Por uma educação que forma para além de tijolos em um muro

É preciso reagir, educar, ser solidário e não solitário.

Mural na Universidade do Bío-Bío, no Chile

  “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” Paulo Freire

Pink Floyd cantava em uma das suas famosas letras como a educação alienante tentava formatar e padronizar as crianças, controlá-las, não permitindo senso crítico ou nada que fugisse do roteiro pré-estabelecido por professores que fariam Paulo Freire rolar no túmulo de vergonha.

É inegável que a educação avançou, que nossa escola não é mais a dos anos da ditadura brasileira, do ensino com castigo físico e constrangimento dos estudantes. Mas, ainda hoje, a educação reflete o formato acadêmico da Idade Média. Isso se dá desde a maneira que são dispostas as bancas escolares até o método, com o professor como centro do processo de ensino-aprendizado. Praticamente tudo no mundo globalizado sofreu algum tipo de mudança relevante: a educação, muito pouco.

A verdade é que a educação, dedicada, reflexiva, que ajude nas discussões, problematizações, na formação de pessoas com um senso crítico acurado, nunca foi tão necessária como em tempos de populismo que hora vivemos…

O desafio posto é gigantesco. Estamos no século XXI assistindo à formação educacional de uma geração que não viveu as grandes guerras mundiais, as crises do capitalismo, a Ditadura Militar brasileira, sequer viveu o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo!

A sociedade segue mergulhada em redes de intriga no whatsapp, facebook e afins; vê aflorar um sistema de compartilhamento de mensagens e disparos formados em preconceito, raiva e outros que não tem nenhum embasamento histórico, nenhuma solidez acadêmica, mas convencem, formam, pautam…

Há uma reação preocupante sobre a educação: o próprio governo federal, que deveria defendê-la fervorosamente, passou o primeiro ano em meio a uma guerra com o ensino público, transparecendo uma espécie de raiva pela academia, adjetivando-a de maneira pejorativa, prejudicando inclusive nossa pesquisa e as verbas alocadas nessa.

O desafio de nós, professores, é garantir efetivamente a reflexão, transformar e ressignificar a sala de aula em espaço efetivo do bom debate, da discussão que dialogue com a criticidade. É preciso que a educação proporcione aos estudantes o conhecimento, mas também a reflexão sobre o conhecimento edificado pelo mundo até hoje, que a escola cumpra um papel social, decidido e apoiado nas necessidades postas por esse mundo atual. É indispensável enfrentar esse desafio. Ao fazê-lo, podemos materializar o que Paulo Freire dizia quando argumentava que ninguém liberta a ninguém, as pessoas libertam a si próprias, mas mediadas pela educação e pelo conhecimento do mundo em que estão imersas.

Algumas vezes parece que estamos no cenário distópico de Matrix, aquele do filme com Keanu Reeves, revolucionário para o seu tempo, mas hoje um filme antigo (!), dos anos de 1990, que apresentava um mundo imerso na rede de computadores, manipulado por ela. Os irmãos Wachowski mal sabiam que anteviam o século seguinte, em que as redes viriam a parir governantes, agudizariam o ódio e as contradições, potencializaram os preconceitos, alienariam, e cindiriam o mundo.

Uma das frentes de luta que se destaca nessa conjuntura é a educação. Ela pode e deve colaborar na superação de tudo isso: tirar-nos da matrix. Um processo dolorido às vezes, é bem verdade, mas que pode mudar uma geração, criar pessoas mais autônomas, decididas, críticas e reflexivas. Uma geração que não seja tão vulnerável ao engajamento praticamente automático às correntes de disseminação de opiniões geradas nas redes.

A verdade passou a ser o que está nas redes e não nos livros, isso torna a todos nós vítimas de uma violência exercida dia após dia contra a lógica, a ciência, o senso crítico e a reflexão. É preciso reagir, educar, ser solidário e não solitário. Aqui não se trata de mero discurso, mas uma proposta efetiva de diretivas de como superar a crise de paradigma em que uma geração está se metendo. A História mais adiante contará sobre esse momento que o planeta vive e não será algo pra se orgulhar. É preciso virar a página, sermos melhores conosco e com os outros. Todos são chamados a serem educadores em um contexto como esse.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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