Por uma cultura de paz

Não sei ao certo quantas vezes já escrevi sobre o termo violência nas duas décadas de legislatura que cumpro no Congresso Nacional. Inmeras, digo, que se replicam mais vezes que os dedos das próprias mãos. É uma realidade que nos confronta repetidamente, em diferentes nuances, facetas e mostras precisas do que devemos combater.

A guerra pode surgir de diferentes formas e em diferentes cenários, como um monstro tomando conta de nosso espaço, um vírus contaminando todos com um ódio descomunal, desafiando a forma mais animalesca do ser humano. Foi aquilo com o que o pequeno Igor, de apenas 11 anos, se deparou no último domingo (8), nas arquibancadas da Arena Joinville, em Santa Catarina.

O menino pôde ver com seus próprios olhos a fúria que se alastrou, ferindo gravemente outros torcedores e pondo, na mesma proporção, sua vida em risco. Podia ser meu filho, o seu, tantos outros jovens que recorrem ao esporte como um entretenimento saudável. Um estádio lotado deles. Quantos pais ainda se desesperarão com situações como a desta semana?

Da violência do futebol – que precisa imediatamente de prevenção e controle por parte dos governos – dou um salto sobre todos os tipos de agressão que sofremos ou deixamos sofrer por uma cultura verdadeiramente sem paz. Da mulher ferida pelo companheiro ao estudante sem aula, a sociedade mostra rotineiramente a face menos evoluída que temos.

O mesmo pode ser aplicado aos inúmeros relatos de violação dos direitos humanos nas grandes metrópoles, a exemplo de Rio e São Paulo, onde os cidadãos de menor renda são tratados como subcidadãos. A pobreza sem perspectiva, sem oportunidade, sem direitos e vulnerável ao preconceito, não é uma das maiores manifestações da violência do próprio Estado capitalista?

E os movimentos sociais criminalizados? A falta de acesso aos serviços de saúde? O sofrimento da dor na fila estagnada de uma emergência ou de um posto de saúde que nunca marca a consulta? Parecem socos desferidos diariamente em milhares de cidadãos. Brasileiros tanto quanto Igor, lá no estádio, sendo tocado pelo terror de uma cultura sem paz, pautada pela carência histórica de humanização.

O que pleiteamos é uma sociedade onde a paz não signifique apenas a ausência de conflitos, mas sim a busca por solucioná-los através das mudanças de comportamento, de políticas públicas universais e eficazes na superação de desigualdades e construção de novos valores. Emprenhar as atuais e futuras gerações de uma cultura de convivência e solidariedade, integrar educação e cultura, requalificando conteúdos, dar respostas efetivas às necessidades do povo. Um novo patamar civilizacional contra a barbárie.

Símbolo da luta contra a discriminação racial e pela paz, o grande líder Mandela já deixava eternizado antes de partir: “Ninguém nasce odiando. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar. Nossas saudosas homenagens.

Que a violência e o ódio entre as pessoas sejam apenas um parágrafo em nossa História.

Na nossa e de Igor.

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