Os filmes de Celso Marconi

“Considero seus filmes em Super 8, feitos nos anos 70 do século XX, e agora resgatados, da maior importância para a história do cinema brasileiro.”

Celso Marconi | Foto: reprodução/Youtube

Os filmes de Celso Marconi reunidos no ano de 2009 sob a forma de DVD. Considero seus filmes em Super 8, feitos nos anos 70 do século XX, e agora resgatados, da maior importância para a história do cinema brasileiro.

Por Abdias Moura*

Falar, por exemplo, de sua tentativa vitoriosa para resgatar manifestações populares como a Festa da Conceição, no Recife, ou a campanha eleitoral do PMDB, oposição consentida pela ditadura militar (que me parecem os pontos mais altos de sua produção). Mas, nos dois casos, os destaques são para os narradores escolhidos: Roberto Motta, com sua aula sem pedantismo sobre religiões populares, e José Cláudio, com sua descontração tão espontânea que pode até parecer fingida… Claro, as imagens são únicas e não poderiam ter sido recuperadas por outro cineasta, por mais perfeita que fosse a técnica empregada. E isso bastaria para glorificar a obra cinematográfica de Celso Marconi.

Além desses dois, há outros momentos gloriosos nos filmes do jornalista pernambucano, como as cenas glauberianas no pátio do Mercado de São José, e outras mais, com o notável Emanuel Cavalcanti, que domina a cena, como se diz, não fosse ele o ator principal das películas. E no que se refere à reconquista de um passado agora inexistente, bastaria uma referência à degradação do velho Recife, afinal contida por ex-prefeitos da cidade, não citados no documentário e, talvez, nem lembrados pelos eleitores.

Deixarei de falar das cenas íntimas das pessoas protagonizadas por pessoa de nossas relações pessoais (la noblesse oblige), ainda que elas me tenham parecido as mais importantes da filmagem.

Mas quero, ao final, fazer pelo menos uma referência à cena, relativamente longa considerando a pequena duração do filme mais impressionante da coletânea: a corrida de uma jovem mulher, sempre de frente para a câmara, em que o vestido fica colado ao corpo e a saia se ondula ao compasso do movimento, sugerindo, mas não mostrando, o que há por trás do pano que encobre o corpo feminino. É tão bonita que me evocou Hedy Lamarr correndo. nua (mas de costas) em direção ao rio em que se dá a um desconhecido, em Êxtase, meu filme inesquecível.

(Trecho do livro Cronistas de Pernambuco, publicado em 2010)    

*Foi jornalista, escritor, professor e sociólogo

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor