O pavilhão brasileiro e o nacionalismo
Quatro dias depois de proclamada a República, foi instituída a bandeira brasileira, adaptação da bandeira anterior, do Império – suas cores verde, amarela, azul e branca simbolizam as famílias reais de que descende D.Pedro I e não as matas, o ouro, o céu e a paz, como muitos acreditam. Portanto, o 19 de novembro de 2009 registra o 120º aniversário do nosso pavilhão
Publicado 18/11/2009 20:08
Aproveito a data para acompanhar o que penso ser um reavivar de sentimento de orgulho ou de busca de caminhos nacionais no país. Um exemplo: desde 22 de setembro, as escolas de ensino fundamental passaram a executar toda semana, obrigatoriamente, o Hino Nacional. Neste ano, a letra do hino, escrita por Joaquim Osório Duque Estrada, completou 100 anos. Houve quem questionasse a medida, taxando-a de nacionalismo barato num momento de globalização – mas, cá entre nós, se não for ensinado na escola, onde as novas gerações aprenderão o hino do país?
Outro exemplo: os partidos políticos e o governo voltam a falar em planificação econômica para que o país melhor enfrente seus desafios externos – até o PCdoB, internacionalista por princípio, propõe a adoção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento como caminho para o socialismo brasileiro.
Mas voltemos ao pavilhão nacional. Melhor, tratemos da palavra “pavilhão”. Mario Barreto (1879-1931), um dos grandes estudiosos da nossa língua, dizia que se devem distinguir duas fases na vida duma palavra: “a fase etimológica e a fase prática. Na primeira a palavra deixa sentir bem a sua origem, descobre a razão que influiu na sua escolha ou formação, e chama a atenção para aquela circunstância que deu nascimento ao nome.” Na segunda, “a palavra solta já de associações estranhas como se disséssemos saída das faixas infantis, evoluciona livremente”.
É o que acontece com o nosso “pavilhão”. Sigo o texto A semântica, de Barreto, de 1927. Conta ele que os soldados do Império romano chamavam papiliones (borboletas) às tendas de campanha porque, visto de longe, achavam que um acampamento parecia um campo coberto de brancas borboletas. O francês manteve papillon como designação das borboletas, que na língua popular passou para pavillon, significando uma barraca em forma de papillon. “Depois, disse-se pavilhão da armação de um leito, sobrecéu com cortinados. Foi deste sentido que se chegou ao de estandarte, bandeira. Em italiano o latim papilionem alterou-se para parpaglione, que, parecendo um aumentativo, deu depois um soposto positivo parpágilia e, com aspiração, farfalla. Em inglês diz-se butterfly, literalmente mosca de manteiga, em virtude da delicadeza do seu corpo, ou as buterflies foram a princípio chamadas assim porque há uma variedade delas que parece cor de manteiga (butter) no seu voar (fly)”. E por aí vai, “de sorte que a palavra pavilhão perdeu até a lembrança da sua origem”, registra o filólogo.
Registre-se, então, o natalício da nossa flâmula, como canta Olavo Bilac na letra para o hino que Francisco Braga lhe dedicou:
Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor!
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!