Reino sombrio : o Velho Mundo sob tensão

A OTAN tornou-se mais poderosa que a União Europeia, que preferiu a adesão aos ditames da política externa dos EUA, que monitora de perto a situação política de cada desses aderentes.

A Europa está sombria. Está efetivamente voltando ao passado. Prepara uma guerra total contra o Oriente, hoje representado pela Federação Russa. Esse mergulho num passado belicoso, feito não por qualquer país europeu, ameaçado pela Rússia, mas por país que está do outro lado do Atlântico e que buscar retomar seu controle sobre o mundo. E esse país conta com uma organização que na atualidade tomou o status estatal de “braço de ferro” nos norte-americanos : trata-se da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN).

Parece que estamos revivendo um cenário do início do século XX. Os governos se armam para garantir sua seguridade, aliando-se à OTAN que dedica-se a destruir o estado russo. Sim, depois da vitória sobre a URSS, em 1991, os EUA passaram a construir uma política de tutela, ancorando os seus aliados nos novos governos. A coleira norte-americana, beneficiada com o completo caos estabelecido na Rússia, foi sendo colocada em cada um dos estados do Leste Europeu.

Até 1990 a OTAN contava com 16 países-membros e daí, até a semana passada, agregou quase todos os países do Leste europeu, só ficando de fora a sempre neutra Suíça; a pequena e pobre Moldávia; e a Belarus, aliada firme da Rússia; e a Sérvia. Em junho de 2022, quatro estados solicitaram formalmente à OTAN sobre suas aspirações de adesão: Bósnia e Herzegovina, Geórgia, Suécia e Ucrânia. Em maio de 2022, a Finlândia e a Suécia enviaram simultaneamente cartas de solicitação oficial para se tornarem membros da OTAN. O primeiro tornando-se membro em 4 de abril de 2023.

A OTAN tornou-se mais poderosa que a União Europeia, que preferiu a adesão sem questionamentos aos ditames da política externa dos EUA, que monitora de perto a situação política de cada desses aderentes, garantindo, direta ou indiretamente, o controle sobre esses países. Um conhecido me disse sarcasticamente que a OTAN é o grande Império Austro-Húngaro do século XXI.

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Nas últimas semanas foram realizadas eleições no Montenegro, na Finlândia e na Bulgária. Montenegro, que já fez parte da Iugoslávia e uniu-se à Sérvia até junho de 2006, entrou na OTAN em 2017, fechando o cerco sobre a Sérvia. A Bulgária, um dos países mais pobres da Europa, entrou na OTAN em 2004; e a Finlândia, que tem uma extensa fronteira com a Rússia e historicamente optara pela “neutralidade positiva”, aderiu, nesta terça (4) à OTAN.

Hoje o norueguês Jens Stoltenberg, ex-primeiro-ministro da Noruega e líder dos trabalhistas, que se apresenta como de centro-esquerda, é a figura mais poderosa da Europa.  A belicosa Ursula von der Leyen, uma democrata-cristã alemã que desde dezembro de 2019 preside a Comissão Europeia, que é o ramo executivo da União Europeia, exerce o papel de porta-voz da OTAN. Essas duas figuras incorporaram os interesses geopolíticos dos EUA e quando da deflagração do conflito na Ucrânia com a Rússia, em fevereiro de 2022, preferiram ignorar solenemente os 8 anos anteriores, em que os governos da Ucrânia prenderam, assassinaram e perseguiram os habitantes de fala russa do leste ucraniano, e alinhar-se à estratégia dos EUA, de fazer uma guerra por procuração.

A entrada da Finlândia na OTAN e a vitória das forças pró-União Europeia no Montenegro, representam o passo final para que o antigo Império Austro-húngaro fosse revivido, simbolicamente falando, dessa vez com a participação de balcânicos, britânicos, alemães, nórdicos, ibéricos e itálicos.

A corrida armamentista deu a largada. A Rússia está fechando aliança com a China e o “mundo ocidental”, revivendo o ódio aos eslavos russos, tenta “apagar” o país do convívio mundial. A política de “apagamento” de um país, sob a escandalosa liderança de EUA, acaba por fazer com que o gigante oriental que atropelou os “tigres” e o Japão, busque posicionar-se no campo da geopolítica mundial.

A Guerra Fria não voltou. O que temos agora é a morte lenta e agonizante do poder imperial dos EUA, que tenta resistir à perda do seu “poder real”.

Nuvens cinzentas e sombrias pairam no horizonte.

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