialista” e a defesa de um projeto de “desenvolvimento capitalista sustentado”. Conforme relembra, o seu partido sempre “defendeu uma frente classista e este caráter acabou por não ser aceito pelo PSOL e o PCB”. Num outro texto incisivo, ele chega a afirmar que “a concepção estratégica de uma parte importante da direção do PSOL e do conjunto do PCB não é classista” – o que significa acusá-la de reformista. Como se observa, o PSTU demarca campos até com os seus aliados temporários. Todos são “reformistas” ou traidores! No final da citada carta é dado um ultimato: “Não reconhecemos este ‘programa’ anunciado por César Benjamin, nem a metodologia unilateral com a qual ele está sendo construído. Diante disto, solicitamos uma reunião da coordenação da frente para discutir o tema”. O divórcio pode estar próximo.