Quem matou o hip-hop?

Mil dias sem colar aqui, deixando o espaço para os parceiros representar. As missão nervosa, us BO…. Se abismando com uma par di fita. E a caixa preta num para di registrar tudo!

 


“Como é que não escutou? Só pode ser boicote. Como é que boicotou, se o rap é tão forte.” Helião & Viela 17


 


Dês que o hip-hop surgiu, existe uma perseguição sistemática, permanente e fracassada ações para extermina-lo. Mas o NAS com seu disco Hip-Hop is Dead reacendeu as previsões apocalípticas do fim do maior movimento de contra-cultura da humanidade, o movimento hip-hop.


 


“Eu sei que não é assim que eles querem que eu cante. Que eu injete adrenalina na mente dos militantes.” Face da Morte


 


Cheguei a ver até um rapper de Portugal “réu confesso” que diz que também matou o hip-hop. E explica sua tese “porque alguém quando morre as pessoas elogiam do estilo era boa pessoa, dão aquele mérito que não acaba, o tal que nunca deram quando a mesma pessoa estava viva”


 


Se instalou a polêmica dentro do movimento, ou o que sobrou dele, caso tenha definitivamente sucumbido. Dividindo duas torcidas a do: Hip-Hop já era X Nunca teve tão forte.


 


Eu não sou adepto de nenhuma das duas vertentes. Não que, não tenha opinião. É que penso que a pergunta a ser feita é outra, deveria ser: “Quem matou o hip-hop?” É piq novela. Quem é o assassino do movimento? Se não há cadáver não há assassino, ainda assim quem é o inimigo do hip-hop? Quem contrataria um matador de aluguel? Quem tem descarregado contra o movimento?


 


Tentaram combater o hip-hop de todas as formas: com cacetete, com mentira, com dinheiro, tirando dinheiro, censurando, banalizando.


 


Poderia falar sobre o mercado cultural, a indústria fonográfica ou os ataques pseudo intelectuais dos Julio Medáglia, Bárbara Gancia, Maurício Mirisola e outros estéricos. Mas quero me ater apenas as duas primeiras: A ''força bruta'' e a ''mentira''. Talvez as duas mais antigas formas de dominação.


 


Então vamos a reconstituição dos fatos:


 


Madrugada de domingo dia 6 de maio, Praça da Sé, São Paulo, uma multidão reunida pra um evento cultural recebe tiros de borracha, bombas ensurdecedoras causam pânico e descontrole, o gás que pairava no ar sufocava levando pessoas ao chão, pontapés, cacetetes e tiros a queima roupa completavam a humilhação.


 


Segundo o tenente da PM Jackson [não quis falar o sobrenome], responsável pela ação policial na Sé, as autoridades agiram com equilíbrio(…) “O conjunto é conhecido por ter letras combativas, sobretudo em relação a abusos policiais. É só ver o histórico do Racionais. Acaba sempre assim. Mas nós já estávamos preparados para isso acontecer”


 


As declarações do tenente não deixam dúvida que se trata de um ação premeditada. Não existe maior ato de vandalismo do que 50 homens fortemente armados investir contra uma multidão de 50 mil pessoas.


 


Na mesma semana, fui almoçar com dois rappers em um restaurante próximo da mesma Praça da Sé. Ao entrar no estabelecimento pegamos um policial fardado em tom de deboche intimidando o motoboy que ali trabalha:
– Você estava no show dos Racionais né? Agente tava lá no apetiti. Botamos os “manos” pra correr. Tem gente correndo até agora! Rararara!


 


Dessa vez quem deu o flagrante foi nois!


 


Um dos parceiros que estava comigo neste dia, é um rapper com uma longa carreira e reconhecimento dentro e fora do país. Uns dias depois tento acionar o mano no celular e nada… Tento mais tarde, o resultado é o mesmo. No outro dia o meu celular toca:
– E ai Toni, se tava tentando dar um salve?
– Isso mesmo tiu! Pra que celular se deixa desligado?
– Num é. Advinha onde passei a noite?
– Na cadeia – arrisquei pelo tom de voz, e/ou uma poeira de 6º sentido ou sei lá, que faiá as vez, igual celular: ora sem bateria, ora sem sinal, ora sem credito.


