Nem todos os heróis morreram de overdose

Embora muitos tenham sucumbido à pressão obscurantista, outros resistiram e continuam criativos, transgressores e atuantes em defesa da liberdade.

Chico Buarque recebe o Prêmio Camões | Foto: Rodrigo Antunes

Que o grande Cazuza (1958-1990) me perdoe, mas nem todos os nossos heróis morreram de overdose, para a felicidade geral da população. Embora muitos tenham sucumbido à pressão obscurantista, outros resistiram e continuam criativos, transgressores e atuantes em defesa da liberdade.

Como disse Chico Buarque, um dos nossos heróis vivos, em seu discurso ao receber o Prêmio Camões, depois de ter esperado por quatro anos, precisamos permanecer alertas e atuantes para que o Brasil que voltou nunca mais vá embora.

Mesmo porque os opressores sempre esquecem alguma semente, de plantações que se erguem na luta pela vida, pela paz e pela igualdade, em algum canto do jardim. Então renasce a esperança porque amanhã é outro dia e nada como um dia após o outro, “e não vale a pena ficar, apenas ficar, chorando, resmungando” (Jorge Maravilha, de Chico Buarque).

Jorge Maravilha

Afinal navegar é preciso para ir além do mar bravio e superar todas as tempestades, que por ventura se interponham no caminho da busca do saber, da cultura, da ciência, da vida. E sempre insistir na construção de um mundo novo.

Com sua resiliência, resistência e paciência, Chico Buarque mais uma vez nos redime ao apontar a necessidade de engajamento na defesa da liberdade e da diversidade humana. Ao receber o mais importante prêmio da literatura em língua portuguesa do mundo, Chico fez um discurso para lá de sensato. Discurso que rapidamente viralizou na internet e colocou o setor progressista da sociedade no ataque, que muitas vezes é a melhor defesa.

Com a sua clareza costumeira, seguiu a constante recomendação de Manuela d’Ávila sobre falarmos das nossas pautas e deixar a extrema-direita falando sozinha. E isso não significa submissão. Pelo contrário, aponta o caminho da superação desse mal que assola o mundo. Assim como ficam enfurecidos com a PL das Fake News. Por que será?

Transgressor, como em toda a sua carreira, o artista, escritor, compositor, dramaturgo e poeta provocou a fúria dos seres ignorantes do discurso fácil.

Veja o discurso do Chico Buarque na íntegra

Chico Buarque aponta o caminho da persistência, do caminhar juntos, assim meio guevarista com a proposta de endurecer sem jamais perder a ternura e o bom humor. É o nosso momento de sorrir, mas sem nos desligarmos da luta aflita por um mundo mais humano, justo e solidário.

Viva Chico Buarque, um dos grandes heróis vivos do país e do mundo. E como disse Pablo Milanés no programa Chico e Caetano, da Globo, em 1986: “Chico que não é da Itália, é de Hollanda, mas é do Brasil”, aliás é do mundo.

Esse grande herói da cultura mais uma vez dá a cara a tapa para vencer a ignorância e o obscurantismo. Porque “se é perigoso a gente ser feliz”, como ele e Edu Lobo cantam em Beatriz e “a felicidade é uma arma quente”, como cantavam os Beatles. Então, que tal um samba de Chico Buarque para espantar os maus agouros e trazer o brilho nos olhos de volta.

Que tal um samba?

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