O triste fim de Ciro Gomes

Ciro e sua equipe de marketing começam a projetar 2026, onde parecem querer se localizar exatamente como alternativa ao polo mais fraco no presente momento, a direita conservadora

Foto: PDT Nacional

Não faltam motivos para elogiarmos o livro Projeto nacional: O dever da esperança, de autoria de Ciro Gomes. Em termos de ideias, sem dúvida ele é um dos mais, se não for o mais preparado para dirigir a nação.

Este parágrafo acima é exatamente o que eu pensava do candidato do PDT até o início destas eleições. Infelizmente esta percepção mudou nos últimos dias, para ser exato a parti de 15 de setembro, quando ele começou a baixar o nível de sua campanha com ataques cada vez mais vis a Lula e ao PT.

Alguém com passado dentro da vida pública não pode reagir aos resultados das pesquisas eleitorais com o fígado, ainda mais quando se está em jogo o futuro da nação. Comparar o candidato petista a Bolsonaro ou dizer que temos polarização no Brasil quando um lado mata e o outro morre é puro delírio, para não dizer mau caratismo.

Enxergando por outro lado, esta movimentação de Ciro só pode fazer sentido se ele se enxergar como o futuro líder da oposição ao próximo governo Lula, inclusive dirigindo os radicais bolsonaristas. Parece exagero? Vou explicar.

Desde 2018 (um pouco antes até) o principal nome do PDT começou a se construir como candidato dentro de um viés nacional desenvolvimentista, participando de debates e entrevistas e atacando pontos importantes da nossa economia, como o exorbitante pagamento de juros da dívida pública.

Leia também: Bolsonaro aposta na abstenção para levar a disputa ao segundo turno

Com postura (em especial na economia) mais avançada que o PT, o ex-governador do Ceará começou a se consolidar com um postulante a presidente de muito respeito no meio acadêmico.

Ao se negar a ser vice de Haddad quando Lula foi preso, ainda em 2018, Ciro começou a fazer seu voo solo em busca de seu espaço na centro esquerda brasileira, algo que como vimos, não deu certo naquelas eleições, em especial pela imensa capacidade de transferência de votos de Lula para o então candidato do PT, mesmo não sendo suficiente para a sua eleição, como todos já sabemos.

Ao se negar a apoiar o PT no segundo turno naquela ocasião, o pedetista começou a trilhar seu caminho longe dos progressistas, sendo até hoje questionado por esta decisão (errônea a meu ver).

Bom, com Lula já envelhecido, com várias acusações (sem provas) de corrupção a ele e a seu partido e com o governo Bolsonaro derretendo nas avaliações do povo, Ciro se convenceu que conseguiria se viabilizar como terceira via agora em 2022, o que todos sabemos não aconteceu.

Ao enxergar que em cenários de polarização eleitoral não há espaço para o centro, Ciro e sua equipe de marketing começam a projetar 2026, onde parecem querer se localizar exatamente como alternativa ao polo mais fraco no presente momento, a direita conservadora que flerta com o fascismo.

O ex-governador não é bobo, ele sabe que a derrota de Bolsonaro é o seu fim político, ou será preso ou vai fugir do país para não ser preso, com a Polícia Federal em seu encalço, inúmeras denúncias de corrupção e com seus sigilos de 100 anos quebrados por Lula, se eleito, o bolsonarismo tende a ficar órfão de seu maior líder.

É aí que entra Ciro. Com seu discurso radicalizado contra o PT e o pronunciamento que fez a nação segunda feira dia 26-09, fica claro que ele quer a vitória do líder das pesquisas no primeiro turno para ele não se desgastar de novo como foi em 2018 e, por consequência, começar a ocupar o cargo de líder da oposição ao próximo governo.

Isso é fato? Não sabemos. Mas que faz sentido faz, afinal de contas o que explica esta guinada à direita do principal nome do trabalhismo brasileiro no presente?

Se tudo que colocamos aqui se consolidar, a única coisa que podemos fazer é lamentar o triste fim de um dos melhores nomes que o desenvolvimentismo nacional produziu desde a morte de Leonel Brizola.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor