Para Xi Jinping, Marx é o grande pensador da modernidade

Os 200 anos do nascimento de Karl Marx tiveram como ponto alto das celebrações na China um discurso do presidente Xi Jinping no Grande Palácio do Povo neste 4 de maio, quando o líder chinês afirmou que Marx é o grande pensador da modernidade, cuja teoria tem entre as principais características o pragmatismo.

Xi falou no palco sobre o qual aparecia uma foto de Marx. Momento simbólico meses depois de o presidente anunciar a Nova Era do Socialismo com Caraterísticas Chinesas, cuja mensagem traz no bojo políticas para a promoção de uma sociedade mais próspera. Erradicar a pobreza, tirando 10 milhões de pessoas da miséria ao ano, está no plano de Beijing.

Em 2021, o Partido Comunista da China (PCCh), cuja fundação é inspirada no marxismo, faz cem anos. Na data, o objetivo é comemorar feitos centenários chineses e, embora haja uma crescente disparidade de renda advinda com as mudanças estruturais por que o país passa desde a reforma e abertura, em 1978, aprimorar os padrões de vida da parcela mais pobre é prioridade. Eliminar a poluição e os riscos financeiros são as outras duas para o atual mandato de Xi, iniciado em março.

No discurso, Xi afirma que a partir dos conceitos de materialismo histórico e mais valia, Marx fornece as bases para que a humanidade possa atuar de forma a trabalhar por sua liberdade. O líder chinês, também secretário-geral do PCCh, determinou há poucas semanas que os quadros do partido voltem a estudar o Manifesto Comunista, pedido que estendeu à comunidade universitária chinesa às vésperas do discurso no Grande Palácio do Povo.

Xi relembrou fatos marcantes da contribuição da teoria marxista para a geopolítica mundial e afirmou que na China o desenvolvimento do socialismo é resultado da mescla da teoria à realidade do país. “Desde a fundação do PCCh, o partido combina os princípios fundamentais do marxismo à realidade da revolução e da construção da China, transformando a ação chinesa da 'parte enferma do Sudeste Asiático' àquela que se levantou ao unir e guiar o povo numa luta de longo prazo”, disse no discurso. É o próprio sentimento de evolução do país que atua como uma das determinantes da legitimidade do partido, no poder desde 1949.

Não é tarefa fácil, afinal, são 1,4 bilhão de pessoas sob comando do PCCh. O partido, cuja base é de quase 90 milhões de filiados, tem justamente o pragmatismo destacado por Xi como outro importante motor de legitimação. Assim, o país ajusta estruturas quando necessário. Tanto é assim que abriu as portas em 1978 e, na esteira da crise de 2008, passou a priorizar o mercado interno, para citar dois exemplos conhecidos no âmbito econômico.

Mas dentro do próprio partido mudanças importantes – e por vezes custosas – é que também garantem a sustentação de sua legitimidade. Neste sentido, a campanha anti-corrupção lançada por Xi ao chegar ao poder, em 2013, é outro ponto fundamental. Desde lá, estima-se em 1 milhão o número de quadros do partido atingidos por sanções e penas, chegando até a representantes do antigo núcleo de poder, caso de Zhou Yongkang, membro do Politburo quando Hu Jintao era presidente e secretário-geral do PCCh.

Pragmatismo e renovação parecem marcar a leitura de Xi sobre o marxismo, numa receita à chinesa cujos resultados até agora indicam que Beijing trilha um caminho seguro rumo ao desenvolvimento socialista.

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