O tempo na educação: instrumento de liberdade

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O relógio opressor

O gerenciamento do tempo, no capitalismo, tem como uma de suas mais marcantes características a organização do trabalho e alienação dos trabalhadores. Taylorismo, fordismo e toyotismo são as expressões da organização do tempo na produção e simultaneamente da tentativa de desorganizar os trabalhadores como força consciente na construção da sociedade. E essas formas de controle do tempo estão presentes também nos espaços dedicados ao processo de ensino/aprendizagem.

O tempo da escola está vinculado ao tempo da linha de produção, como observou a professora Nereide Saviani, em palestra aos professores de Campinas (2005). No espaço escolar essa organização temporal é reproduzida na organização dos currículos, no tempo das aulas e dos intervalos, na distribuição das horas de elaboração pedagógica individuais e coletivas. Os diálogos com a coletividade são geralmente apressados e não raro, monitorados. Dificulta-se a atuação de grêmios, sindicatos e do conselho escolar, mesmo sob governos democráticos.

É exíguo o tempo de diálogo e intenso a reprodução do ensino como trabalho alienante de docentes e estudantes.  O tempo escolar, como na linha de produção, é pensado e gerenciado levando em conta o rendimento máximo do “trabalho socialmente necessário para repetir conteúdos”. Mas assim com nos ambientes fabris, há a resistência à exploração nem sempre fácil de ser detectada.

Instrumento libertador

Como instrumento de libertação e criação, o tempo pode ser traduzido na remuneração da horas para elaboração pedagógica individual e coletiva, formação e funcionamento dos mecanismos democráticos de organização e debate (grêmio, sindicato e conselho escolar). A escola de período integral seria o lugar privilegiado para uma concepção temporal mais livre, onde o debate ocorreria mais horizontalmente, sem a pressão urgente do relógio.

Geralmente, ao falar da escola de período integral, pensa-se em como preencher o horário com o máximo de atividades possível, premindo o espaço temporal que poderia ser aproveitado para reflexão. Opor-se ao conteudismo e ao ativismo escolar é necessário para que o processo ensino/aprendizagem ocorra sem a urgência quantitativa de contabilistas preocupados em fechar balanços bimestrais.

Um novo tempo

Os modelos educacionais são obrigados a funcionar em um espaço regido por um tempo conceitualmente opressor. Os educadores precisam lutar para mudar a distribuição desse tempo transformá-lo em ferramenta libertadora. Não é fácil tal tarefa porque, mesmo indiretamente, o modo de produção capitalista molda a sociedade, incluindo aí a percepção temporal. Por isso a importância das centrais sindicais pela redução da jornada sem redução de salário.

Os educadores não estão isolados nessa busca por um redimensionamento do tempo no trabalho.

Sob esses aspecto, ganha dimensão a luta pelo aumento das horas de planejamento pedagógico remunerado para os trabalhadores de educação. Esse tempo não deve ser usado apenas para registrar conteúdo, corrigir e elaborar provas, lançar notas, digitar documentos, entre outras funções geralmente acumuladas.

Criar o hábito do diálogo coletivo, não apenas para gerir pendências, mas para aperfeiçoar métodos de avaliação, exercer a gestão democrática, discutir a relevância de determinado processo de ensino/aprendizagem para aquela comunidade específica, dentro de uma proposta de Sistema Nacional de Educação a ser discutida na Conferência Nacional de Educação – CONAE 2010. Não é tarefa para poucos.

CONTEE, CNTE, FASUBRA, ANDES, UNE, UBES e as centrais sindicais devem ser fomentadoras desse debate, mas a relevância será alcançada quando em cada sala de aula do país houver a discussão por um novo tempo.

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