Pela Unidade do Povo Palestino

Costumo dizer que fico com o coração apertado ao ver a divisão das lideranças palestinas hoje, em vários grupos e os que controlam a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Os maiores grupos políticos são o Fatah, majoritário e o Hamas, majoritário apenas em Gaza.

Frente Democrática de Libertação da Palestina – FDLP


 


 


Já falamos em artigos anteriores da “Frente”. Trata-se de uma organização de caráter revolucionária, de orientação marxista-leninista, que atua nos territórios ocupados por Israel, tem ação política de massas e ao mesmo tempo defende a tática da luta armada como forma de resistência a essa ocupação de quase 60 anos perpetrada pelo exército de Israel. Essa tática de luta armada é defendida única e exclusivamente nos territórios ocupados e nunca fora da palestina e também exclusivamente contra o exército israelense e nunca contra civis e alvos não militares.


 


 


As diferenças táticas e estratégicas levaram com que a “Frente” surgisse a partir de um racha ocorrido há 40 anos, junto à organização que se chamava “Frente Popular de Libertação da palestina”, cujo líder era já falecido e revolucionário também marxista, médico Georges Habache. Sob a liderança do cristão ortodoxo Nayef Hawatmeh (ainda vivo e atual secretário-geral da FDLP), a “Frente” tem hoje propostas, às queremos comentar neste artigo semanal, que propõe encerrar imediatamente, por vontade política soberana, todas as divergências internas na liderança do movimento palestino e restabelecer a unidade da luta contra a ocupação e pela criação do Estado Palestino.


 


 


O atual nome de “Frente Democrática” foi oficialmente adotado em 1974. Antes disso e desde a fundação em 1969 – que vai fazer 40 anos – o nome era “Frente Democrático e Popular para a Libertação da palestina”. Perseguida em território israelense, a “Frente” tem escritório central na cidade síria de Damasco, capital do país, onde vive seu líder máximo, Hawatmeh. Ideologicamente falando, esta bem mais à esquerda do que a sua congênere FPLP. Prega a revolução de caráter popular, com uma aliança de operários e camponeses e defende, em última instância, a instauração de um país socialista, na Palestina. Esse Estado seria único, onde viveriam judeus e palestinos, seria de orientação laica, uma espécie de estado bi-nacional, mas único. Essas propostas eram as originalmente quando da sua fundação. A “Frente” rejeitou sempre os acordos de Oslo, assinados na Noruega em 1993 por Yasser Arafat, que criaram a ANP.


 


 


Tayssir Khalid foi lançado candidato a presidente nas eleições presidenciais de 2006, onde venceu Mahmoud Abbas, do Fatah. A “Frente” obteve apenas 3,35% dos votos. No entanto, apesar da pouca votação, a “Frente” tem larga influência em entidade de massa, entre jovens, mulheres e sindicalistas. Tanto que, no atual gabinete do governo palestino, chamado de ANP, de onze ministros, a “Frente” possui um, que é o dos Assuntos da Diáspora Palestina, ocupado por Tayssir khalid, candidato de 2006. Nessas mesmas eleições, para o parlamento, a “Frente” lançou uma lista em coligação com uma dissidência de sua própria organização, chamada União Democrática Palestina – UDP, liderada por Yasser Abd Rabbo. Fizeram ainda unidade política com o Partido do Povo da Palestina, novo nome do antigo PC Palestino. Obtiveram apenas 2,8% dos votos nacionais, elegendo dois deputados no parlamento nacional.


 


 


O 5º Congresso da FDLP


 


 


Na última semana de agosto de 2007, realizou-se o 5º Congresso Nacional da FDLP, com a presença de 324 delegados, sendo que 105 da Cisjordânia (32,5%), 76 da Faixa de Gaza (23,5%) e 143 delegados vindos do exterior (44%). A FDLP é forte no trabalho com os palestinos refugiados, exilados por força da expulsão de suas terras na Palestina, que vivem em Damasco e Jordânia, bem como em vários países espalhados pelo mundo (estima-se que na América latina sejam mais de 400 mil palestinos vivendo no exílio).


 


 


Resumo a seguir os pontos que mais me chamaram a atenção do documento que me chegou ás mãos, em versão espanhola:


 


 


• Há uma crítica clara ao grupo Hamas, quanto à leitura e interpretação dos resultados eleitorais de janeiro do ano passado, quando conseguiu maioria. Decidiu formar um governo sem coalizão, depois de nove governos seguidos sob hegemonia do Fatah. A exclusão do Fatah e de outras forças foi o mais grave erro cometido pelo Hamas, que se mostrou hegemonista;


 


• A unidade quebrada na liderança palestina, do ponto de vista a FDLP, tem solução. Os camaradas propõe quatro pontos, a saber: 1. Renúncia de toda e qualquer solução militar e golpista de todos os lados envolvidos (Fatah e Hamas); 2. Constituição de um governo de transição integrado por personalidades destacadas e de diversas correntes políticas. Seria uma espécie de governo de unidade nacional; 3. Mudança da Lei Eleitoral, introduzindo a representatividade percentual plena (no Brasil chamamos de eleições proporcionais), convocando-se o mais imediato possível eleições tanto para o parlamento como para presidente (observação: em decisão recente, que vai aumentar a polêmica, o Fatah prorrogou o mandato de Abbas por um ano); 4. Revitalizar a OLP com base na Declaração do Cairo e do Documento de Reconciliação nacional, restituindo suas instituições sobre bases democráticas e de coalizão através de eleições livres para um novo Conselho Nacional Palestino (parlamento), tendo direito de voto tanto os palestinos residentes nos territórios ocupados, bem como todos os que vivem no exílio da pátria, respeitando a proporcionalidade plena;


 


