Quando os americanos saem do Iraque?

A invasão e ocupação do Iraque completará, em março de 2009, seis longos anos. Como em janeiro do ano que vem um novo governo toma posse nos Estados Unidos – e deve ser provavelmente um Democrata, Barak Obama – a movimentação começou em todos os país

Breve histórico da ocupação


 


 


O ataque maciço de tropas americanas e inglesas à nação árabe do Iraque deu-se precisamente na noite de 19 de março para o dia 20. Era o ano de 2003. Desde janeiro, havíamos formado no Brasil, em São Paulo, um Comitê Contra a Guerra no Golfo e em apoio ao Iraque. Fizéramos uma imensa manifestação em fevereiro e a repetimos em março, como ocorreu em mais de cem grandes cidades do mundo. Milhões foram para ás ruas, mas nada disso foi suficiente para impedir o bombardeio gigantesco, a morte de milhares de civis e a ocupação em apenas 19 dias de guerra.


 


 


Em maio, Bush, à bordo de um dos seus porta-aviões nucleares, anunciou ao mundo a sua “Missão Cumprida”. O Iraque estava ocupado, Bagdá ocupada, o presidente Saddam Hussein foragido, o exército dissolvido completamente, assim como todas as polícias, a máquina de administração pública. Começa o desmonte do Estado iraquiano, a implantação do neoliberalismo selvagem, privatizações de todas as estatais, privatização e precarização dos serviços públicos e, principalmente, acesso da riqueza do petróleo às empresas privadas americanas. A ativista canadense antiglobalização Naomi Klein chama isso de Capitalismo do Desastre. A fase mais aguda do modelo neoliberal, agora em franca decadência.


 


 


As tropas americanas, que somadas a outros contingentes, atingiram até 150 mil soldados (hoje em torno de 144 mil), passaram a fazer o papel de gerente do país, policiais, seguranças, vigias e protetores das empresas e consultores americanos, que infestaram a nação árabe. Dados mais confiáveis dão conta de gastos militares que já superam um trilhão de dólares, cinco mil soldados americanos mortos e mais de 20 mil feridos e em torno de pelo menos cem mil iraquianos mortos, feridos, mutilados. Tudo isso para tentar confirmar o que o mundo inteiro já sabia: o Iraque não tinha e nunca teve as tais armas de destruição em massa alegada como argumento principal para a invasão.


 


 


Ainda no mesmo mês de maio de 2003, o mesmo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que Bush se recusou a pedir autorização para o ataque, preferindo uma ação unilateral, pois sabia que o CS/ONU recusaria o pedido, acabou por aprovar por unanimidade (15 a zero), com o voto do Brasil inclusive, o ato de concessão para que os Estados Unidos tivessem o mandato para administrar a ocupação em nome da ONU. Tal mandato vence agora em 31 de dezembro e por isso a discussão sobre a desocupação.


 


 


O prazo de saída


 


 


Sabendo da decisão de ter que desocupar, com a aproximação do término do mandato por concessão da ONU, os Estados Unidos abriram uma discussão com o governo do Iraque. O primeiro Ministro, Nuri El Malki, da corrente xiita do islamismo – majoritária no país – iniciou os debates afirmando que não aceitaria a continuidade da presença das tropas americanas.


 


 


Essa posição é falsa, pois esse mesmo Malki, colocado por imposição dos americanos (ainda que referendado em eleições cuja legitimidade é contestada até hoje), sempre apoiou a ocupação e sabe que seu governo não se sustentaria sem a presença de tropas americanas em solo iraquiano. Mas, ele vem sofrendo pressões entre os próprios xiitas, especialmente os liderados por Moqtada El Sadr. No último final de semana, os seguidores de Sadr realizaram uma imensa passeata de 50 mil iraquianos exigindo a saída das tropas.


 


 


O problema central não é o ponto de divergência no acordo. Além da data final da retirada, que os americanos estão propondo que seja 31 de dezembro de 2011, ou seja, daqui a três anos, a questão crucial é a imunidade jurídica para todos os cidadãos americanos, sejam eles soldados ou pessoal administrativo dos Estados Unidos. Seria um acordo de que todos americanos, detido, mesmo flagrante
Cometendo algum crime, não seria nunca julgado pelo poder judiciário americano. Incrível essa proposta, mas é dessa forma mesmo que esta posta. Mesmo esse governo entreguista e subserviente de Malki, tem dificuldades em fazer passar tal proposta entre os deputados xiitas, que possuem maioria no parlamento.


 


 


O negociador da proposta do lado americano é o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, ex-diretor geral da CIA. Ele, neste momento, tem duas opções. Ou tenta no Conselho de Segurança das Nações Unidas a renovação do mandato sobre o Iraque, ou faz esse acordo com o governo de turno nesse país, árabe. Ele sabe que na teria sucesso algum, neste momento, na ONU, pelo isolamento por que passam os Estados Unidos.


 


 


No próximo dia 4 de novembro, eleições presidenciais ocorrerão nos Estados Unidos, com uma possível vitória de Obama, Democrata. Nada deve ocorrer no mundo árabe antes disso, para ver quem se sagrará vencedor nesse combate eleitoral. Por isso, acho que o que deverá acontecer é que o Iraque deve seguir fazendo concessões no plano de retirada das tropas e aceitar alguma forma de imunidade ao pessoal americano.


 


 


Lembro-me perfeitamente de um dos vários artigos que li em 2003 quando da invasão, escrito pelo combativo escritor paquistanês Tariq Ali. Em uma entrevista dada a um jornalista inglês Ali menciona que os americanos ficariam pelo menos 10 anos no Iraque e mesmo que saíssem, deixariam lá suas bases militares e um reserva de tropas. Se ficarem mesmo até final de 2011, terão completado oito anos presentes e Ali terá acertado a sua previsão.


 


 


De nossa parte, espero que saiam o mais breve possível.

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