Oportunidade histórica para o processo de formação

Em 1975 lecionava sociologia nas Faculdades da Zona Leste (hoje Unicid) em São Paulo. No dia 25 de outubro daquele ano, nas dependências do DOI-CODI-SP, foi torturado e morto por asfixia, o jornalista Wladimir Herzog.

A temperatura política esquentou. Ocorreram manifestações políticas importantes contra a ditadura. Ao chegar nas dependências da Faculdade, fui abordado por um colega que também lecionava Sociologia, com a seguinte questão: '' eu já transmiti aos alunos em aulas anteriores, os conteúdos básicos relativos às teorias de Durkheim e Weber. Na aula de hoje, pelo programa, eu começaria a abordar as idéias de Marx. Você acha que eu devo transmitir conteúdos marxistas, nesse clima tão pesado em que vivemos durante esta semana, em decorrência do assassinato do Herzog?''. Pensei um pouco e respondi:'' Acho que você deve dar continuidade ao programa tendo porém o cuidado de não manifestar opinião favorável ao pensamento marxista''.


 



O colega seguiu a minha opinião. No horário do intervalo, um aluno se aproximou do referido professor e disse: ''Professor, por que todo sociólogo é comunista?'' O professor respondeu: ''Não é verdade que todo sociólogo é comunista. Há sociólogos de direita, de esquerda, de centro, enfim os sociólogos, assim como todos os outros profissionais têm posições políticas e ideológicas as mais variadas possíveis''. O aluno retrucou: ''Lá no DOI-CODI, onde trabalho, todos os sociólogos presos são comunistas''. O professor , aparentando estar calmo, dirige a conversa para a inadequação da amostragem que o aluno utilizava para chegar àquela conclusão. Encontrei-me com o professor no intervalo, na sala dos professores e nesse momento ele me contou a história e afirmou que não continuaria ensinando a teoria marxista, em função da possibilidade real de ser preso.


 



Conto essa história, sobretudo para os leitores mais jovens que não viveram o clima de terror implantado em nosso país, durante os 20 anos de ditadura militar. Nem mesmo institucionalmente, seguindo as normas legais, como no caso citado, era possível ter tranquilidade para ensinar. Muitos foram os professores presos, enquanto estavam lecionando, nas salas de aula.


 


 


Vivemos hoje numa conjuntura diferente. O capitalismo encontrou novas formas para se manter. Após as inúmeras lutas desenvolvidas pelas classes dominadas tendo como objetivo a derrubada da ditadura e a consequente conquista da democracia, entramos a partir de 1985, num outro momento político em que há o direito de expressão garantido. Podemos debater, fazer críticas aos Governos Federal, Estadual e Municipal, manifestar nossas opiniões sobre os mais variados assuntos, conscientizar as pessoas a respeito da realidade que vivemos no nosso país. Isto não quer dizer que vivemos numa democracia plena. Trata-se da democracia burguesa, onde evidentemente predominam os interesses do grande capital. Mesmo com essas características a democracia burguesa interessa mais aos trabalhadores que lutam pelo socialismo, do que a ditadura que impede a livre manifestação. Marx era sensível às possibilidades contraditórias da democracia burguesa. Sobre a república democrática burguesa, ele escreveu em ''As lutas de classe na França de 1848 a 1850'', que sua constituição sanciona o poder social da burguesia, ao mesmo tempo em que retira as garantias políticas desse poder, impondo-lhe ''condições democráticas que, a todo momento contribuem para a vitória das classes que lhe são hostis e põem em risco as próprias bases da sociedade burguesa''.


 


 


Precisamos explorar as possibilidades de transformação que existe nessa conjuntura política que vivemos. Um trabalho de formação política e sindical bem estruturado permitirá que tenhamos condições de contribuir na formação de novos quadros que poderão dar continuidade à luta pela construção do socialismo. Ao mesmo tempo, permitirá que os dirigentes sindicais de maior experiência possam aprofundar seus conhecimentos e melhorar sua compreensão teórica. Não podemos perder essa oportunidade histórica de transmitir nossa visão política e ideológica. Evidentemente que as classes dominantes, sobretudo através da mídia, influenciam as mentes e os corações das pessoas de acordo com valores individualistas, na contramão da solidariedade e da justiça.


 


 


A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil-CTB, num convênio estabelecido com o Centro de Estudos Sindicais-CES, desenvolverá um projeto de Formação Sindical, tendo como público alvo desde a sua direção até os diretores dos sindicatos filiados, procurando atingir mais de 1.500 sindicalistas no período de um ano. Pretendo, num próximo artigo, apresentar aos leitores o projeto de formação sindical que será desenvolvido através desse convênio.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor