O “raly” da Selva
Conheço 59 dos 62 municípios do Amazonas, dois dos quais acabei de conhecer. Para quem não conhece a Amazônia tal feito não teria maior importância, afinal são apenas 62 municípios, ponderaria, enquanto Minas Gerais possui 853 e São Paulo 645.
Publicado 31/08/2009 19:32
O alcance do feito só pode ser mensurado se compreendermos que enquanto o Amazonas possui 1.577.820,20 km2, Minas Gerais tem 588.383,6 km2 e São Paulo fica em 248.209,4 km2. Apenas o município de Barcelos, no rio negro, possui 122.476 km2 ou algo como 50% de todo o estado paulista.
Estamos há praticamente 01 mês visitando os municípios mais longínquos naquilo que se pode chamar o “raly da Selva”. Visitamos 06 municípios no rio Purus, 06 na calha do Madeira e 07 no alto Solimões. Gastamos em média 3 dias em cada rota. É uma operação que exige uma logística extremamente complexa, na qual se usa aviões, hidroaviões, barcos, lanchas, voadeiras, canoas e às vezes automóvel. Tudo isso sob um sol causticante e uma umidade relativa que ultrapassa a 90%. É a Amazônia.
Nessas visitas de trabalho há prestação de contas, assunção de novos compromissos e execução de políticas públicas que estão em curso, como inauguração de escolas, hospitais, agroindústrias, equipamentos de proteção e apoio à moto-taxistas e mães gestantes e, principalmente, entrega de implementos, títulos de terra e insumos agrícolas para agricultores familiares, pescadores, seringueiros e castanheiros.
As caravanas surpreendem até quem, como eu, conhece razoavelmente a Amazônia. A maioria dos municípios dispõe de internete, núcleos universitários da universidade estadual ou federal. Mas o acesso é precaríssimo. Pelo rio se leva dias viajando. As rodovias inexistem. Os aeródromos – quando existem – são de chão batido e os pavimentados não são homologados e, portanto, não tem linha regular de aviação. O isolamento é total.
Tudo isso leva a situações de difícil compreensão para um “estrangeiro”. Da aparente calma que no geral se expressa nos modos e no semblante da população ao convívio de grupos e pessoas que se entende como nacionais, brasileiros, amazonenses mas falam com sotaque de gringo, seja pela situação fronteiriça com a Colômbia e o Peru, no alto Solimões, ou porque ainda estão aprendendo o português, como é o caso de uma expressiva parcela de nativos daquela região do extremo do país.
Naquela região se fala regularmente o português e o espanhol e algumas dezenas de línguas nativas. Todos vivem em aparente harmonia. São brasileiros, embora alguns tentem sistematicamente lhes negar esse direito.