Nossas vidas no trânsito
Domingo, madrugada. Dirigia pela Rua do Catete, na Zona Sul do Rio, quando uma enorme bola de gás luminosa surgiu por trás de um semáforo anunciando a blitz da Operação Lei Seca. Uma fila de carros já se formava naquele ponto, enquanto as equipes profissionais selecionavam os motoristas que deveriam prestar esclarecimentos. Entre eles, eu.
Publicado 08/01/2014 14:49
Desci do carro, fui bem atendida pelos agentes e convidada a assoprar o bafômetro. Uma atitude normal, simples, protocolar, que revelaria em instantes o nível zerado de álcool em meu sangue. Há uma simbologia muito forte em torno daquela movimentação sobre o etilômetro, muito maior que apenas testar a responsabilidade no trânsito. Diferente de mim, haviam motoristas alcoolizados por ali. Grave.
Para alcançar a meta determinada pela Organização das Nações Unidas (50% de redução de acidentes no trânsito até 2020), o Brasil tem avançado. Desde a vigência da lei seca, em 2008, o país dá passos positivos no combate à maléfica combinação de bebida alcoólica e o volante, causa maior de todas as perdas de vidas em nossas estradas.
No Rio, por exemplo, de acordo com dados da ONG Rio Como Vamos, a lei conseguiu reduzir de 846 acidentes desta natureza para 741, se comparados os primeiros semestres de 2012 e o mesmo período de 2013, com queda de 142% (de 324 para 187) no total de mortes no trânsito fluminense daquele período.
Ainda assim, famílias inteiras vêm sendo desfeitas por conta da condução sob os efeitos do álcool. O Instituto Avante Brasil mostrou que as mortes no trânsito no Brasil aumentaram quase 65% em 10 anos. Só no ano passado 60.752 pessoas faleceram no trânsito, sendo pedestres e motociclistas as principais vítimas.
É preciso que os governos atentem para políticas públicas que reafirmem a lei em vigor, salvando cada vez mais vidas. Uma máxima que precisa ir além da fiscalização, com campanhas educativas chegando em escolas, casas noturnas e clubes, locais onde a nova geração seja esculpida com um olhar mais cauteloso sobre o trânsito.
Naquele dia, ter conseguido chegar em casa de forma tranquila não foi fruto apenas de minha responsabilidade como motorista, mas também daqueles que trafegaram comigo pelas ruas. É uma consciência social que precisa ser ampla e irrestrita. Respeitar a lei me deu a possibilidade de vivenciar novos domingos e outras madrugadas. Ainda bem.