O tal do Queiroga e a Seleção genocida

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Foto: Myke Sena/Ministério da Saúde

Como qualificou um colega nas redes sociais, a manifestação da Seleção Brasileira, pela qual aguardamos por mais de uma semana, não passou de um “pum”. E malcheiroso, acrescentaria eu. Obviamente não se esperava do atual elenco posições políticas mais contundentes, até porque Sócrates, Vladimir e Casagrande são personagens do passado, mas no mínimo um posicionamento coerente com a grave situação sanitária que o país vive. Queiram ou não, ao aceitar participar da Copa América, jogadores e comissão técnica assumiram o lado de Bolsonaro. A nota divulgada não passa de um manifesto pífio que, com muita boa vontade, podemos qualificar como um desencargo de consciência diante das quase 500 mil mortes.

Obviamente quem promove a competição é a Conmebol e, consequentemente, a principal responsável pela sua realização. Seus dirigentes, como a maioria da cartolagem dos entes confederados, não passam de mercenários capazes de vender a própria mãe em troca de alguns dólares. Com tal perfil, encontrando quem desse guarida, realizariam o evento em quaisquer condições para abocanhar as verbas de patrocinadores e direitos televisivos. A Conmebol, no entanto, estava encurralada com a desistência de sediar a competição por parte da Colômbia e da Argentina. A Copa América tão somente se viabilizou porque Bolsonaro, com o objetivo de fazer dela um palanque político, correu oferecendo nosso país para sediá-la. No referido manifesto, a única crítica é a de que “estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol”.

Afirmam que se dirigem aos 200 milhões de brasileiros. Esquecem, em primeiro lugar, que já há algum tempo a extrema-direita se apropriou da camisa verde-amarela, transformando-a em símbolo inclusive do negacionismo e da carnificina promovida pelo atual governo. Perderam, os senhores atletas, a grande oportunidade de devolver ao conjunto do povo brasileiro este importante símbolo que tantas alegrias nos deu. Tivessem se posicionado em não jogar, ficaria muito mal para outros jogadores participarem de uma Seleção alternativa e, ainda que ela fosse constituída, já não seria mais viável ao genocida transformar o evento em palanque político. Portanto, não se dirigiram ao 200 milhões de brasileiros. Os senhores se curvaram ao bolsonarismo e, participando da competição, estão avalizando a política sanitária genocida do governo. Tenham a mais absoluta certeza de que esta atitude manchará os seus currículos e a história da Seleção. Não será jamais esquecida. A posição adotada é mais vergonhosa que a derrota, em pleno Mineirão, por 7 a 1 para a Alemanha.

Para que o genocida montasse este palanque, a colaboração subserviente não foi só dos jogadores e comissão técnica. Papel fundamental também teve o Tal do Queiroga que rapidamente respondeu à determinação de Bolsonaro, dando parecer de que não haveria riscos de expansão da pandemia com a realização do evento. A justificativa apresentada é de que serão seguidos rigorosos protocolos de segurança. Na contramão de tais argumentos, ainda no sábado, treze atletas da Venezuela testaram positivo. A seleção venezuelana, que se encontrava hospedada em hotel de Brasília, abriu o torneio contra o Brasil. Serão dez seleções, com jogadores, comissões técnicas e todos os auxiliares se deslocando por quatro estados, isto sem contar as centenas de jornalistas estrangeiros e também as aglomerações de torcedores nas entradas de hotéis e estádios. Os tais protocolos de segurança serão, portanto, absolutamente precários.

Porém, mais grave que a precariedade dos protocolos, é o fato de Bolsonaro usar o evento para confrontar as medidas adotadas por governadores e prefeitos. Tentará, de todas as formas, romper com os frágeis protocolos adotados. Este é o principal objetivo dele, instrumentalizar a Copa para estimular a população a desobedecer as medidas de restrição de mobilidade adotadas nos municípios. Não tenham a menor dúvida de que promoverá ainda maior genocídio: visitará todas as sedes, provocará aglomerações, desfilará sem máscara nos jogos e posará ao lado de jogadores. Com certeza exigirá que o Tal do Queiroga o acompanhe nesta maratona para mostrar que “aquele que é ministro da Saúde” está avalizando sua insanidade.

Aliás, é bom que se diga que apesar do servilismo, o Tal do Queiroga está em processo de fritura. Bolsonaro afirmou publicamente que acabara de conversar com um “tal de Queiroga”, acrescentando “não sei se vocês sabem quem é, aquele que é ministro da Saúde, e ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que foram vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar esse símbolo, que obviamente tem a sua utilidade para quem está infectado”. Se ele não entendeu o recado, vamos traduzir aqui a fala do presidente: “determinei para aquele bosta que nomeei ministro da Saúde e que foi lá na CPI dizer que eu sou como um fumante incorrigível por não usar máscara, que conserte a merda que fez e emita um parecer imediato afirmando que eu não preciso usá-la”. Simples assim, caro Tal do Queiroga, um manda e outro obedece. Ou vai levar um pé no traseiro.

Não adianta, com aquela vozinha de sonso, vir a público dizer que o presidente encomendou um estudo sobre o uso da máscara. A determinação foi muito clara, é dar um parecer dizendo que o seu chefe não precisa usar máscara ou sentirá a sola do coturno no traseiro. O senhor, com esta declaração sobre o comportamento de Bolsonaro e sobre a ineficácia da cloroquina na CPI, caiu em desgraça com aquele que manda. Tivesse um pingo de dignidade como teve o Teich, colocaria a viola no saco e iria cuidar da sua vida de cardiologista.

Mas parece que este não é o caminho que pretende trilhar. Ao que tudo indica, jogará todo seu histórico de cardiologista no lixo para cumprir a ordem do Capitão. Mas não pense que ele se contentará com isto. Ainda exigirá que ateste, contrariando ao que disse na CPI, que a cloroquina salvou milhares de vidas no Brasil e que metade dos mortos anunciados pelo próprio Ministério da Saúde não foram por Covid. Provavelmente, caso persista em seguir nesta obediência cega ao genocida, será obrigado a decretar o fim da pandemia e talvez até declarar que vacina é ineficiente.

O papel ao qual o Tal do Queiroga vem se prestando não é nem o de capacho a que se prestou Pazuello e sim o de papel higiênico de Bolsonaro. Terá que cumprir a função, usando seu prestígio de médico, para limpar toda a sujeira feita por aquele que o nomeou ministro. Muito provavelmente será obrigado a subir no pódio para levantar o troféu do genocídio ao lado de Bolsonaro e da servil Seleção Brasileira, registrando o momento para a eternidade,. Bolsonaro, todos sabemos quem é e o que pensa. A opção de passarem para a história como a Seleção do genocídio foi feita pelos jogadores e a de ministro do genocídio está sendo do Tal do Queiroga.

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