No reino da hipocrisia

Não e novidade. Gente das mais diversas estirpes, inclusive com passivo registrado na matéria, sazonalmente esbraveja contra a corrupção sem entretanto apontar o remédio seguro para erradicar a praga – particularmente uma de suas modalidades mais saliente

Hipocrisia pura. Primeiro, porque essa gente apaga da memória atos escusos de sua própria lavra ou coniventes posturas diante de verdadeiros escândalos praticados por aliados. É o caso de oposicionistas atuais, que quando governistas perfilados nas hostes de FHC nada disseram quando o próprio presidente chegou a ser pilhado em conversa telefônica mais do que suspeita a propósito do processo de privatização de empresas estatais de telecomunicação, conforme circunstanciada denúncia da revista Carta Capital à época. Esses emperdenidos senhores, apostando na chamada memória curta da opinião pública, hoje posam de arautos da moralidade pública. Apenas por alguns dias e manchetes de jornais, pois logo em seguida se aquietam tamanha a inconseqüência do que dizem.


 


 


Segundo – e mais importante – porque via de regra tergiversam sobre medidas eficazes de efetivo combate à corrupção, especialmente a reforma política e eleitoral. Seus partidos, dentre os de maior representação na Câmara e no Senado, ocupam a linha de frente da resistência a qualquer proposta de reforma de sentido democrático e moralizante. Até defendem alterações na legislação, “para inglês ver”, como se dizia antigamente; ou, quando de vera, com o intuito de restringir a democracia (como a cláusula de barreira e a proibição de alianças partidárias para os pleitos proporcionais).


 


 


Na hora do vamos ver fogem de duas proposições a um só tempo essenciais e indissociáveis: o financiamento público das campanhas eleitorais e o sistema de candidaturas em listas prefixadas pelos partidos. De uma só tacada dois golpes profundos na influência nefasta de interesses econômicos em geral escusos e no personalismo excarcerbado que conspira contra o fortalecimento dos partidos. Se adotadas esses dois expedientes, as campanhas se tornariam menos desiguais; e o eleitor seria chamado a votar em partidos (e não em indivíduos), que por seu turno teriam que se apresentar com suas propostas programáticas.


 


 


Fora disso, discurso anticorrupção não passa de demagogia. E seus paladinos de ocasião tão somente contribuem para a sobrevivência do velho e desgastado reino da hipocrisia.

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