Nada está tão ruim que não possa piorar

Certamente a sociedade ainda não conseguiu dimensionar o tamanho do desastre que o governo Bolsonaro já patrocinou. Não se trata de erros e equívocos, nem de meros rompantes totalitários, mas de consciente e persistente destruição de tudo aquilo de civilizatório que construímos a duras penas

(Foto: Carolina Antunes/PR)

Certamente a sociedade ainda não conseguiu dimensionar o tamanho do desastre que o governo Bolsonaro já patrocinou, pois, se tivesse a real dimensão, já o teria varrido da face da terra. Não se trata de erros e equívocos, nem de meros rompantes totalitários, mas de consciente e persistente destruição de tudo aquilo de civilizatório que construímos a duras penas. Reconstruir o que este governo já destruiu talvez seja uma tarefa ainda mais árdua do que removê-lo do poder.

Mal assumiu e desativou o Ministério da Cultura, reduzindo-o à condição de secretaria, subordinada em um primeiro momento ao Ministério da Cidadania e depois ao Ministério do Turismo. Mas não ficou por aí, pois para ocupar o cargo de tamanha importância, ainda que rebaixado à condição de subárea do turismo, entre outros, nomeou nada menos que Roberto Alvim, até então um ilustre desconhecido. Alvim ganhou o cargo por imposição dos filhos de Bolsonaro e por ser um discípulo do astrólogo que se passa por filósofo, Olavo de Carvalho, o que significava ser um inimigo de tudo que representasse cultura e conhecimento. A promoção da anticultura foi tal, que o sujeito teve até o desplante de plagiar Joseh Goebbels em um pronunciamento, o que levou a sua exoneração por pressão da sociedade. Seguiram-se a ele Regina Duarte e Mario Frias e a destruição da cultura continuou a mesma. A cultura continua sendo consumida pelo fogo do negacionismo, como foram destruídos o Museu Nacional e a Cinemateca.

Direitos humanos e direitos das mulheres foram reduzidos ao fundamentalismo evangélico de Damares Alves. Para as mulheres, duas frases suas sintetizam as políticas que implementou. A primeira é a de que “menino veste azul, menina veste rosa” e “Como eu gostaria de estar em casa, toda tarde numa rede, me balançando e o meu marido ralando muito, muito, muito para me sustentar e me encher de joias e presentes. Esse seria o padrão ideal da sociedade”. As políticas de direitos humanos, que foram incorporadas pelo seu ministério, se encontram totalmente desativadas. Depois de um início de governo de muitos holofotes, a pastora trabalha agora no silêncio, sem frases polêmicas, mas promovendo a mesma prática destruidora.

Nossas políticas de relações exteriores, internacionalmente reconhecidas e respeitadas durante décadas, não só foram destruídas como este governo teve a capacidade de nos transformar em piada perante as demais nações. O terraplanista e olavista Ernesto Araújo, nomeado Ministro das Relações Exteriores, mais parecia um palhaço representando os interesses de Donald Trump do que um diplomata brasileiro. Saiu com o rabo entre as pernas, por pressão do Senado, mas o legado que deixa é o de ter nos transformado em párias internacionais e o seu substituto, ainda que seja discreto, não produziu nenhuma ação no sentido de reverter o estrago feito pelo seu antecessor.

Na educação, o retrocesso é imensurável. O governo começou com um colombiano que sequer conseguia se expressar na língua portuguesa. Mas o pior não era a falta de domínio da nossa língua, mas sim de ser um terraplanista olavista que não entendia nada de educação e menos ainda de educação brasileira. Foi demitido não por sua absoluta incompetência, mas pela tentativa de se dissociar de Olavo de Carvalho, que o havia indicado para o posto. Em seu lugar foi nomeado outro terraplanista olavista, o Abrahan Weintraub. Este sim, por demais competente em promover a destruição de todas as bases de nossa educação, missão que Bolsonaro e seu guru astrólogo esperavam do titular da pasta. Além dos ataques sistemáticos às universidades públicas, ganhou notoriedade por demonstrar ser um absoluto analfabeto funcional e pelos erros gramaticais e ortográficos primários em suas “profundas” reflexões no twitter. Foi exonerado não pelo estrago que fez na educação, mas pelos ataques ao STF. Como sucessor veio um fundamentalista religioso, que mantém o mesmo processo de destruição da educação pública.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro – Foto: Jornalistas Livres

