O último vôo do PTOON

No dia 07.12.2008, às 9 horas da manhã, o hidroavião de prefixo PTOON, sob o comando do experiente piloto Antonio Alberto (Beto) Machado Cavalcante decolou para seu último vôo.

O “Beto”, como era conhecido pelos amigos, tinha 42 anos de vida e 18 anos de pilotagem na Amazônia. Conhecia de perto o significado da bela estrofe do hino do Amazonas que diz: “viver é destino dos fortes, assim nos ensina, lutando, a floresta”. Já tinha escapado de inúmeros desafios, mas naquela manhã o velho hidroavião lhe pregou a última peça. Morreu junto com seu velho companheiro, sendo a única vítima fatal.


 


Depois de muito esforço o bravo PTOON conseguiu decolar do Taruma Açu (um igarapé de +/- 300 metros de largura), nos arredores de Manaus, para em seguida desabar no caudaloso igarapé com toda a sua tripulação: o próprio Beto; seu co-piloto Pedro Teixeira Barbosa; o Secretário de Segurança do Estado Francisco Sá Cavalcante; o Coronel PM Francisco Chagas e o aluno oficial Pablo Soares, que se dirigiam a uma missão oficial nas inúmeras comunidades do Amazonas, onde o acesso só é possível de barco (o que pode levar dias) ou de hidroavião, na medida em que não há rodovias ou aeroportos, por mais simples que sejam.


 


O histórico do velho hidroavião não lhe recomendava. Nos últimos 10 meses ele se envolveu em três outros acidentes. Continuava voando porque a rotina torna banal até a morte e por isso, apesar dos “sustos”, todos nós que regularmente usamos esse tipo de transporte continuávamos voando no velho PTOON.


 


Pessoalmente eu escapei de dois desses 03 acidentes. Em março deste ano o aparelho decolou e desabou no mesmo Taruma Açu quando deveria conduzir uma equipe de dirigentes da SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus) e da SEPROR (Secretaria de Estado da Produção Rural), que atualmente dirijo, até o município de Codajas, no médio Solimões. Por conflito de agenda tive que alugar outro avião e cedi meu lugar no vôo ao diretor presidente da nossa agência de negócios Valdelino Cavalcante. Ao chegarmos em Codajas fomos informado do acidente, que felizmente não teve vítimas fatais.


 


Em setembro precisei ir a uma comunidade de Barreirinha, no baixo Amazonas. Lá estava de prontidão o velho PTONN. Nosso piloto era o mesmo “Beto”. Após 04 tentativas frustradas de decolagem, retiramos parte da gasolina, esvaziamos as bóias de suporte e finalmente o hidroavião conseguiu decolar. No retorno, em pleno vôo, fui informado de que havia entrado água na gasolina e que nós deveríamos nos preparar para um pouso de emergência. O experiente piloto começou a procurar um rio para efetuar a operação quando os motores resolveram a tarefa por si só e nós retornamos a Manaus em segurança. Até o dia do acidente fatal ninguém da equipe da SEPROR que estava comigo sabia que por pouco, muito pouco, não mergulhamos no “mar dulce” de tantas lendas. Preferi não desestimulá-los a outros desafios.


 


No último dia 7, infelizmente, o velho PTOON e seu bravo piloto não tiveram a mesma sorte. Decolaram e afundaram, para sempre, nas águas que tantas vezes lhe serviu de única companhia.


 


Rendo, aos dois, as minhas mais sinceras e profundas homenagens. Repousem em paz!

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