O império visto por dentro
Temos tido surpresas interessantes com a última (espero que seja realmente a última) imagem da versão imperialista da nação norte-americana.
Publicado 23/06/2010 19:41
A partir das repetidas catástrofes propiciadas por Bush no seu governo – brincando de cabra-cega com o seu antigo aliado Bin Laden; invadindo países com base em mentiras oficiais (denunciadas pela CIA e outros); sabendo do provável ataque aéreo de terroristas, mas sem tomar medidas de proteção por não saber onde iriam ocorrer (cic.declaração de Bush televisionada); enriquecendo empresas multinacionais na destruição e reconstrução dos países invadidos e tantas outras formas de terrorismo de estado – o mundo começou a respirar com o desenvolvimento da campanha eleitoral de Obama que trouxe a público os valores entorpecidos da história dos Estados Unidos homenageando alguns dos seus heróis assassinados que contrariaram os preconceitos e as tendências destruidoras da estratégia imperialista acoplada ao desenvolvimento nacional.
Obama expôs, a si e à sua família, como humanista decidido a limpar a imagem cruel que os Estados Unidos mantém em todo o mundo. Brilhantes intelectuais defensores ou não do sistema capitalista revelaram conhecimento da realidade planetária alertando para os problemas da destruição ecológica e a perversão do relacionamento com os seres humanos que continuam a ser espoliados no Terceiro Mundo e nas áreas pobres dos países desenvolvidos, escravizados, estuprados, vendidos aos pedaços, para enriquecer uma elite egoísta e criminosa que concentra em suas mãos o poder militar e econômico de todo o planeta. O mundo intelectual foi animado pela possibilidade de encontrar pontos comuns na interpretação dos problemas que ameaçam a humanidade. Foi reavivada a confiança nos processos de aliança de interesses coletivos, de respeito pelas diferenças culturais e outras que têm desunido os povos, de convergência ecumênica entre as diversas religiões e filosofias de vida, de unificação dos propósitos mais nobres dos militantes sociais e políticos – a PAZ almejada por todos os povos do planeta.
Aos poucos, em oposição, recomeçaram a surgir expressões mais reacionárias que avivaram as dúvidas e os oportunismos de conservadores inseguros e despertaram iniciativas de crueldade em mentes desarvoradas. Um exemplar do marketing que trabalhou na campanha eleitoral do Partido Democrata revelou em entrevista a TV Globo que era antiga a idéia de eleger alguém com convicções semelhantes a dos eleitores populares, que pudesse usar as frases que despertam confiança na gente comum (e ingênua). E encontraram Obama. Ficou a dúvida se a proposta cínica foi feita ao candidato ou se ele faz parte dos ingênuos como a maioria dos eleitores.
Com a memória dos assassinatos históricos nos Estados Unidos que, por muito menos que as promessas de diálogo internacional feitas por Obama, foram eliminadas para permitir a continuidade da vocação imperialista do poder norte-americano, era de se esperar que o novo presidente fosse pressionado e ameaçado. As suas palavras ao receber o premio Nobel da Paz defendendo as guerras justas (linguagem de Bush), revelaram que a corda estava no seu pescoço.
O mundo viu surgir um Obama democrata para efeito de transformação interna da sociedade norte-americana – com a luta para dar um espaço de cidadania aos pobres que precisam de tratamentos de saúde, e mais recentemente, com a dignidade com que tem exigido da empresa britânica de petróleo para que cumpra as leis do Estado americano suportando os custos do desastre criado pela sua incompetência ao inundar o oceano de óleo que dizima a flora, a fauna e a produção de alimentos em todo o sul do país. E, um Obama imperialista que espalha as bases militares por todos os continentes, que continua o caminho de Bush para derrotar os paises árabes e ficar com o seu petróleo tratando como inimigos os que se defendem, aumentando o numero de soldados que vão patrioticamente morrer no Afeganistão. Até quando será possível manter tal dubiedade? O general das forças norte-americanas no Afeganistão já exprimiu o seu desprezo pela orientação da Presidência de Obama. Será ato isolado? Cheira a golpe.
Chalmers Johson, aposentado da CIA que publicou anteriormente Blowback (explicando porque os Estados Unidos foram e serão agredidos em retaliação à sua política expansionista), põe em dúvida o futuro do império fundado em forças militares e fantasiado de missionário. Chegou à conclusão de que “o livro “Venas abiertas em América Latina”, de Eduardo Galeano, que o presidente da Venezuela ofereceu a Obama, é muito interessante “para apresentar uma realidade que explica porque os norte-americanos são odiados pelos povos em desenvolvimento.” E esclarece que o elevado custo, financeiro e humano das invasões imperialistas praticadas vai levar os Estados Unidos à insolvência. “Não será falência porque não se vai pretender compensar as vítimas”.
Tal como ocorreu quando a campanha de Obama inspirou as novas alianças, o ex-funcionário da CIA começa a dar valor aos textos produzidos por revolucionários.
Mesmo que a escolha de um Presidente, negro e democrata, que sirva de escudo para o poder do eixo do mal imperial continuar a agir, as sociedades foram abaladas pelo aceno da PAZ e do diálogo racional e construtivo entre os povos. Como escreveu o mexicano Octávio Paz, “quem viu a esperança não a esquece”. O caminho alternativo foi aberto e Chalmers, ex-funcionário da CIA, reconhece que só será viável se “construído de baixo para cima pelas pessoas instruídas”. Pelos cidadãos conscientes, digamos mais precisamente.