Rembrandt van Rijn, o mestre holandês

Neste 15 de julho de 2013 comemoramos o nascimento de um dos maiores pintores de todos os tempos: Rembrandt van Rijn. Ele nasceu em Leiden, na Holanda e foi o oitavo filho de um proprietário de moinho que ficava às margens do rio Rhin e por isso seu sobrenome acabou ficando “Van Rijn” (do Rio). Originalmente católica, a família se converteu ao calvinismo.


 Autorretrato, Rembrandt, 1665

No chamado “Século de Ouro” – o século XVII -, a cidade de Leiden era um dos mais importantes centros culturais da Holanda. Sua riqueza se devia principalmente ao florescimento das manufaturas têxteis, um grande mercado que era seu grande centro comercial. Lá também tinha uma universidade e uma intelectualidade com tradição humanista e artística. Exatamente
em Leiden, desde o século XV tinha se desenvolvido uma notável escola de pintura a óleo, tendo como uma de suas principais referências o pintor Lucas de Leiden, excelente pintor e gravador, nascido por volta de 1490. Vem dele, segundo alguns autores, a influência inicial de do jovem Rembrandt.

Quando o jovem Rembrandt completou 18 anos, em 1624, terminou sua fase de formação, passando seis meses no atelier do pintor Pieter Lastman em Amsterdam. Lastman tinha passado pela Itália e era um pintor de “história”, ou seja, executava obras com cenas sagradas ou mitológicas e destinadas a um público de entendidos. Em Amsterdam o gosto pela pintura italiana já se fazia presente em diversos círculos. Rembrandt, diz uma de sua biografias (Rembrandt, el más importante hereje de la pintura, de Stefano Zuffi) se dedicou a estudar pacientemente a pintura de Lastman, copiando “seus temas e composições”.

Começa sua carreira

Após o período ao lado de Lastman em Amsterdam, Rembrandt volta para Leiden. Tinha 19 anos de idade quando começou sua carreira profissional. Se associa a um amigo, Jan Lievens, que também havia estudado com Lastman e os dois abrem um atelier profissional. Trabalhavam juntos, copiavam um ao outro e utilizavam os mesmos modelos. Logo ficaram conhecidos em Leiden e sua fama não demorou a se expandir.

Em 1628, no mês de fevereiro, Rembrandt recebe seu primeiro aluno, Gerrit Dou, que tinha 15 anos de idade. Mais ou menos no mesmo período Rembrandt começa a ter seus primeiros êxitos econômicos: tinha levado à pé, de Leiden a Amsterdam (uma distância de 40 km) um quadro que conseguiu vender por uma boa soma de dinheiro. Gerrit Dou fica como aluno de Rembrandt até 1632, quando este se muda para Amsterdam. Lá ele já era considerado entre os “pintores refinados” da escola de Leiden e também tinha se envolvido pessoalmente com a organização de uma Corporação de pintores.

Um certo dia, ainda em Leiden, ele e seu parceiro Jan Lievens recebem a visita, em seu atelier, de Constantin Huygens, poeta e um dos homens mais cultos e influentes da Holanda. Em sua autobiografia, mais tarde, Huygens fala dessa visita ao atelier dos dois jovens pintores de origem humilde (um era filho de um moleiro, o outro de um borbador) e disse que ficou com uma impressão muito profunda deles. De Rembrandt, Huygens disse que ele era dotado de um desenho fino e elegante e comunicava “palpitantes emoções”. Huygens encomenda a Lievens o seu retrato, e a Rembrandt um de seu irmão. No anos seguintes, Constantin Huygens auxiliou os dois pintores, encaminhando Lievens para a Inglaterra e garantindos excelentes encomendas para Rembrandt. Huygens também propunha obras desses dois pintores a colecionadores internacionais. Ele os colocava no mesmo pé de igualdade com os pintores italianos, que possuíam grande fama na Europa.

Vida em Amsterdam

Na época em que Rembrandt chegou lá, Amsterdam era uma cidade em pleno desenvolvimento econômico, urbanístico e social. Grande porto comercial e capital de um império colonial, Amsterdam possuía lojas e mercados onde se podia comprar de tudo, incluindo objetos e coisas diversas vindas de várias regiões do mundo. Ao lados dos canais que cortavam o centro velho da cidade, se erguiam casas confortáveis para os ricos comerciantes locais. Muitos deles passaram a comprar quadros de Rembrandt.


O artista em seu atelier, Rembrant, 1626-1628

 

Foi na casa de Hendrick van Uylenburch, um marchand, que Rembrandt conheceu Saskia, parente próxima dele. Ela tinha 20 anos de idade quando os dois se conheceram e entre eles surgiu um grande amor. Os dois se casaram no dia 22 de julho de 1634. Rembrandt tinha 28 anos. Para o filho do moleiro, esse casamento com Saskia representava uma ascensão social.