 


Recontou a história, que suas letras e a denúncia a algumas pessoas e instituições, tem feito dele um sujeito visado.
– Aí, pra eles arma a fita foi mamão:
Um assalto de carro. A brecha. Segundo us omi, a vítima reconheceu a foto.
– Como é que tinham minha foto se eu num tenho passagem? Como é que me reconheceram se eu estava na foto de capuz e não dava para ver o rosto? É comum apresentar uma foto de revista, de uma entrevista que dei, para reconhecimento?


 


Uns dias antes, outro parceiro do movimento que contrariou as estatísticas e hoje é vereador de Francisco Morato, Anderson da Silva. Em sala de aula no curso de Direito comentou que a pena de morte já existe no país para os “três Ps” de ‘‘preto, pobre e prostituta”. Foi a conta para outro estudante Genivaldo, membro da polícia  querer revidar: ''A polícia cumpre um papel importante para a sociedade e merece ser tratada com respeito''. Depois da discussão inflamada na sala, Anderson foi ao banheiro da faculdade e Genivaldo o seguiu. “No banheiro, ele começou a me intimidar dizendo que eu tinha que ter mais cuidado com o que falava, que as conseqüências poderiam ser mortais, que eu devia temer pela vida e que qualquer dia eu poderia ser apagado”. E aí só foi porrada pra todo lado, até que colegas e seguranças da faculdade contiveram a briga.


 


Mesmo fora de SP casos semelhantes cansam de acontecer, como por exemplo o que DJ Branco relata da Bahia a trajetória de Blul. Um jovem que em sua letras de musicas denunciava a violência policial. Numa noite ao voltar para sua casa, pelos lados de Jaguaripe em Nova Brasília, foi vitima de mais uma execução sumária, dando fim a sua tão provisória vida como rapper. A justificativa pelos meios de comunicação é a velha frase “Briga entre traficantes”.


 


Num churrasco ouvi de um amigo: “Quem é o chefe da polícia? Ou essa porra num tem chefe? Num é o governador do estado? Então tem um culpado.”


 


“Os que se julgam forte. Decretou minha morte” DBS & a Quadrilha


 


Como prêmio de consolação o movimento ganhou um programa Repórter Record, com o título: O hip-hop é responsável pela violência?


 


Aí entra a segunda forma de dominação que falei. A mentira. Embora preciso reconhecer que não foi o único artifício utilizado nos 50 minutos do programa. Também utilizaram da banalização, do sensacionalismo, da apologia à violência. Mas o que predominou foi mesmo o engodo. Misturando o rap com o funk, tirando trechos de letras do contexto, entre outros truques. O hip-hop não tem mais que 40 anos, será que antes disso não existia violência? Foi o hip-hop que a criou?


 


“Insistem em nos dar zero virgula por cento. Música resistencia, rutz, sentimento.” Sombra & DBS


 


Sei que muitos podem achar que isso tudo não passa de teoria da conspiração de minha parte.  Que o baguiu tá bom. Que é só uma fase. Que quem tem talento esta ganhando dinheiro. Que o hip-hop não morreu nem nunca vai morrer, porque agente num vai deixar!…


 


Eu que não pouso em pista molhada com reverso desligado. Mas com todo o respeito, me diz porque o “maior rapper do Brasil” é um rockeiro? Aproveita e responde…



…Cadê as posses? Cadê as festas de rua? Cadê os grandes shows? Cadê as equipes de baile? Cadê as músicas nervosa? Cadê as rádios comunitárias? Cadê as roda de break? Cadê os eventos conjuntos com os 4 elementos? Cadê a auto-sustentabilidade do movimento? Cadê?


 


“Bem! Como pode? Como pode estar tudo bem?”



Quanto ao rapper português, não consigo concordar com ele. Pois a elite é que é boa pra transformar cadáveres em bandeiras para reivindicar suas idiotices:
Com a morte do Liana, propõe a pena de morte.
Com a morte do João Vitor propõe a redução da maioridade penal.
Com os atentados do 11 de setembro ivadem o Iraq.
Com as vitimas da TAM criam o cansei.
Com as mortes diárias espalham o pânico pelos Datenas da vida…


 


Nós não temos feito atos para consagrar nossos avanços, nem protesto pelos retrocessos.


 


“Não proponho ódio porém acho incrível, que nosso conformismo já esteja neste nível” Racionais Mc´s


 


O sistema é tipo a “golpista de luxo” presa essa semana em São Paulo: Bonita, gostosa, atraente e sedutora. Mas abraça pra ver o prejú!

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