Pintar o verde e o amarelo no multicolorido Clae
O movimento estudantil latino-americano vive as vésperas do seu 15° Congresso. A cidade de Quito, capital do Equador, será a sede do próximo Clae – Congresso Latino Americano e Caribenho de Estudantes, que pretende reunir mais de cinco mil participantes l
Publicado 31/10/2007 18:38
Os anfitriões são a Federação de Estudantes Universitários do Equador (Feue), a Federação dos Estudantes Secundários do Equador (Fese), a Federação dos Estudantes Politécnicos do Equador (Fepe) e a Federação dos Estudantes Universitários Particulares do Equador (Feupe) que co-realizarão o evento com a Oclae. Um trabalho coletivo que une todo movimento estudantil organizado no país para construir um histórico congresso capaz de acolher delegações de mais de 30 países comportando mais de 50 organizações estudantis da América Latina e outras regiões do planeta. O novo momento político vivido pelo povo equatoriano de maior abertura democrática aos movimentos sociais conferidos pelo atual governo de Rafael Correa é outro elemento que em muito contribuirá para o êxito do evento.
A delegação brasileira, organizada pela União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), União Nacional de Estudantes (UNE) e a Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), será composta por diversas lideranças estudantis de diferentes regiões e forças políticas de todo o país que, mesmo a milhares de quilômetros de distância e com uma “barreira” geográfica da dimensão dos Andes para inviabilizar a chegada por terra, estarão presentes para contribuir no debate sobre a educação no continente, estreitar relações com organizações irmãs e impulsionar o movimento estudantil regional na defesa da integração entre as nações nos marcos da consigna do próprio evento de que “Unida, América Latina triunfa”.
A participação das três entidades brasileiras é motivo de saudável orgulho e fato que aumenta a responsabilidade em se lograr reunir uma expressiva e qualificada delegação que permitirá dar uma maior contribuição ao fortalecimento da rede do movimento estudantil em todo o continente. Essas três organizações fazem parte do Secretariado Geral da Oclae – composto por quinze entidades – o que impõem um compromisso ainda maior que deve se refletir em um trabalho internacionalista cada vez mais organizado. No caso da UNE a obrigação é ainda maior por sua trajetória e respeito adquirido a nível mundial e, sobretudo, pela posição de destaque que ocupa no Secretariado Executivo sediado permanentemente em Havana, Cuba, juntamente com a Federação de Estudantes Universitários (FEU) de Cuba e a União Nacional de Estudantes de Nicarágua (Unen).
Nesse Congresso no Equador muito além de se aprovar a nova composição diretiva da Oclae para o próximo período o que deve estar na pauta central é a definição de uma linha política avançada e unificada para o movimento estudantil continental nos próximos anos. Uma plataforma de ações em torno de uma agenda intensa de atividades que necessita ter como centro a educação a serviço de uma integração entre povos e nações para fazer frente ao poder imperial ianque que ademais de fustigar a educação pública, impondo uma lógica mercantil seguida pelos países alinhados a sua política, historicamente promove constantes agressões aos nossos países pela via econômica, política e mesmo militar. Um protagonismo mais institucional da Oclae com presença mais destacada em diversos fóruns dos movimentos sociais e governos deve ser outro encaminhamento importante a ser apontado pela entidade onde uma atuação mais elaborada com ações propositivas, principalmente junto aos governos progressistas da região, pode render bons frutos.
Ontem e hoje o movimento estudantil se reúne advogando causas que são inerentes à sua gênese. O integracionismo, o anti-imperialismo, a solidariedade internacional, a defesa da educação pública e a construção de uma nova sociedade são bandeiras comuns que une a todas as organizações de todas as gerações.
A nova fase por qual passa nosso continente é percebido pela Oclae como um inédito e extraordinário período repleto de possibilidades para se alcançar muitos desses objetivos históricos há décadas pleiteados. O combate ao analfabetismo, por exemplo, antes inatingível na Bolívia com seus governos elitistas hoje pode se viabilizar em curto prazo com um governo progressista que prioriza e utiliza a educação na diminuição das desigualdades sociais e da pobreza do seu povo com a adoção do método cubano de alfabetização chamado “Yo sí puedo”. Os estudantes bolivianos organizados devem se posicionar na linha de frente desse trabalho.
Mesmo no Brasil o sistema nacional de educação e pós-graduação passa por intensas mudanças que exigem acompanhamento permanente. Propostas e ações avançadas adotadas pelo governo devem ser apoiadas sem vacilação como também outras, que expressam os desejos de setores ligados à educação privada e representam atrasos na concepção plena da educação, devem ser rechaçadas prontamente. Esse é um dos princípios básicos da independência do movimento estudantil brasileiro que goza de autonomia para apoiar ações e medidas progressistas como também tem a liberdade para refutar planos e iniciativas que comprometam a educação de qualidade e humanista que defendemos.
E o papel da educação nessa formação humanista de homens e mulheres que irão erigir a “Pátria Grande” de Artigas e a “Nuestra América” de Martí será fundamental, mas, além disso, uma educação de qualidade com uma ciência de ponta capaz de inserir os países latino-americanos em projetos estratégicos comuns que navegue na fronteira do conhecimento em áreas nevrálgicas como semicondutores, nanotecnologia, biotecnologia, informática entre outras, será, sobretudo, vital para romper os grilhões do atraso e diminuir as graves assimetrias e a dependência tecnológica que reflete diretamente no aspecto econômico e social.
Essas assimetrias são expressas nas distintas realidades dos países evidenciadas no grau de consolidação de cada sistema educacional e científico. Da mesma forma o movimento estudantil em cada país guarda suas limitações e lacunas e o congresso da OCLAE é um desses momentos privilegiados de intercâmbio e de união de forças para transformar as deficiências específicas de cada país em força motriz eficaz de uma ação conjunta em torno de objetivos comuns.
Dessa maneira, a luta contra os Tratados de Livre Comércio deve ser tema destacado que precisa unificar todo o movimento estudantil da América Central, especialmente Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica, que juntos devem somar esforços para criar um grande e supranacional movimento de resistência e rompimento desses planos anexionistas que sucumbe toda a economia dessa região e põem a educação na mesma prateleira das outras mercadorias negociadas.
De igual forma, organizações estudantis de países que hoje fazem parte de projetos integracionistas contra-hegemônicos como a Alba ou o Mercosul, carecem de um trabalho sincronizado para cobrar dos governos envolvidos mais ações voltadas à educação – concebendo-a como imprescindível instrumento de integração -, implementando políticas de mobilidade estudantil, intercâmbio científico, criação de universidades regionais, políticas de fixação de “cérebros” e outras iniciativas que torne mais tenaz a coesão desses blocos.
No multicolorido Congresso da Oclae, onde bandeiras de todas as entidades e países do continente e outras partes do mundo serão desfraldadas, o verde e amarelo mais uma vez estará presente, representando a unidade na diversidade e o amálgama de nacionalidades e organizações estudantis com os mesmos objetivos centrais que nos une há décadas.