O que esperar do encontro Olmert/Abbas?

Esta semana escrevo mais cedo este texto da minha coluna semanal, fato que vai me impedir de comentar detalhes sobre a importante reunião ocorrida na segunda, 6 de agosto, entre o primeiro Ministro de Israel, o fraco e combalido Ehud Olmert e o presidente

Um encontro de poucos detalhes


 


Claro que um evento dessa magnitude, não se prepara de um dia para outro. No entanto, mesmo tendo sido amplamente divulgado, os resultados da reunião entre líderes palestinos e israelenses são de resultados ainda incertos e duvidosos. Aqui acabamos tendo que formar um juízo de valor muito pessoal e o pessimismo é grande. Antes, porém, um pequeno resumo do que pudemos captar nas pesquisas pelas agências de informação disponíveis na Internet nos idiomas que dominamos.


 


 


Falou-se muito no agradecimento por parte dos palestinos, pela recente libertação de 250 prisioneiros políticos por parte de Israel. É a primeira grande libertação ocorrida nos últimos anos. Nas masmorras israelenses estão presos, encarcerados e muito mal tratados mais de dez mil prisioneiros políticos. Essa é a tal democracia que Israel tanto propala aos quatro cantos. A recente libertação nada tem de caridade. Trata de uma tentativa de trocar os três soldados israelenses seqüestrados desde meados do ano passado e em poder de grupos de resistência palestinos e libaneses. Abbas reivindicou mais libertações e Olmert prometeu “estudar” o assunto.


 


 


A questão central, mais uma vez, foi a edificação, o reconhecimento do Estado nacional Palestino e qual seria o seu território, a sua extensão, as suas fronteiras. Todas essas conversações têm em vista preparar também uma conferência internacional de paz para a região que vem sendo debatida, proposta e preparada pelos Estados Unidos, ainda sem pauta definida e agenda comum aos países da região.


 


 


As questões da economia palestina, que segue com uma imensa fragilidade, com alta informalidade no trabalho e com mais de 40% de desemprego na população economicamente ativa, foi debatida. Falou-se em ampliação da ajuda humanitária internacional liberação de recursos bloqueados que pertencem ao povo palestino. Como todos sabem, segue o impasse entre o Fatah, grupo do presidente Abbas, e o Hamas, grupo do primeiro Ministro, ora destituído, Ismail Haniyeh.


 


O local onde a reunião ocorreu, em Jericó, em seus arredores, é considerado um dos locais mais seguros da Cisjordânia. A imprensa israelense anuncia que fazia mais de seus anos que nenhum dirigente israelense visitava essa região, densamente povoada por palestinos, mas ainda ocupada, em grande parte, pelo exército israelense. A segurança de Olmert foi imensamente reforçada, com comboios de mais de 20 carros blindados e vários helicópteros.


 


Do lado do Hamas, partiu a acusação de que esse encontro teria sido inócuo para o povo palestino, dele nada resultará e a paz seguirá distante. Falou-se inclusive em que o governo israelense estaria mais preocupado em realizar propaganda, e se popularizar dizendo que estaria empenhado na busca da paz. Isso porque é o governo mais fraco e impopular da história de Israel.


 


Anistia


 


Está em curso uma tentativa de desarmar o movimento palestino revolucionário. Nesta semana cerca de 300 guerrilheiros do grupo “Brigadas dos Mártires de El Aksa”, vinculada ao Fatah, entregaram as suas armas para Israel. O presidente Abbas tem dito que não aceitará movimentos guerrilheiros na Cisjordânia. Do lado do Hamas, veio a acusação de que mais de 400 de seus guerrilheiros foram presos por ordem da Fatah, ou seja, do presidente da ANP, Abbas.


 


Esse incentivo à deposição de armas, que levaria à anistia política, vem sendo apoiada decisivamente pelo combalido governo de Israel, no sentido de apoiar e fortalecer o governo de Abbas, do Fatah, em detrimento do grupo Hamas, vencedor de todas as últimas eleições realizadas. Procura-se deixar cada vez mais isolado esse agrupamento, de convicção fundamentalista (são xiitas).


 


Quem tem começado a ter maior destaque nessas negociações é o primeiro Ministro recém nomeado por Abbas, Salam Fayyad, de linha moderada e formado nos Estados Unidos. Esta em curso liberações de recursos, apoios internacionais e desbloqueios de dinheiros dos palestinos em poder de Israel, tudo no sentido de fortalecer o grupo político de Mahmud Abbas, do Fatah. Uma Palestina unida já tem dificuldade de enfrentar Israel e seu poderoso exército e apoiado pela comunidade internacional e todos os países ricos, imagina se seguem divididos dessa forma.


 


Não podemos nem pensar em ter mais divisões no movimento de resistência palestina. A Faixa de Gaza, com seus quase dois milhões de habitantes, não segue a orientação de Abbas e por sua vez, o presidente da ANP não pode ignorar a força do movimento político do Hamas, ainda que não mais reconheça do seu governo. Um verdadeiro impasse na Palestina, que não serve aos próprios palestinos.


 


Temos a convicção de que esse conflito ainda perdurará e a vitória palestina encontra-se ainda muito distante. Isso pela correlação de forças no mundo hoje, extremamente desigual para os que lutam por liberdade e emancipação dos povos. Mas, devemos seguir tentando e para isso apoiamos decisivamente a luta dos palestinos.

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