Por que os brasileiros são mais ricos que os chineses?
Por trás da aparência de riqueza no Brasil, escondem-se heranças da escravidão, desigualdade extrema e uma classe média sustentada pela exploração do trabalho doméstico.
Publicado 11/04/2025 14:15 | Editado 11/04/2025 12:41

Em um vídeo do Instagram, yili.oichina, boa repórter e professora chinesa pergunta:
“Por que os brasileiros são mais ricos que os chineses?”
Ela fala:
“Por que eu acho os brasileiros mais ricos que os chineses?
Apesar da China ser o país com o maior poder de compra do mundo, desde 2017, sempre acho que os brasileiros são mais ricos que os chineses. Não estou falando dos milionários ou bilionários, estou falando dos meus amigos com renda média
Primeiro, no Brasil, a maioria dos meus amigos têm empregada em casa. Enquanto na China só os mais ricos conseguem ter.
Segundo, no Brasil, muita gente tem sítio ou casa de férias ou fazenda. Enquanto na China quem tem fazenda ou sítio, com certeza, é uma pessoa super-rica, como dono de uma empresa ou celebridade.
Terceiro, percebo que muitos brasileiros consomem, pelo menos uma vez por semana, carne de boi. Enquanto na China comer carne de boi é um luxo. Geralmente, optamos por comer frango, peixe ou porco, que são mais em conta”,
Pode ser visto aqui:
Então, para esse vídeo no Instagram, comentei sob o post:
“É uma percepção de ilusão. O Brasil tem uma sociedade de classes. Mesmo a classe média se beneficia de uma sociedade de classes, como, por exemplo, ter empregada doméstica. (Herança da escravidão.) As pessoas negras raramente são de classe média. Mas quando atingem tal posição, copiam os costumes e valores da classe média. Sou admirador da repórter. Mas sua fala mereceria um novo post”.
E agora, neste artigo, acrescento, de uma experiência vista e vivida. Numa terça-feira de carnaval à noite, no Recife, vi uma jovem à minha frente, empenhada em ver a passagem de um maracatu. Uma recuperação de culto e festa negra. Mas junto à jovem estava uma senhora, carregando no rosto e modos a servidão abrigando nos braços um bebê. Os tambores, as fantasias, eram de matar qualquer atenção dirigida à criança, que afinal estava bem cuidada, sob uma corda invisível que amarrava a empregada. Então eu, no limite da raiva, oferecei o meu lugar à sua escrava sobrevivente, com a frase: “a senhora, por favor, venha com o seu filho aqui para a frente”. A empregada quis se explicar, coitada, morta de vergonha, enquanto a doce mamãe não entendia o chamamento irônico, pois me olhava como se eu fosse um marciano. Espantada, parecia me dizer: “como o meu filho pode ser dessa aí?”.
Quantas vezes vemos nos restaurantes jovens casais com suas lindas crias, tendo ao lado as escravas que sobrevivem no Brasil hoje, que nem sequer têm direito a provar da bebida e da comida do restaurante? Isso nos domingos e feriados, pois esses são os dias dos patrões se divertirem.
Não faz muito, ainda no Recife, houve o caso da empregada Mirtes e seu filhinho Miguel, que caiu para a morte do alto de um dos sonhos da classe média, os edifícios chamados de Torres Gêmeas. (Que nome irônico!) Nas imagens de vídeo da morte da criança, foi terrível ver que, diante do corpinho estendido do filho no chão, a empregada Mirtes ainda segurava o cachorrinho da patroa. Chorava, gritava para os céus, mas mantinha a rédea curta para o cachorrinho da patroa Sari. A empregada Mirtes abia que cachorros sozinhos fogem e podem morrer, quem sabe atropelados. Mas a patroa não sabia, ou nem quis saber, que criancinhas de 5 anos podiam agir como cães soltos. Mas como esse cão não era dela, ela o soltou. “Não tenho nada com isso”, a patroa pensava, ou como falou em depoimento à polícia: “Não tenho responsabilidade sobre a criança. Então eu deixei a criança ir passear”. Sozinha no elevador! A patroa não estava ali para ser a babá do negrinho.
Em resumo: a boa repórter e professora, que realizou bons posts aqui Instagram, ou aqui Instagram, poderia fazer outros vídeos sobre o povo brasileiro. Que é mais pobre e com séculos de atraso frente aos chineses.