Não deu tempo do sangue na parede ser vingado de maneira brilhante

O dia 15 de outubro é uma data feita para homenagear aos professores, os mestres a quem todos e todas devemos o que nos tornamos e que, na maior parte das vezes, não recebe nem financeiramente e nem moralmente o que merecem.

Assim como cada professor se torna parte de seu aluno ao longo do processo de ensino-aprendizagem na educação formal, também em outros campos esta relação acontece, como entre treinador e atleta ou comandante e comandado.

A última das relações de aprendizado que citei acima acontece frequentemente nas forças armadas e, sobremaneira, nas Academias de Polícia, onde se formam os ditos “defensores da lei”.

Nestas instituições, muitos futuros policiais tomam contato pela primeira vez com algo que, lá na frente, será (infelizmente) frequente: as torturas. Por mais que se neguem, é de conhecimento público que desde a ditadura estes métodos são ensinados. Evidentemente que no tempo dos militares isso ocorria de forma mais aberta, mas estes atentados aos direitos humanos ainda acontecem.

Por falar em tortura, de maneira curiosa, o ex-chefe do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna de São Paulo, mais conhecido como DOI-Codi, o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra morreu nesta quinta-feira (15) em decorrência de um câncer.

Conhecido como Ustra, este cidadão foi responsável pela morte de, pelo menos 377 pessoas (Segundo dados da Comissão da Verdade) durante a ditadura militar, sendo lembrado sempre, por muitos ex-presos políticos, como um dos mais sanguinários torturadores do regime fascista que governou o Brasil por mais de 20 anos.

Mais do que saber de verdade quem foi Brilhante Ustra, é preciso que nossa Lei da Anistia de 1979 seja revista, ou minimamente reinterpretada. Colocar no mesmo “balaio de gatos” pessoas que estavam fora do país por lutar por democracia com os assassinos e torturadores do estado é algo revoltante!

Nossa democracia é ainda nova, um bebê se comparada a outros países, entretanto é injustificável que seres humanos que cometeram crimes comparáveis aos de guerra não sejam punidos, pelo contrário, tenham uma confortável aposentadoria do estado e tenham espaço para ficar contando suas “aventuras em defesa da ditadura” a quem queira ouvir.

Não é justo com as centenas de vítimas destes facínoras que a população em geral não saiba quem de fato era o Delegado Fleury, o Coronel Ustra, o Major Curió e tantos personagens fatídicos de nossa história. Eles precisam receber a denominação adequada do que realmente foram: torturadores e assassinos! Precisam ainda pagar, a exemplo de Pinochet, pelos crimes cometidos!

Este é um ponto que infelizmente o estado brasileiro ainda deixa a desejar: a verdadeira punição para os reais bandidos da ditadura militar brasileira! Não existe explicação plausível, até mesmo nos relatórios finais da combalida Comissão da Verdade existe a indicação para a punição destas pessoas.

Até lá, infelizmente, todos e todas que se revoltam com esta impunidade assistem a morte tranquila de um Ustra por dia, sem pagar pelos crimes e assassinatos cometidos um dia em nome de um regime bárbaro e injustificável!

No dia dos professores, que deveria ser uma data de se comemorar e lutar pela educação pública e de qualidade, tristemente chego a conclusão que o sangue de Carlos Danielli nas paredes do DOI-Codi não pôde ainda ser vingado, pois o estado brasileiro ainda não condenou os seus assassinos uniformizados.

Quanto a Brilhante Ustra, espero que seja condenado, ao menos pela história, pois pela justiça, não foi possível (infelizmente)…
Até a próxima!

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