Na saúde, em que pese Mandetta ter desempenhado um importante papel tentando articular as ações de combate à pandemia, não podemos esquecer que assumiu como representante da medicina privada e seu objetivo era a desestruturação do SUS. Aquilo que fez de positivo pela saúde, no entanto, foi exatamente o motivo de sua exoneração e, depois de uma rápida passagem de Teich, Bolsonaro colocou à frente do Ministério o general Pazuello para promover o genocídio. Além da promoção da desarticulação de ações de combate à doença e distribuição de kits Covid composto por medicamentos comprovadamente sem eficácia contra ela, estima-se que a irresponsabilidade no trato da questão das vacinas e o atraso nas aquisições podem ter sido responsáveis por mais da metade das mortes. Com a mudança no comando do Ministério, por pressão do Centrão, a vacinação avançou, mas não podemos esquecer que o tal do Queiroga também é um representante da medicina privada e continuará a política de desmonte do SUS.

Na economia, Paulo Guedes assumiu com a missão de abarrotar os cofres do setor financeiro e aprofundar radicalmente o processo de desmonte do Estado. Antes mesmo da pandemia, sua política já destruía de forma acelerada o setor estatal, aprofundava a desindustrialização do país e penalizava duramente as parcelas mais pobres da população. Com a crise sanitária, Bolsonaro e Guedes apostaram na teoria da “imunização de rebanho” de Osmar Terra, e afundaram o Brasil de vez. Tal orientação não só nos levou a trágica marca de quase 600 mil mortes, mas também o número de falências de pequenas e médias empresas, bem como os dados da fome, miséria e desemprego são estarrecedores. O prolongamento da crise sanitária promovida pelo governo não só traz consequências trágicas como também enormes dificuldades para a retomada da economia a curto prazo.

Ainda que pudéssemos ter um cenário favorável de controle da pandemia com a expansão da vacinação, nenhum dos fundamentos políticos acima expostos seriam alterados por parte do governo. Continuariam destruindo a passos acelerados o país e o entregariam em 1º de janeiro de 2023 aos frangalhos. Mas como nos ensina a famosa lei de Murphy, nada está tão ruim que não possa piorar. As consequências diretas da crise sanitária sobre a produção de alimentos, a alta do dólar e, em especial, as exorbitantes elevações dos preços dos combustíveis começam a acelerar a inflação, em especial naqueles itens que compõem a mesa do trabalhador brasileiro.

Quanto à política de preços da Petrobrás, Bolsonaro e Paulo Guedes não moverão um dedo para mudar. No máximo, os dois irresponsáveis ficarão tentando jogar no colo dos governadores a responsabilidade pela alta, de forma que a escalada inflacionária, por este simples fator, provavelmente ficará totalmente fora de controle. Mas a situação é ainda mais grave, pois estamos vivenciando, a par da crise sanitária, a pior crise hídrica dos últimos noventa anos e os apagões energéticos já são dados como certos por especialistas, diante do negacionismo adotado pelo governo até agora. Tudo que Paulo Guedes tem a dizer a respeito é “a bandeira tarifária vai subir, e daí?”. Em síntese, o desastre econômico com mais um ano e meio de governo Bolsonaro será uma tragédia nacional com gravíssimas consequências sobre todos os setores e, em especial, sobre as camadas mais pobres. A opção dada pelo genocida é de que devemos comprar fuzil no lugar de feijão, afirmando que só deixa a Presidência morto, preso ou vitorioso. O vitorioso a que ele se refere é, obviamente, a possibilidade de um golpe de Estado, de forma que nos resta, para salvar o país do golpe ou da tragédia, colocá-lo na prisão o mais rápido possível, juntamente com toda sua quadrilha, a família de milicianos.

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