• Parecido com que o PCdoB defende, a FDLP prega o reforço de um grupo mais à esquerda dentro do governo palestino, ainda que saiba que devem prevalecer as forças e correntes democráticas. Esse núcleo mais à esquerda deve ser composto pela FDLP, FPLP, PPP (ex-comunista). Uma espécie de “Bloquinho” que temos no Brasil (PCdoB, PSB, PDT, PMN, PRB e PHS);


 


• A FDLP elenca os principais problemas a serem enfrentados e as críticas ao que Israel vem fazendo: 1. Aceleração da colonização da Cisjordânia; 2. Judaização de Jerusalém; 3. Aceleração do processo de limpeza étnica, com expulsões e desterros de palestinos; 4. Prosseguimento da construção do Muro da Vergonha e da Segregação;


 


• A solução que a FDLP propõe nada tem a ver com as propostas do chamado Quarteto (EUA, ONU, União Européia e Rússia), o que se convencionou chamar de Mapa do Caminho. A “Frente” propõe a convocação imediata de uma Conferência Internacional de Paz que seja realizada com bases nas resoluções da ONU para a questão palestina e dentro da legalidade internacional e da Iniciativa Árabe de Paz;


 


• A questão do trabalho com os refugiados foi destacado e enaltecido, pois são palestinos na Diáspora e devem ser tratados e reconhecidos como tal, tendo todos os direitos dos palestinos e principalmente o de retorno, ainda que isso possa vir a ocorrer em etapas (estima-se que sejam mais de quatro milhões de palestinos espalhados pelo mundo todo);


 


• Chama-nos a atenção a especial prioridade que a “Frente” sempre dá ao trabalho, que considera estratégico, com as mulheres, com a juventude e com os trabalhadores e operários em geral (muito semelhante ao que o PCdoB propugna no Brasil);


 


• Faz a defesa da resistência armada, junto com a II Intifada, que se iniciou em setembro de 2000, há mais de oito anos. Não abdicam em hipótese alguma dessa forma de luta. Enaltecem os mártires e os heróis que tombaram nas lutas, as brigadas de vários tipos formadas por jovens lutadores. Mesmo que houvesse um cessar fogo nacional e unilateral, essa forma de luta não deve ser abandonada, salvo se Israel cessar por completo seus ataques aos palestinos;


 


• A FDLP defende envidar todos os esforços para a recuperação, fundamental em nosso ponto de vista, da volta da unidade nacional palestina, quebrada há tempos. Discordam da divisão da liderança política e mesmo de governo entre Cisjordânia e faixa de Gaza;


 


• Mantém firme sua disposição de lutar contra a judaização e colonização da Palestina, a terra milenar dos palestinos;


 


 


O 5º Congresso elegeu um Comitê Central de 81 membros titulares e mais 22 suplentes, totalizando uma direção nacional de 103 camaradas experientes e antigos lutadores palestinos. O CC reunido ao término do Congresso reuniu-se e indicou mais uma vez o camarada Hawatmeh para a secretaria-geral do Partido e indicou um secretariado, que chamam de Birô Político, composto por 13 camaradas, a saber: Qais Abdel Karim; Fahed Suleiman (autor, entre outros livros, de “A esquerda palestina revolucionária; três décadas de experiência de luta – 1969 a 1999”); Tayssir Khalid (atual ministro para Assuntos da Diáspora); Saleh Zeidan; Ramzi Rabah; Hisham Abu Ghoush; Ali Faisal; Abdel Ghani Hellu; Moutasem Hamadeh; Majida Al-Masri; Mohhamad Khalil; Abdel Hamid Abu Jeab e Ibrahim Abu Hijeh.


 


 


Desejamos, de coração, sucesso a esse núcleo experimentado de combatentes e dirigentes palestinos, que têm a árdua tarefa de levar adiante e até o fim, com outras forças políticas, a luta de libertação da palestina, criando o Estado Palestino, com Jerusalém como sua capital.


 


 


A delegação Palestina


 


 


Não poderia deixar passar sem registrar a minha grata satisfação em conhecer duas pessoas magníficas. Trata-se do Dr. Nabil Khalil, palestino, que é assessor do ministro Tayssir Khalid, da Diáspora, que esteve conosco no Brasil entre os dias 19 e 24 de novembro. Dr. Nabil (doutor em Ciências Sociais pela universidade de Havana em 1998 e com outro doutorado pela Universidade de Toronto, no Canadá), é experiente jornalista, tendo trabalhado em diversos órgãos e em vários países, principalmente na América Latina. Veio ao Brasil com a missão ministerial de dialogar com famílias palestinas em nosso país. Deverá voltar outras vezes.


 


 


O segundo camarada que conhecemos foi Rafael Masri, neto de palestinos, mas nascido no Chile e um “quase” sociólogo, nosso colega (foi perseguido pela ditadura de Pinochet em 1973 quando do golpe militar que derrubou Salvador Allende). Rafael é antigo militante político, marxista-leninista e representa a FDLP no campo político para a América Latina. Entre os vários contatos que eles tiveram em São Paulo, Campinas e Americana, destacou-se um carinhoso almoço na casa da Drª Jamile, filha de palestinos, na cidade de Americana, realizado no último dia 23 de novembro, que reuniu umas 30 pessoas. Agradeço de público à Jamile e à Abdel, seu marido (médico), bem como ao camarada Ali El-Khatib, superintendente do Instituto Jerusalém, que ajudou na convocação e mobilização em cima da horas das pessoas e convidados, às quais tivemos a honra de contar com a camarada Lâmia Marouf, que esteve presa em Israel por mais de 10 anos (seu marido continua lá há 22 anos na cadeia). Militamos juntos, em 1984, na Juventude Palestina no Brasil, que, à época, chamávamos de Sanaud (que em árabe quer dizer “voltaremos”).

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