Mudanças em Cuba

As mudanças anunciadas pelo Partido Comunista de Cuba, nos quatro dias de seu VI Congresso, não chegam a causar surpresas. Praticamente tudo que ali se decidiu já estava acontecendo ou sendo prenunciado, como foi, neste caso, o afastamento de Fidel Castro da presidência do PCC, por ele solicitada.

Podemos dizer que as decisões mais visíveis estão nos campos político, econômico e de relações internacionais. No político, desde logo, o que marca é o que eles estão chamando de “transição de gerações”.

A proposição é, na verdade, de aumentar o número de jovens nos postos de direção do partido e do próprio país. A velharia, do ponto de vista etário, vem saindo de cena por vários motivos, inclusive o de mortes de tantos e tantos. O que se discute, contudo, não é idade. O básico está no campo da idéias, da adequação a novas situações.

O próprio Fidel, em seu discurso de despedida do cargo de presidente, afirmou que “a nova geração está convocada a retificar e mudar ser hesitação tudo o que deve ser modificado e mudado”. Os caminhos para isso, na prática, já vêm sendo trilhados há alguns anos em Cuba.

A dissolução da União Soviética retirou do país caribenho uma parceria que rendia frutos capazes de manter condições de vida dignas para a sua população. Educação e saúde são os dois itens mais importantes da política de estado, de modo que o povo tem instrumentos para assegurar boas condições de vida.

Mas a crise econômica causada pela perda do parceiro preferencial foi grave. E durou mais de meia década. Após isso, a aproximação de novos parceiros econômicos, com carga de solidariedade, reverteu o processo. Entre esses parceiros podemos destacar a China, a Venezuela e mesmo o Brasil. E empresas privadas de várias partes do mundo. Cada um ao seu jeito.

No caso do Brasil, seriam muitos os exemplos. Mas, o que chama mais a atenção é o da indústria automobilística, tanto em veículos leves como do de cargas e passageiros. Os ônibus que circulam em Cuba, há muitos anos, são montados lá mesmo, por uma empresa privada brasileira.

A crise fez os cubanos retomarem uma vocação histórica, que é o turismo. Apesar do embargo dos Estados Unidos à ilha, que até hoje persiste, a maior parte dos turistas que deixam dinheiro ali é de estadunidenses. Afinal, as atrações estão a 90 milhas da costa dos EUA.

Além das lindas praias, que no passado atraiam moradores da estirpe de Ernest Hemingway, belezas naturais e sítios históricos, Cuba hoje oferece uma bela infra-estrutura turística. A começar pelos hotéis e operadores, muitos deles espanhóis, que bancam uma estrutura refinada em parceria com o governo local, com lucro meio a meio.

Esse mesmo processo inclui a revitalização da chamada Habana Vieja, que se parece muito com o Pelourinho, de Salvador, na Bahia, até pelo estilo urbanístico e arquitetônico. Neste caso, a Unesco financiou, por se tratar de patrimônio da Humanidade.

Ali, também, os restaurantes e outras atrações já são operados há bom tempo por proprietários cubanos. O mesmo ocorre com os taxis.

A novidade agora é que todos os cidadãos poderão comprar carros e parte da produção agropecuária vai ser entregue a pequenos produtores, que serão donos das terras. Também empresas de informática serão liberadas, embora estas já existam meio clandestinamente, montando computadores para o crescente mercado local.

Assim, a reunião da direção do PCC apenas ajeitou as coisas. As mudanças serão aprofundadas mais lentamente, através de outras instâncias de decisão. Mas o importante é que apontaram para modernizações que podem assegurar a permanência do socialismo e atrai novos parceiros.

Só não esperemos que os EUA sejam um deles. A própria base militar de Guantânamo, onde há o presídio palco de torturas e outros crimes contra os direitos humanos, que Barack Obama havia prometido fechar, parece que vai seguir. Ou seja, Cuba muda, mas os EUA não.

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