Novos levantes no Iraque

Os Estados Unidos achavam que estavam conseguindo empatar a guerra de ocupação do Iraque, pois o número de ataques diários havia caído para uma média de 40 ataques (já havia chegado a mais de cem ataques por dia). Na última semana, a resistência mostra no

As milícias da resistência


 


Na semana que passou, no Sul do Iraque, especialmente na província de Basra, região fortemente habitada pelos muçulmanos xiitas, foi uma explosão de violência sectária e de enfrentamento com as tropas de ocupação. Tal violência foi presenciada também na Capital, Bagdá, quando muitas pessoas foram mortas e diversos atentados foram cometidos, especialmente num dos grandes oleodutos que escoava petróleo ao exterior. Para que se tenha uma idéia, antes da guerra de ocupação, o Iraque produzia 2,3 milhões de barris por dia e hoje apenas 1,6 milhões. Na semana que passou, em função desse grande atentado, a produção diária caiu para apenas meio milhão de barris, ou seja, um terço do total (1).


 


Diversos grupos atuam no Iraque hoje e todos eles têm interesses conflitantes. Como já dissemos aqui em colunas anteriores, a questão, insisto, não é absolutamente religiosa, ainda que tenha componentes religiosos. A questão é política. Uma parte significativa dos líderes da comunidade xiita decidiu apoiar a ocupação. Outra parte aderiu à resistência que procura ser laica, ampla, plural, envolvendo xiitas e sunitas.


 


A mídia grande é toda pautada pelas agências americanas e estadunidenses de notícias que conseguem manter correspondentes no Iraque, em meio à guerra. No Brasil em particular, nosso grandes jornalões recebem esses despachos e os reproduzem aleatoriamente sem nenhum critério de verdade científica, sem ouvir o outro lado. Quando surgem ataques feitos pela resistências, acabam creditando isso apenas ao grupo Al Qaeda ou ao clérigo vacilante Moqtada Al Sadr, que tem seus projetos pessoais e havia decretado uma espécie de cessar fogo desde agosto do ano passado com sua milícia chamada Exército Méhdi. Fala-se que ele quer ser o grande líder do Iraque após a eventual saída das tropas americanas.


 


No entanto, hoje um dos maiores líderes em atuação à frente da resistência, uma espécie de secretário-geral do Partido Socialista Árabe Baath, é o general Izzat Ibrahim Al Duri, o homem mais procurado no Iraque pelas tropas norte-americanas e pelo exército iraquiano. Izzat coordena não só o comando nacional do Baath, mas outras forças políticas que atuam pela libertação do Iraque. Uma dessas instituições, muito forte, se chama Associação dos Clérigos Muçulmanos do Iraque, que reúne quase todos os líderes religiosos islâmicos do país, sejam eles xiitas ou sunitas.


 



A mídia ocidental quer fazer crer que os Estados Unidos estariam ganhando a guerra, para facilitar a vida de Bush e dos republicanos em ano eleitoral na América. Não é verdade. Não tem como ganhar essa guerra. Já esta perdida. É simplesmente uma questão de tempo e de uma avaliação de como sair sem que a oposição e a resistência reassumam o poder político central. Querem fazer crer que as ações da resistência são desconectadas, sem um centro e um comando único. Também não é verdade. Há um centro e um comando nacional unificado, ainda que tenham dificuldades. Mas estão vencendo as batalhas. Do contrário, como seria possível tantos ataques, enfrentando 150 mil homens do maior e mais bem treinado e bem mais equipado exército da terra? Se não houve articulação, se as ações não fossem concatenadas, como teriam eliminado quatro mil soldados norte-americanos em cinco anos?


 



O maior sintoma de que a resistência voltou para a ofensiva total, foram os acontecimentos da semana na chamada Zona Verde da Capital Bagdá, considerada, no passado, a região mais segura do país, onde trabalham embaixadores e diplomatas, o “governo” títere iraquiano encabeçado por Nuri Al Maliki. Só na embaixada dos Estados Unidos nessa região, trabalham quatro mil pessoal, entre corpo diplomata e mais seguranças e soldados (essa região tem sete quilômetros quadrados apenas).


 



A novidade foi mais de 450 ataques só em uma semana no Iraque, e parte desses, com morteiros pesados, nessa região super protegida. O mais interessante, que foi registrado por uma revista alemã que acompanhavam uma delegação de deputados do Bundestag, o parlamento da Alemanha. Dois desses morteiros foram disparados na própria embaixada dos estados Unidos. Tanto que a revista Der Spiegel, deu a sua manchete assim: “Americanos sob cerco na Zona Verde”. Quem poderia imaginar isso no local mais seguro do Iraque?


 



O embaixador americano no Iraque, Ryan Crocker, determinou de imediato a evacuação
Da embaixada e sua transferência para outra localidade na Zona Verde. Mas, para ironia da história, a imprensa acusou que a mudança é temporária e o novo local foi declarado em total sigilo.


 


E viva a resistência do povo iraquiano!


 


Nota


 


(1) Agradeço ao editor Internacional do jornal Hora do Povo, Nataniel Braia, pelo diálogo proveitoso que tivemos que propiciou a elaboração da presente matéria, bem como ao artigo “Ocupação de Bush sob cerco na Zona Verde”, do mesmo jornal, edição nº 2.654 de 2 e 3 de abril de 2008, página 7.

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