O encontro de Mandela com Fidel

Em seu discurso na terça-feira, 10, nos funerais do Nelson Mandela, o presidente de Cuba, Raúl Castro, relembrou a visita do homenageado ao seu país, em julho de 1991. Na época, Mandela foi recebido por Fidel Castro e lhe agradeceu o apoio à luta sul-africana. Mandela e Fidel compartilharam a tribuna na comemoração de 26 de julho, em Matanzas.

Em abril de 1994, Mandela assumiu a presidência da África do Sul e, em novembro de 1994, Angel Dalmau Fernández apresentou suas credenciais como primeiro embaixador de Cuba naquele país. Nelson Mandela fez ao embaixador três perguntas: Como está Cuba? Como está meu irmão Fidel? Como está Teófilo Stevenson?

Mandela foi boxeador quando jovem e, durante quase suas três décadas de preso político na ilha de Robben e em outros cárceres, foi seguidor da carreira do cubano Stevenson, o melhor boxeador amador naquele período. Em julho de 1991, quando visitou Cuba, Mandela havia conhecido pessoalmente Fidel Castro e Teófilo.

Sobre essa vista, Mandela comenta com o escritor Richard Stengel, seu colaborador na biografia “Longo caminho para a liberdade”:

“Fidel é um sujeito realmente impressionante… Discursamos em um comício juntos. Como é o nome daquela cidade, rapaz? Uma multidão como aquela em um país pequeno? Era uma plateia fantástica, uma multidão; acho que havia cerca de 300 mil pessoas. Todo mundo sentado em cadeiras. Ele falou durante cerca de três horas sem um pedaço de papel, citou números e demonstrou que a América estava falida, sabia? E nem uma única pessoa saiu, exceto para ir ao banheiro e voltar… Eu fiquei muito impressionado com Fidel e também com sua simplicidade – é um sujeito muito simples. Quando… eu estava desfilando com ele de carro aberto pela cidade, ele apenas sentou e cruzou os braços, e eu era a pessoa que estava acenando para a multidão… Depois de discursarmos, nós… entramos no meio da multidão; ele saiu cumprimentando todo mundo… Eu reparei que ele cumprimenta… uma pessoa branca, depois vai cumprimentar alguém de cor. Não sei se aquilo foi puramente acidental ou intencional. [Ele era] muito caloroso, conversava com as pessoas por algum tempo… Foi então que percebi que aquele entusiasmo e todos aqueles acenos na verdade não eram para mim enquanto estávamos desfilando de carro pela cidade; eram para Fidel… Ninguém estava nem um pouco interessado em mim [risos]… fiquei impressionado com ele”.

O relato está no livro “Conversas que tive comigo”, de Nelson Mandela, de 2010, prefaciado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O único negro a chegar à Casa Branca diz que suas primeiras ações políticas “aconteceram nos meus anos de faculdade, quando participei de uma campanha a favor do desinvestimento, no esforço para pôr fim ao apartheid na África Sul”, quando já admirava Mandela.

Mais de duas décadas depois, recém-eleito senador, visitou a África do Sul e a antiga cela do líder da luta contra o racismo, na Ilha Robben. Antes de ser eleito presidente norte-americano, Obama conheceu pessoalmente Mandela, e conta que “desde então conversamos ocasionalmente por telefone. Geralmente, nossas conversas são breves – ele está no crepúsculo dos anos, e eu estou às voltas com a intensa programação que meu cargo exige. Mas nessas conversas sempre há momentos em que brilham a gentileza, a generosidade e a sabedoria desse homem. Esses momentos me recordam que, subjacente à história que foi construída, existe um ser humano que escolheu sobrepor a esperança ao medo – sobrepor o progresso às prisões do passado. E me recordam que, mesmo depois que se tornou uma lenda, conhecer o homem Nelson Mandela é respeitá-lo ainda mais”.

Autocrítica

No artigo anterior, afirmei, erroneamente, que Nelson Mandela era cidadão paulista por iniciativa do deputado Vital Nolasco. Na verdade, Mandela é cidadão paulistano, por iniciativa do vereador Vital Nolasco, e foi homenageado pela Assembleia Legislativa paulista, por iniciativa do deputado Jamil Murad, ambos do PCdoB. Peço desculpas aos leitores, ao Vital e ao Jamil, pelo erro.

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