Ora (direis) ouvir estrelas…

Chuvas torrenciais, tempestades, terremotos já foram tidos como castigos divinos. O arco-íris foi considerado um sinal de Deus indicando paz na Terra. Ouvir vozes foi privilégio de contato direto com o Além ou sintoma de loucura. Mas o avanço da c

Em Êxodo 3, 1-6, Moisés estava pastoreando o rebanho do seu sogro Jetro, quando chegou ao Horeb, a montanha de Deus. Do meio de uma sarça em chamas Deus o chamou: “Moisés, Moisés!” Ele respondeu: “Aqui estou”. Deus disse: “Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, porque o lugar onde você está pisando é um lugar sagrado”. E continuou: “Eu sou o Deus de seus antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó”. Então Moisés cobriu o rosto, pois tinha medo de olhar para Deus.



No Evangelho Segundo São Mateus, 1, 18-21, é contado que a origem de Jesus, o Messias, “foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu marido, era justo. Não queria denunciar Maria, e pensava em deixá-la, sem ninguém saber. Enquanto José pensava nisso, o Anjo do Senhor lhe apareceu em sonho, e disse: ‘José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você lhe dará o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados’.”



 


Já o Alcorão, livro sagrado dos islamitas, não foi escrito por Maomé (que, aliás, era analfabeto), mas por ele recitado conforme o que lhe era transmitido pelo anjo Gabriel a mando de Deus, segundo Mansour Chalita, que verteu essa obra para o português.


 


Joana d'Arc afirmava que em 1424, aos treze anos, ouvia vozes divinas que insistiam para que ela salvasse a França do domínio inglês, o que relatará ao rei Carlos VII, cinco anos depois. Depois de séculos, em 1920, tornou-se santa e, em 1922, foi declarada padroeira da França, onde é homenageada no dia 30 de maio.


 


Posteriormente, as palavras divinas não se fizeram ouvir com tanta freqüência. O poeta brasileiro Olavo Bilac chegou a considerar:
       ''Ora (direis) ouvir estrelas!  Certo
        Perdeste o senso!''


 


Diante disso, muitos de nós, além de conversar com os botões, preferimos ocultar as vezes em que ouvimos vozes. Mas agora a ciência mostra que não estamos nem ouvindo o Além e nem somos loucos: levantamento realizado por britânicos na Holanda sugere que uma em 25 pessoas ouve vozes regularmente. Os pesquisadores da Universidade de Manchester afirmam que muitos que ouvem vozes não procuram ajuda de médicos. ''Sabemos que muitos integrantes da população em geral ouvem vozes, mas muitos nunca sentiram a necessidade de pedir ajuda aos serviços de saúde mental'', disse a pesquisadora Aylish Campbell.


 


Algumas pessoas que ouvem vozes descrevem o evento como se alguém as chamasse pelo nome, mas quando elas vão atender descobrem que não há ninguém (Moisés, ao contrário, preferiu cobrir o rosto para não ver Deus).


 


Outras afirmam que as vozes têm um impacto positivo em suas vidas, dando conforto e inspiração (o justo José se consolou ao saber que sua jovem esposa continuava virgem e fora engravidada por obra e graça do Espírito Santo).


 


As pessoas também ouvem vozes como se fossem pensamentos de fora entrando em suas mentes e podem até iniciar uma conversa, como fez Joana D´Arc, o que a levou à convicção da necessidade de libertar a França dos britânicos.


 


''Não parece que o fato de ouvir vozes em si cause o problema. O que parece ser mais importante é como as pessoas interpretam estas vozes'', disse Campbell. Cerca de 60 a. C., Titus Lucretius Carus (96 – 53 a. C.), escreveu no poema de seis cantos “Sobre a natureza das coisas”: “Assim como as crianças tremem e têm medo de tudo na escuridão cega, também nós, à claridade da luz, às vezes tememos o que não deveria inspirar mais temor do que as coisas que aterrorizam as crianças no escuro…”

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