O Abismo

Os números indicam uma grande recuperação da economia brasileira. O mercado interno aquecido, as exportações ascendentes, recordes de produção. Em conseqüência, geração de empregos na economia formal, além das reservas que alcançam 200 bilhões de dólares.

Diz-nos Paulo Nogueira Batista que a situação do país recebe elogios cada vez mais enfáticos. De outros governos, da revista “The Economist”, do “Wall Street Journal”. O “Guardian” chega a afirmar que “o país do futuro está finalmente chegando”.
Uma referência ao escritor austríaco, Stefan Zweig, exilado no Brasil, perseguido pelo nazismo. É dele a frase antológica “Brasil, país do futuro”, título de um dos seus livros.
P


orém, Paulo Nogueira Batista, alerta para alguns possíveis problemas no futuro. Um deles é a sobrevalorização do real como elemento criador de dificuldades. Ou, como ele afirma, o lado problemático do sucesso.


 


A força da nossa moeda reflete a situação favorável e as perspectivas da  economia. Assim, o real nos últimos 12 meses, valorizou-se frente ao dólar, ao euro, ao franco suíço, etc. Por outro lado, verifica-se a realidade atrativa das taxas de juros, das mais elevadas do planeta.


 


Em conseqüência desses e outros fatores, há um déficit em nosso balanço de pagamentos. As importações estão crescendo mais que as nossas exportações. Na soma dos últimos 12 meses, essa diferença negativa já representa a cifra de 9,5 bilhões de dólares.  


 


Outro aspecto importante, e igualmente preocupante, é a tendência inflacionária, mesmo sob controle das autoridades. No entanto, uma das iniciativas adotadas para combater a alta dos preços, foi a elevação das taxas de juros, dificultando o processo de desenvolvimento das forcas produtivas do país, indutoras do crescimento efetivo.


 


Situação distinta do capital especulativo, que lucra enormemente com taxas tão elevadas. Mesmo assim, o Brasil apresenta-se como um boa nova no contexto mundial. Mas, algo continua agredindo esse ciclo econômico positivo.


 


O Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea), em relatório sobre as  desigualdades no Brasil, conclui que os 10% mais ricos detêm 75% da riqueza nacional. Números que expõem males estruturais e um abismo secular entre um seleto grupo de aristocratas financeiros em detrimento da  maioria da sociedade. Dos empresários, trabalhadores e classe média.

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