Para recordar o Minc, sonhos e poesia

Nesta semana, dia 15 de março, o Ministério da Cultura completou 26 anos de existência. Deveria ser uma data muito comemorada pelo meio cultural, afinal foi uma histórica conquista que levou pelo menos 18 anos para iniciar sua consolidação, que só ocorreu graças aos compromissos cumpridos na gestão Gil/Juca, se efetivando como um Ministério de políticas de Estado e não apenas contemplativo. 

Mas, nesta semana, a ministra Ana de Hollanda continua seu périplo pelos órgãos do Minc (que efetivamente não conhecia), sem responder quando vai ouvir os órgãos representativos da sociedade civil (CNPC e Colegiados) na instituição Ministério da Cultura, quando conhecerá o que estas pessoas que representam a vontade de uma Conferência de Cultura têm a dizer sobre suas ações e para debatermos temas como Direito Autoral, Ecad, cultura popular…

Numa semana em que mais um embate público envolvendo o gerenciamento do Minc ocupa a pauta diária: a participação do Brasil na Bienal de Veneza, continuamos esperando (até quando esperar?), também comemoramos o Dia Nacional da Poesia (14 de março), em homenagem ao aniversário de Castro Alves.

Como o Minc não lembrou a data e para que ela não passe em branco, reproduzo aqui um poema de minha autoria, escrito no dia da poesia (em 2007), que fala de sonhos, esperança e poesia.

Feliz dia da poesia

A adolescente levantou naquela manhã
Mais cedo que de costume
Sonhou com poesia
Quis plantar uma flor, regá-la
Construir o sonho com a semente
Rabiscou as primeiras palavras
Tentou entender o gérmen de seus 13 anos
Achou que a poesia a faria feliz
Construiu o castelo de alicerces firmes
Viu o semblante tranquilo do amor eterno
Assustou-se com a nuvem negra cobrindo a semente
Pensou nos nojentos homens observando-a na esquina
Sentiu dor, medo, pavor, nojo
Repetiu o espasmo, a ânsia do vômito
O cheiro inebriado da bebida no boteco do portão da escola
Teve certeza que a poesia expulsaria seus fantasmas
Ou os traria de volta
Lembrou-se das tardes felizes no pé de goiaba no quintal
Sorriu maliciosa dos meninos adorando o rebolado vermelho
Chorou com a imagem do amigo atropelado no semáforo
O caixão coberto com flores, o grito por justiça
Foi ao banheiro, lavou-se várias vezes
O odor da dor grudado na pele permaneceu
Contrastando com o alívio do poema
O desespero da solidão
O grito da liberdade
Olhou para o dia
Cantou com a luz do sol
Escreveu que a semente vai germinar
O sonho vai acontecer
A dor também
Às vezes, a felicidade
Sorriu
Deu gargalhada para os idiotas parados nas esquinas
Estava salva

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