O futebol brasileiro entre o passado e o futuro
Escutei uma frase, atribuída ao ex-jogador Tostão, que me parece altamente pertinente para o momento. “O futebol brasileiro precisa voltar às suas origens e reencontrar o seu caráter lúdico.”
Publicado 10/07/2014 14:09
Provavelmente o tricampeão não falou isso por mero saudosismo ou insinuando um retorno à Idade do Ouro para o futebol brasileiro. Talvez passasse pela cabeça dele a ideia que estejamos vivendo a Idade do Bronze no nosso futebol.
A impressão que tenho é que o bom mineiro refere-se à necessidade de redescobrirmos o caráter lúdico, alegre e “debochado” que caracteriza a história do futebol pentacampeão.
A paixão nacional precisa ficar diante de um espelho, conhecer a si mesmo, tirar a fantasia “made in Europa”, despojar a arrogância, calçar o chinelo da humildade e pensar no futuro.
Não falo de amanhã, do próximo mês ou do próximo ano. Falo do futuro.
Em um mundo onde tudo transforma-se em mercadoria, o futebol brasileiro precisa ser desmercantilizado. Precisa ser transformado em diversão e em alegria. Vai que isso dá dinheiro?!
Precisamos “reencontrar” as pernas tortas de Garrincha, a marra de Heleno de Freitas, a cumplicidade de Nilton Santos, o entrosamento de Coutinho, Durval, Mengálvio, Pelé ePepe, a versatilidade de Zagalo, a poesia de João Saldanha, a explosão de Jairzinho.
Contudo, não estou acastelando a ideia de que estamos vivendo uma época de terra arrasada, onde nada presta.
Como saldo positivo da Copa do Mundo, temos a maior e melhor estrutura futebolística do planeta. São, no mínimo, 15 estádios moderníssimos. 32 centros de treinamentos com padrão internacional.
Continuamos sendo um país que produz muita mão-de-obra qualificada para o cenário futebolístico internacional. Afinal, que país tem uma dupla de zaga formada por David Luís e Tiago Silva? Que tem zagueiros como Dante, Gil, Miranda e os jovens Dória e Bressan? Volantes como Ramirez, Paulinho e Hernanes? Goleiros como Jefferson, Vitor, Fábio, Diego Alves ou Diego Cavalieri? Meias como Ricardo Goulart, Otávio, Anderson Talisca e Everton Ribeiro? Que tem jovens talentos como Neymar, Lucas, Felipe Coutinho e Oscar? E as eternas promessas Ganso e Pato?
Provavelmente tenhamos escassez de matéria-prima em três posições: lateral-direito, lateral-esquerdo e centroavante, o típico 9. Mas, nesta Copa do Mundo, vi a Holanda, a Alemanha e a Argentina “improvisarem” nesta posição, escalando pontas, zagueiros ou falsos-para cumprir essa função tática. A inteligência de um treinador reside vneste aspecto. Fazer de um limão, uma limonada.
O fato concreto é que o futebol brasileiro precisa se (re) orientar diante dos recentes fatos. Mais do que dados objetivos, simples estatísticas ou motivo de zoação entre os torcedores, os apaixonados e os profissionais do futebol precisam compreender o simbolismo e as derrotas sofridas para o Mazembe, Tolima e Raja Casablanca, além, é óbvio, dos dois vexames vividos pelo Santos diante do Barcelona.
O fato mais grave ocorreu na histórica derrota para a Seleção da Alemanha na última terça-feira, dia 08 de julho de 2014, o que me fez chegar ao cume da minha perplexidade.
Perplexidade iniciada nos anos 1990, com o que ficou denominado de Era Dunga.
Perplexidade que me incomoda toda vez que eu escuto o jargão “O que importa é o resultado” ou quando ouço a frase “É melhor ganhar feio do que jogar bonito e perder.”
Nessa esteira foi cunhada uma frase, de autoria de Carlos Alberto Parreira, que é uma verdadeira pérola. É uma daquelas frases que certamente fica para a história mundial do futebol brasileiro. “O gol é apenas um detalhe.”
Chega! Basta! Está na hora de o futebol brasileiro ser posto no seu devido lugar. Sem vira-latisse, aprendamos com a experiência alheia, mas, sobretudo, aprendamos com a nossa.
Chegou a época de construirmos o futuro do nosso futebol, desvencilhando-o das amarras do presente e sem desconsiderar a ludicidade do passado.
Em tempo: Sobre a acachapante derrota da Seleção Brasileira para a da Alemanhatenho dois breves comentários.
1) Que não haja um novo Barbosa;
2) Na seção ‘futebol’ do meu blog tem alguns textos que expressaram a minha preocupação sobre o futebol brasileiro e o progresso vivido no futebol alemão.