“Não voto em Dilma!”

O Brasil tem pouco mais de quinhentos anos de idade do qual um quinto foi pintado pelo futebol. Quando o paulistano Charles Miller voltou de uma viagem à Inglaterra, o Brasil superava a fase Imperial e a sociedade se preparava para entrar num período de desenvolvimento que se fez no século 20.

O futebol se confundiu com as evidentes contradições de um país predominantemente agrário que estava se urbanizando pela burguesia e foi dominando o espaço político e econômico enquanto se formava uma classe trabalhadora assalariada que aos poucos aprendeu a se organizar pra combater a exploração do capitalismo brasileiro. Os times foram surgindo neste momento de efervescência e despertaram paixões na elite e na população em geral.

E logo a invenção esportiva inglesa mostrou sua cara para que se realizasse a primeira Copa do Mundo em 1930 em terras sul-americanas. Os europeus, por falta de recursos e preguiça mesmo, se recusaram a participar com exceção de alguns corajosos que resolveram cruzar o Atlântico. O resultado foi que os uruguaios passearam e venceram o torneio. Assim, as Copas se sucederam evidentemente sempre celebrando a festa dos melhores atletas de cada país participante porque era assim que deveria ser , com apenas o hiato imposto pela Segunda Guerra Mundial, felizmente superado pela união dos povos que desejavam a liberdade e a paz.

As Copas voltaram a acontecer, com a primeira em terras brasileiras, e retomaram o curso natural das inesquecíveis, acirradas e belas disputas no pós–guerra. O Brasil se constituiu na maior potência no esporte. O futebol definitivamente era parte integrante do cotidiano do país, fortalecido também pela evolução dos meios de comunicação que divulgavam o evento nas rádios, jornais e televisão. Nesse bojo, o país venceu governos autoritários e conservadores, além da repressão militar que tolheu as liberdades individuais e coletivas.

Depois da longa tempestade o país possibilitou ao brasileiro o poder do voto, de escolha e a chance de amadurecer politicamente ao ponto de eleger um trabalhador como líder e representante da nação. Uma vitória simbólica de um povo que sempre teve como marca o trabalho e a resistência às agruras da dura realidade. Tão simbólica como foi a vitória da primeira mulher presidente da República. São dois momentos da história recente que ofereceram ao país, cheio de contradições, o efetivo combate às desigualdades que ainda persistem. Um combate evidente a uma década que só não é percebido por quem grita nas ruas “Não vai ter Copa!”, um ruído recalcado que poderia se chamar “Não voto em Dilma!”, e revelaria a face de quem não suporta ver a classe trabalhadora com voz ativa, conquistando o espaço político e econômico, que se prepara agora para o grande festejo do esporte, tradição de um país mais liberto de antigas amarras e que não perde sua ginga.

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