O Brasil. Sobre estratégia e miséria

É muito comum ouvirmos neste início de ano alguns termos compostos do tipo “O desafio da nação para o ano” etc. Mas qual seria o verdadeiro desafio da nação? Será que seria o próprio desafio de ser nação propriamente dita? E o que impede de fato de deslancharmos como tal?

Combater a inflação diante da grande possibilidade de mudança de rumo na política monetária norte-americana parece ser a mais óbvia resposta. Uma majoração da taxa de juros nos EUA poderia ter efeitos traumáticos em nosso país, pelo menos no curto prazo. E, na verdade, as preocupações com o curto prazo são o que mais importa em um país cujo sinal de paralisia de objetivos é a própria mentalidade curto prazista.

Negação da estratégia sob os auspícios da “estabilidade monetária” e, claro, diante da pauta proposta (e imposta) pela mídia. O medo do diferente leva à pasteurização do debate. Debate este que tem tudo para ser demarcado entre quem combate de forma mais eficiente (ou não) a inflação. O marco histórico de tudo isto pode muito bem ser delimitado no período que vai desde a eleição e Collor em 1989 até o golpe de misericórdia aplicado em 1994 com o anúncio do plano Real.

Em meio a isto tudo ocorreu a contrarrevolução na ex URSS e no Leste Europeu. O que vivemos hoje é plena causa e consequência deste tenebroso processo histórico que nem a crise iniciada em 2008 foi capaz de reverter, pelo menos na Europa e no Brasil. Debatemos hoje a mesma pauta que elegeu FHC… “combate à inflação”. O problema é o combate à inflação ou o combate à inflação pelo remédio dos juros e do câmbio é apenas uma alegoria que utilizo para problematizar sobre questões mais de fundo?

Certamente que intento problematizar questões mais de fundo. Falo aqui em negação da estratégia implícita na pauta do curto prazo. E a vitória da pauta do curto prazo é expressão do que chamo de “miséria de pensamento nacional e estratégico” que acomete nosso país. Que esta verdade nada abstrata continue a se refletir somente no nível do debate político, mas que seja expressa – também – no atual estágio que se encontra a violência (barbárie) urbana. E não deveria ser fora de cogitação que esta situação de caos ser inversamente proporcional a atual taxa de 18% na relação com o PIB.

Desta forma continuaremos a sermos reféns tanto da busca pelo próprio rabo na chamada “estabilidade monetária”, enquanto sentiremos o quanto somos reféns da instabilidade social que esta “estratégia” nos impõe no chamado “fascismo nosso de cada dia”. O problema é que Moloch é insaciável ao qual tudo se sacrifica, e torna-se impotente para reprimir, legalmente, o crime – recorrendo ao crime da repressão terrorista. Daí o fascismo ter diferentes expressões: o fascismo da política monetária, o fascismo do oligopólio midiático, o fascismo da polícia e fascismo do crime organizado. Tudo expressão nua crua da negação da estratégia e da miséria intelectual que vivemos.

A esperança é a última que morre? Creio que não. Para um país com o potencial do nosso, a esperança que morre nunca será a última. Tem ainda a antepenúltima e a penúltima. Ao nosso campo político cabe não reduzir a estratégia a um amontoado de objetivos corporativos e onde os foros de debate sejam imprensados por meras representações corporativas sociais. O buraco é mais embaixo. É de nação, desenvolvimento e planejamento que devemos falar.

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