Polemizando a CPMF

Minha última coluna “porque sou contra a CPMF”, publicada em 9 de novembro, teve o mérito de quebrar a monotonia. Recebi dezenas de correios eletrônicos polemizando o assunto, com variados tipos de manifestação.

Alguns raivosos, certamente redigido por alguma “viúva” do tucanato; outros confusos, que apelavam por melhores esclarecimentos do meu ponto de vista; e ainda um expressivo grupo que polemizou em elevado nível, concordando ou discordando, mas sempre buscando encontrar a melhor saída para o país e os trabalhadores.

As “viúvas” do PSDB não merecem respostas, até porque não buscaram isso. Apenas destilaram o seu ódio de classe, de etnia, de região, etc. Expressam o que de mais atrasado há no pensamento e na prática da direita brasileira. Foi essa mesma matriz de pensamento que tentou “demonizar” a candidata Dilma Roussef e fez do obscurantismo sua plataforma política, desejosos, quem sabe, que os candidatos assumissem o compromisso de novamente colocar a “terra no centro do universo”. Sem mencionar o ódio regionalista que expressaram após o resultado eleitoral.

Os que efetivamente polemizaram merecem não apenas o meu respeito, mas todos os esclarecimentos que eventualmente eu possa adicionar aos meus escassos argumentos. Vamos a eles.

A direita deveria elogiar a coluna. Afinal eu me manifesto contra a CPMF, o que em tese é convergente com o ponto de vista político deles. Por que tanto ódio contra uma indefesa coluna e um anônimo escritor?

Por várias razões, dentre as quais se destacam as seguintes:

1º. A direita não é contra a CPMF. Foi o governo FHC que a criou e a usou por todo o seu mandato. A direita derrubou a CPMF no Senado para criar dificuldade financeira ao governo e restringir o atendimento de saúde ao povo mais simples, afinal seus eleitores da Avenida Paulista não usam o Sistema Único de Saúde. E, principalmente, para evitar rastreamento das milionárias transações financeiras, efeito colateral não previsto quando eles criaram a contribuição.

2º. Porque eu demonstro que o desvio de finalidade dos recursos da CPMF ocorreu precisamente sob a gestão de FHC na presidência da república. Ao invés de saúde pública para o povo a CPMF patrocinou vinhos e quitutes para a residência oficial do presidente.

3º. Porque igualmente eu demonstro que empresário não paga imposto. Quem paga imposto é o povo, o consumidor. Logo a grita contra chamada elevação da carga tributária não passa de escapismos da direita.

Por outro lado, meus camaradas e companheiros e companheiras, não nos deixemos enredar pelo discurso catastrófico daqueles – alguns, aliados nossos – que sustentam que a volta da CPMF é imprescindível para assegurar mais recursos para a saúde publica.

Esses mesmos já sustentaram, repetindo o jargão dos tucanos e sua caricata “responsabilidade fiscal”, que a previdência era deficitária e que qualquer aumento do salário mínimo quebraria de vez a previdência e as prefeituras.

Qualquer analista sério sabe que a previdência é superavitária e que o aumento do salário mínimo não quebrou as prefeituras. Ao contrário. Colocou mais dinheiro em circulação, elevou o padrão de vida de milhões de brasileiros, mesmo que de forma modesta, e ajudou no crescimento econômico do país.

A conta da previdência só é deficitária quando o governo debita despesas sociais que embora sejam extremamente justas não são de natureza previdenciária, como, por exemplo, a aposentadoria rural.

É preciso mais recursos para a saúde? Sim, sem dúvidas. Como é necessário mais recursos para a produção de alimentos, para a infra-estrutura produtiva, para a erradicação do analfabetismo e a eliminação da fome. Falta recursos para muitas demandas. Eles não podem sair sempre da mesma fonte: o povo, o consumidor, uma vez que, repito, empresário não paga imposto.

A saída, portanto, é buscar recursos numa fonte que não aumente a carga tributária, que não impacte o consumidor e ainda incremente o crescimento econômico. Essa fonte é a sangria bancária.

Esse ano o governo deve pagar algo como 180 bilhões de reais em juros da divida pública, o que significa que cada ponto percentual nos custa algo como 18 a 20 bilhões de reais.

A conta é simples. Uma redução de, digamos, 3% na nossa taxa de juros evitaria uma despesa de algo como 54 a 60 bilhões de reais. Valor, como se pode ver, bem superior aos 40 bilhões arrecadados com a CPMF.

Essa medida, dentre as mais salientes, se enfrentada adequadamente pode de fato resolver as deficiências não só de saúde, mas de todo esse elenco de necessidades aqui listadas.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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