Os educadores também embrutecem

Quando ouvimos que o trabalho embrutece, nossa memória geralmente elenca ofícios manuais. Dificilmente alguém pensa no trabalho relacionado à educação como fonte de embrutecimento pessoal. O corpo, as relações pessoais e o intelecto são afetados pelo volume de trabalho nas unidades de educação, sejam escolas, sejam setores administrativos.

Para os educadores que atuam diretamente na sala de aula, as condições são mais brutais porque o salário é insuficiente, não raro as classes têm mais quarenta alunos, a iluminação é péssima, a mesa de trabalho (quando existe), é inadequada. Além de estrutura precária, o processo de trabalho desgasta o exercício da profissão dos educadores nas várias modalidades porque há cobrança excessiva de uma qualidade que não pode ser mesurada apenas pela individualização da atuação.

A soma desses fatores provocam doenças mentais como depressão, estresse, síndrome do pânico, sem mencionar nas fisiopatologias.

Intelectualmente os educadores passam por frustrações consecutivas porque, mesmo trabalhando sem remuneração, não conseguem responder às demandas e nem se preparar adequadamente para atendê-las.

A maior consequência é a automatização da prática de ensino, ação que deveria ser geradora da relação dialética aprender/criar, tanto por parte dos estudantes quanto dos educadores.

No setor administrativo, há uma perda das perspectivas dos mecanismos de registro e avaliação dos processos de ensino devido a critérios ora excessivamente burocráticos, ora pela ausência de uma política estável para área.

Essa realidade está presente em todo país mas se agrava nos Estados e municípios sob governos neoliberais. Vide São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal onde ultimamente a educação pública frequenta muito as páginas policiais.

A jornada de trabalhadores da educação tem que ser urgentemente mudada para 20 horas, com salário digno, menor quantidade de estudantes por classe e políticas estratégicas para área.

Para alguns leitores pode parecer quantidade reduzida de trabalho, mas é necessário entender cada profissão tem seus instrumentos, seu processo de trabalho, sua especificidade: trabalhadores da educação, principalmente os docentes, precisam ter um tempo reservado para o estudo, tempo precioso revertido em formação, tecnologia e elementos para mudança da sociedade.

Com isso salientamos que a alienação do trabalho não ocorre apenas nas forças produtivas envolvidas diretamente na transformação da matéria mas ocorre em todos os níveis onde atuam os trabalhadores.

Por fim, aproveito o espaço para homenagear a camarada Lilian Martins, uma das referências que ajudou a construir minha militância política, minha formação na área da educação e essa insistência em mudar o mundo, mais madura mas não menos intensa.

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