Os belos estádios

De olho nas eleições do ano que vem, um instituto privado tem feito pesquisas em várias unidades da federação e chegou a uma conclusão que traz diversos recados. A principal causa, aquela que detonou o estopim das manifestações de junho passado foram os estádios de futebol e as outras obras em torno deles.

As pesquisas são quantitativas e qualitativas, de modo que esmiúçam as motivações das respostas, muito além do “sim” ou “não”. Ou seja, desnudam a opinião das pessoas. O resultado é que a esmagadora maioria dos entrevistados, em diversas regiões do país, considera um acinte a opulência das praças esportivas em construção.

Isso, mesmo levando-se em conta que boa parte dessas pessoas é a favor do Brasil sediar a Copa do Mundo de Futebol, no ano que vem, e as Olimpíadas de 2016. Mas são quase unânimes na opinião de que não seriam necessárias tantas novas praças esportivas – bastaria ajeitar o parque já existente, na maioria das cidades escolhidas.

O que provoca a indignação, segundo o instituto, não são nem as obras em si, mas a suntuosidade delas, que ostenta luxo e riqueza. E a falta de transparência. Junto, vêm as inevitáveis comparações com outros setores da vida nacional, com destaque para a infraestrutura de habitação, saneamento básico e transporte coletivo.

Vale notar que as opiniões vêm sendo coletadas não apenas nas doze cidades que irão sediar jogos da Copa. É certo, porém, que em algumas dessas a insatisfação é maior do que a média geral. É o caso do Distrito Federal, onde o Estádio Nacional de Brasília, ou Mané Garrincha, provoca reações a todo instante.

É bom lembrar que as primeiras manifestações ocorreram em Porto Alegre, São Paulo e Goiânia, espraiando-se para o restante do país. Dados oficiais informam que, em capitais e cidades do interior, milhões pessoas foram às ruas naquela segunda-feira, dia 17 de junho.

Afora momentos de festas populares, como a do Senhor do Bonfim, em Salvador, o Círio de Nazaré, em Belém, os carnavais e algumas outras, fazia tempo que o Brasil não via tanta gente nas ruas. E nenhuma liderança, partido político, entidade sindical ou estudantil pôde se arvorar a promotora do movimento.

A mobilização se deu por meio das redes sociais na internet, no boca a boca, nas rodas de amigos, de escolas, de trabalho. Uma mobilização espontânea e pacífica. Descrédito dos governos, instâncias ditas representativas, tribunais, partidos políticos, políticos e mesmo das agremiações estudantis e sindicais. Vontade de gritar.

Cabe a ressalva de que é bastante forte, também, a condenação aos atos de violência, com quebra-quebras e pancadarias, que têm ocorrido em algumas localidades. Mas esses são considerados à parte, atribuídos a grupos isolados, que se aproveitam das manifestações.

O fato é que a reação do governo foi imediata e eficaz. Foi dada maior atenção àquele que despontou como motivação principal, que era o preço das passagens e a melhoria dos transportes públicos. Uma luta em defesa da mobilidade urbana, pois.

Em todo o país, ocorrem 90 reduções de tarifas do transporte público, sendo 15 em capitais, nove em regiões metropolitanas e 66 em pequenas e médias cidades. A redução média foi de 5%, segundo dados da entidade nacional das empresas operadoras deste serviço.

A presidente Dilma Rousseff convocou, ainda em junho, reunião de órgãos do governo e entidades ligadas ao setor, algumas delas de matiz popular. As conversas resultaram no Pacto Nacional pela Mobilidade Urbana, anunciado no final de outubro, com recursos de R$ 50 bilhões para programas das três esferas de poder, na próxima década.

Contudo, com o passar do tempo, fica claro que as muitas bandeiras levantadas desde aquelas manifestações fazem parte de um longo repertório de insatisfações. Faltava algo mais forte, um mote para que os hinos fossem entoados. É este que as pesquisas agora revelam.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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