Quem tem medo da reforma?

Cá entre nós, preferia não tocar no assunto agora. O Vermelho tem dado ótima cobertura ao que se passa no Congresso Nacional e certamente quase nada temos a acrescentar. De toda forma, dois dos nossos generosos leitores, Elcio e Hermano, por e-mail pedem

Hermano pergunta: quem é mesmo que tem medo da reforma política? E Elcio se interessa em saber qual a tendência dominante no Congresso, particularmente sobre o sistema de votação em lista e o financiamento público de campanha.


 



A tendência dominante é francamente conservadora, a julgar pelo andamento da carruagem, amigo Elcio. Pouca gente ainda acredita que esses dois dispositivos ainda possam ser incluídos na reforma.


 


 


Quanto a quem teme uma reforma de sentido inovador, prezado Hermano, é evidente que são os mesmos que têm se comportado, na prática, como quem prefere que tudo fique como está para não correr riscos se algo efetivamente vier a mudar.


 


 


O deputado Aldo Rebelo, em entrevista aqui no Vermelho, dias atrás, revelou certo otimismo quanto à possibilidade de mudanças de sentido democratizante. E atribuiu os obstáculos já registrados a uma suposta insegurança de grande parte dos parlamentares quanto ao desempenho eleitoral que possam ter caso mudem as regras do jogo.


 


 


Pode ser. Porém, olhando as coisas aqui da província, ousamos acentuar uma outra razão para tamanha vacilação: a preferência pela manutenção das relações promíscuas entre postulantes a cargos eletivos e empresas prestadoras de serviço a instituições públicas. Certamente os que não tiram proveito pessoal disso conviveriam muito bem com o financiamento público de campanha (ao qual logicamente estaria acoplado o sistema de votação em lista), até porque a disputa se tornaria menos desigual.


 


 


O financiamento público poderia não acabar plenamente com a influência do poder econômico nas campanhas, base das situações constrangedores que vêm sendo descobertas e denunciadas com tanta freqüência, mas a reduziria em muito, sem dúvida.


 


 


Aí é onde se somam a fome e a vontade de comer: o conservadorismo e o apego da maioria a meios eticamente condenáveis de fazer política.


 


 


Por fim, Elcio e Hermano, permitam acrescentar que o pano de fundo dessa novela de fim imprevisível é o atraso do Estado brasileiro, organizado em função das elites e da manutenção do status quo – que, no outro lado da linha, na esfera do Executivo, tantos obstáculos impõe a um governo democrático como o atual. Mas aí já é outro aspecto que poderemos comentar depois.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor