O laboratório psico-politico do capitalismo

A velha pretensão de construir um “FRANKESTEIN”, com todas as características de um homem de princípios, humanista e firme para liderar a humanidade, domina a elite pensante do capitalismo global. Experimentaram com Gorbatchov que se ofereceu para corrigir as falhas que minavam a estrutura soviética com discursos mascarados de orientação socialista que disfarçavam os atos de submissão ao imperialismo.

Os capitalistas “democratas”, com isso, aprenderam duas questões básicas: 1º) as massas precisam participar do esforço de substituição da imagem do novo programa para vencer a oposição da direita tradicional; 2º) as metas apresentadas devem estar mais próximas de um discurso socialista para satisfazer a idéia de democracia, que seja demagógico, mas de alto nível.

As versões sociais de poder defendidas pela elite – importantes famílias, dinheiro ou propriedades, tradições históricas, capacidade devido à “herança mental”, nível de instrução superior, e outros complexos de superioridade fartamente usados por racistas e oligarcas – estão totalmente desmoralizadas no mundo moderno que destronou a velha nobreza e vem derrubando os que são maus gestores das suas grandes empresas. Acompanhando esta derrota da direita política a nível intelectual, todas as ações que traduzem exploração do trabalho, abuso de poder, opressão pela força bélica, oposição ao exercício dos direitos humanos, preconceitos e discriminações sociais, que há duzentos anos a esquerda vem denunciando em suas lutas contra o imperialismo e os malefícios do sistema capitalista, passaram a ser condenados pelos “democratas” que, em um processo de modernização, se afastaram da direita cristalizada para poderem adotar o que a ciência e a história comprovam de mil maneiras.

Será preciso aceitar que as mudanças ocorram no sentido da realidade que está cada vez mais visível, mesmo para aqueles que antes lutavam para que nada mudasse abalando a classe a que pertencem. Ainda bem que muitos começam a enxergar agora, no segundo milênio, o que antes negavam por ignorância ou oportunismo. Mas o orgulho de alguns impõe novas artimanhas para evitar que sejam obrigados a ter a coragem de reconhecer que antes estavam no caminho errado quando se opunham aos princípios socialistas. Convenceram-se de que com as técnicas utilizadas na área da publicidade para dinamizar o chamado “mercado livre”, que manipula a consciência dos consumidores com as armas da psicologia aplicada, os espertos marketeiros que assessoram os grandes candidatos do sistema global rastreando os sentimentos e as palavras que são bem recebidas pela população na sua maioria (para não dizer a ideologia que traduz a consciência popular). Aceitam que a maioria tem razão, não a elite que age apenas por interesse particular. Vão em busca de um candidato não comprometido com o establishment marcadamente elitista e anti-democrático, e que desempenhou papel de líder comunitário e social em defesa de causas populares habitualmente discriminadas.

Peter Giangreco – estrategista de marketing no Partido Democrata norte-americano, fez um relato completo sobre como Barack Obama foi escolhido para servir de “frankstein” como canditato à presidência dos Estados Unidos (entrevista concedida à Globonews, ao jornalista Ricardo Lessa, dia 23.01.10 no programa “Conta Corrente”). Para quebrar a imodéstia de construtor do herói, fez várias referências à capacidade de Obama, de natural líder carismático que garantiu o êxito eleitoral sendo negro, jovem, de carreira política recente. Afirmou que a estratégia foi a de adotar uma campanha “de baixo para cima” utilizando a solidariedade natural da população desgostosa com a política norte-americana de guerras, há vários anos apresentada por maus candidatos que desmobilizavam os eleitores. Recorrendo à internet e à publicidade gratuita que as pessoas começaram a fazer no seu dia a dia, animadas com a possibilidade de verdadeira participação popular na eleição, criaram uma rede para acompanhar esta comunicação popular espontânea com agentes coordenadores “jovens que trabalhavam por pouco salário” e material escrito e gravado em DVD com “temas e linguagem adequados a captar a simpatia da maioria”. Explicou que esta técnica publicitária já é amplamente utilizada para promover a venda de produtos vários no mercado comercial. Dessa forma captaram o apoio popular que o Partido Democrata precisava, e uma farta arrecadação de recursos para financiar a campanha. Em resumo, copiaram as campanhas de esquerda que no mundo inteiro são feitas para concorrer com a direita que detém o poder de comunicação e os recursos de financiamento dos respectivos partidos.

Isto pode ser considerado como fraude, manipulação das consciências e traição à boa fé dos apoiantes ou foi uma valente e heróica maneira de abrir espaço para alterar os conceitos do povo americano (e dos seus políticos democratas incluindo o Presidente), mudando de lado ideológico e adotando posições mundiais de esquerda? Giangreco disse que todo o trabalho de marketing foi realizado à semelhança de “químicos em laboratório”. Imagino que a cabeça da elite que acredita nas mágicas da publicidade, não dê para analisar de maneira mais profunda o esforço de “parecer” de esquerda. E fico com a lembrança do filme “Fantasia” do Disney, quando Mickey faz a mágica para transportar a água sem necessidade de trabalhar e vê-se num dilúvio por perder o controle da situação.

Os movimentos da história vão mais além dos coelhos tirados da cartola. Têm dinâmica própria e abrem caminhos inesperados. Hoje Obama desilude grande número dos que pensaram que os discursos eleitorais revelavam o seu pensamento próprio – contra a guerra no Oriente Médio, contra a prisão de Guantanamo, a favor de um relacionamento digno com os governos que Bush condenava como inimigos, com respeito pela Paz Mundial. Para outros, não importa que Obama vire a casaca como fez quando recebeu o prêmio Nobel da Paz, porque grande parte da humanidade não aceita ser traída na sua confiança e tem capacidade para encontrar outros líderes para prosseguir o seu caminho pela verdadeira Paz que deriva do respeito pelos Direitos Humanos em todos os sentidos. São os líderes que encarnam a vontade popular, não os que pretendem impor uma nova vontade. Estratégia é o encadeamento lógico dos valores dominantes para atingir uma meta, não é a mistura química de palavras cativantes para enganar os povos. Até mesmo Obama poderá continuar fiel às suas mensagens favoráveis à Paz e ao respeito pela humanidade. Os seres humanos evoluem, só retrocedem os que se vendem por um punhado de lentilhas, e acreditam que a publicidade traça o destino de um povo.

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