Presentes de Natal

Noite de Natal. Depois de um dia percorrendo lojas apinhadas de gente e de uma ida a um supermercado repleto de carrinhos atulhados de mercadorias, voltei para casa aliviado por ter encontrado presentes que, acreditava, iriam agradar bastante a quem os recebesse.

 Ao abrir a porta do elevador fui recebido por gritos de alegria e de prazer pelo reencontro. Flora e Francisco estavam felizes e esbanjavam energia. Ambos correram para apanhar pequenos objetos espalhados pela sala com a intenção não só de mostrá-los, mas de também dizer os seus respectivos nomes. Novas palavras iam se adicionando rápido ao vocabulário deles, como se a cada palavra pronunciada um novo mundo se abrisse. Como se nos lembrassem continuamente da força e do poder das palavras, de que no princípio foi o Verbo.

A descoberta do mundo na primeira infância fascina os adultos, pois se fundamenta sobretudo na relação lúdica com tudo o que existe ou o que pensamos que existe. As crianças percebem coisas que nossa sensibilidade já embotada não consegue mais captar. Elas nos ensinam a reeducar o olhar, a exercitar a paciência, a reter um pouco a ditadura do tempo e a recuperar a nossa capacidade inata de se adaptar a situações novas movidos pelo prazer da descoberta. Para Albert Einstein “a aprendizagem em geral, a busca da verdade e da beleza são domínios em que nos é permitido manter-se crianças a vida inteira.”

Uma festa anual que festeja o nascimento do mentor da cultura cristã ocidental, mas profundamente contaminada pela imposição do consumo indiscriminado e luxurioso, nada ou pouco significa para aqueles dois seres sorridentes cujo interesse perambula pelo ambiente e por vezes se detém em algo que os atrai.

Coloquei os presentes sobre a cama indicando apenas o que seria de quem. Francisco logo apanhou o seu. A princípio lhe pareceu um objeto estranho, mas rapidamente encontrou uma função prazerosa e dinâmica para ele. Flora deteve-se com ar mais conhecedor naquelas pequenas imitações do mundo adulto. Sabia bem como utilizar cada uma delas, pois há quase dois anos observava os adultos e os seus comportamentos. Afinal imitar é um dos prazeres mais naturais da espécie humana.

Afora o valor simbólico dos presentes nessa época do ano, o importante é despertar nas crianças sentimentos nobres e construir relações que vão bem mais além dos objetos. Essa é uma tarefa diária e ininterrupta para que tenhamos não apenas um ano novo supostamente feliz, mas um futuro digno e harmonioso fundamentado em valores mais perenes. Só assim seremos bem sucedidos.

Nesse sentido, o filósofo americano, Ralph Waldo Emerson nos ensina a obter o afeto das crianças e desse modo atingir o sucesso: “Rir muito e com freqüência; ganhar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; merecer a consideração de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma criança saudável ou um canteiro de jardim. Isso é ter tido sucesso.”

Então, sucesso para todos em 2010!

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