PROUNI, um atalho pro hip-hop superior

Venho com boa noticia até mesmo para aqueles que torcem o nariz para a proposta do PROUNI.


 


A coisa vem dando certo. Você já deve ter ouvido a ladainha tentando desqualificar a proposta dizendo que não é o que queríamos e não é o

Como estes parecem desconhecerem os fatos e a realidade trago a baila uma mostra que acompanhei de perto, protagonizado por manos do hip-hop que adentraram na faculdade pelo PROUNI.


Vou citar duas lideranças do movimento hip-hop em Lins, cidade do interior paulista a 500 km da Capital. Seus nomes: Jorge e Ivan que estão cursando o 3º ano da faculdade de Educação Física na Salesianos.


Negros e moradores de um bairro pobre em Lins, ao entrarem na faculdade perceberam os olhares estranhos dos filhinhos de papai, tipo de quem pensavam: O que estes aí estão fazendo aqui?


 


E me disseram que todos com os quais conseguiam minimamente fazer algum diálogo tinham como preocupação a seguinte pergunta:
– Vocês estão conseguindo pagar o curso?


 


E a infelicidade alheia era quando diziam:
– Estamos aqui pelo PROUNI.


 


Perceberam também por parte dos professores aquele certo despeito com a possibilidade de acompanharem o curso, e o resultado foi que nos dois primeiros anos tiveram as melhores notas da turma. Quanto ao convívio não se intimidaram e foram em busca de ocupar seus espaços; primeiro propondo atividades culturais, com o hip-hop é claro, e levaram um dos primeiros b.boys da cidade que faz oficinas em FEBEM's da região para se apresentar dentro da faculdade e relatar suas experiências. O b.boy chama-se Crânio, que também é graffiteiro e não perdeu tempo em levar o graffiti pra dentro da faculdade.


 


Vencida a primeira etapa, começaram a discutir a chapa pra disputar o DA do curso e simplesmente arregaçaram a boca do balão.


 


Quando estive com eles, fui recebido na escola estadual onde Crânio ministra oficinas de dança e graffiti com a molecada do bairro, e depois nos reunimos na loja de artigos de hip-hop do Ivan que serve como point da galera do hip-hop e do Skait da cidade. Estavam programando uma atividade destes segmentos com os estudantes da faculdade.


 


Perguntei pro Ivan qual seria a meta que eles queriam atingir, e a resposta me comoveu:
– Mano, só vou sossegar quando tivermos toda esta galera do hip-hop e do skait estudando na universidade. De preferência queremos uma pública aqui na cidade, ou então invadirmos a UNESP. Enquanto isto não chega, o PROUNI serve como um atalho pra trilharmos este caminho da busca por um curso superior. Eu mesmo não me dou por satisfeito, quero fazer uma UNESP, mas só de estar onde estou já é um grande avanço, minha cabeça já é outra e percebo que consigo fazer muito mais pelos meus manos e minha quebrada.


 


Fala aí galera, é ou não é foda a consciência desta rapaziada? E isto é apenas um exemplo dentre muitos que presenciei. Faço questão de mencionar estes manos, pois inclusive estou na divida com eles.


 


Gostaria de falar também o que penso sobre o pessoal que critica a proposta do PROUNI. São uns filhinhos de papai que pensam que sabem o que é melhor pra periferia sem nunca terem passado um veneno na vida. Estes são os legítimos ''Zé Povim'', atrasa lado, pela sacos. Acham que o povo não sabe onde quer e precisa chegar. O problema é que estes piseudos iluminados acham demais e conhecem de menos a realidade.


 


Já não bastam as barreiras que este sistema secular de exclusão criou para nós, alguns ainda querem despistar os atalhos achados.


 


Terá ''Zé Ruela'' que depois de ler esta fita vai dizer:
Este cara é um governista de primeira, um Lulista incontestável.


 


Respondo pra estes também: O Lula não está dando nada pra ninguém isto é um direito nosso, e mais. Isto é uma conquista da juventude que sempre gritou nas periferias e não eram ouvidas. Além do mais, penso que temos que pressionar este governo que esta ai, pois queremos muito mais.


 


Queremos milhões de vagas pelo PROUNI, queremos cotas nas universidades públicas, queremos a construção de várias universidades federais e principalmente uma profunda revolução na escola pública e no ensino fundamental. E isto só vem com muita pressão popular e a massa da juventude da periferia chegando junto, saindo do ciclo vicioso para o qual sempre fomos empurrados e ir ocupando outros espaços no qual até então não entravamos.


 


Sobre a questão de transferência de verba pública para o ensino privado respondo o seguinte: melhor que seja usado desta forma neste momento do que pra pagar juros para banqueiro ou pra dívida interna, externa ou extraterrena. Quanto mais verba conseguirmos pra isto significará menos contingenciamento nas questões básicas e menos dinheiro pra pagar juros pra elite. Depois, melhores organizados e pressionando aplicamos a moratória total na playboizada.


 


Onde queremos chegar nós sabemos, os meios pra se chegar lá é que vamos criando e descobrindo, estamos apenas começando…


 


Aí Jorge, Ivan, Julião, Crânio e toda rapa de Lins, segura o esquema aí que tamo chegando. Ah… aproveita e toma o DCE de assalto também pra perifa que tem que ser tudo nosso!

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