Logo Rembrandt se tornou um homem rico, não só por agora ter um parentesco com pessoas ligadas à alta sociedade holandesa, mas também por causa de sua pintura, cada vez mais admirada e requisitada. Com 29 anos, vai morar numa bela casa com Saskia e monta um amplo atelier, onde recebe um número grande de alunos. Na Corte de Haya, graças à Constantin Huygens, o nome de Rembrandt já se tornava conhecido. Recebe encomendas muito bem pagas. Como ele não se dizia cem calvinista e nem católico, pintava tanto para um público quanto para o outro, assim como também para judeus. Nesse período de grande prosperidade na Holanda, havia uma mania nova entre os ricos: colecionar obras de arte. Também Rembrandt se tornou colecionador.

Rembrandt possuía uma curiosidade inesgotável e tinha gosto por toda novidade. E Amsterdam, com toda a prosperidade em que vivia naqueles tempos, era o centro para onde chegavam as novidades do mundo. Nos anos 1630, a expansão colonial holandesa havia atingido seu cume, inclusive com a consolidação de algumas possessões em vários continentes e países, inclusive no Brasil, especialmente em Pernambuco. Fora isso, a Guerra dos 30 anos que estava ensanguentando a Europa, não atingiu a Holanda.

Tempos de prosperidade

Rembrandt nunca saiu da Holanda, nem mesmo para ir à Itália, como era costume inclusive de muitos dos pintores holandeses. Segundo Stefano Zuffi, Rembrandt não tinha nenhuma vontade de sair da Holanda, inclusive porque mantinha um ritmo de trabalho intenso. Além disso, havia grande disponibilidade de obras italianas em Amsterdam, que ele podia observar de perto. E acrescenta que Rembrandt conhecia muito bem a arte do Renascimento e do Barroco e ele sentia “constantemente a necessidade de uma verificação nos mais altos níveis” da pintura.

Este pintor se dedicou durante muito tempo ao ensino da pintura, como mestre. Ele gostava disso, e chegou a ter alunos admiráveis, que também foram seus colaboradores. Eles lhe pagavam para ter aulas com ele. Era um professor dedicado e generoso, ficava muitas horas cuidando da formação de seus alunos. Eles faziam desenhos e pinturas com modelos vivos nus, e muitas vezes posavam para algumas composições do mestre, vestidos com trajes e adereços teatrais que pertenciam a Rembrandt.

Sabe-se que Rembrandt adorava o teatro. Quando era criança havia participado em pequenas encenações em sua escola, o que lhe despertou uma afeição verdadeira pelo teatro, que ele pode ver ainda mais satisfeita em Amsterdam. A atividade teatral na Holanda também era efervescente nos tempos do pintor. O teatro culto convivia com espetáculos ambulantes que aconteciam nas feiras e mercados. Os gestos, as roupas e a encenação dos atores eram para Rembrandt um mundo fascinante e inspirador. Estimulava seus alunos a frequentar eventos teatrais, para que estudassem os movimentos e as expressões dos atores em cena. Também diz-se que ele era um homem de profundas reflexões e sempre questionava o papel do pintor no mundo.

Em plena prosperidade, Rembrandt muda-se com sua família, em 1639, para um palacete de dois andares, onde também podia organizar melhor sua grande coleção de arte e de curiosidades do mundo, que ele comprava nos mercados e feiras. O preço dessa casa era muito alto, mas ele tinha bastante dinheiro e vendia muito. Deu uma primeira entrada, uma quarta parte do valor total, e se comprometeu a pagar o resto da dívida em seis anos.

Em 1642, o mestre havia alcançado o cúmulo da fama e do êxito econômico devido às suas telas “Ronda noturna”, “Estampa de cem florins”, aos seus numerosos alunos, às encomendas que recebia e aos elogios dos críticos. Mas em sua vida pessoal, as coisas estavam difíceis. Seus pais morreram, depois uma irmã querida de Saskia, e ainda três filhos do casal. haviam morrido ainda muito pequeninos. Saskia dá à luz a um quarto filho, Tito, batizado em 22 de setembro de 1641. Saskia adoece após o parto e foi acometida de tuberculose. Após meses de muito sofrimento, no dia 14 de junho de 1642 a esposa amada de Rembrandt morre. Ela só tinha 30 anos de idade.

A ruína

A morte de Saskia foi uma grande tragédia pessoal para Rembrandt. Após a perda da esposa, ele começou a ter sérias dificuldades para organizar sua vida familiar. Na sociedade holandesa, era a mulher que administrava a economia doméstica, cuidava da educação dos filhos, administrava os empregados da casa. Em geral, as mulheres holandesas possuíam grande cultura, mesmo que ainda sofriam o preconceito em alguns setores da vida social. Mas a literatura holandesa do século XVII apresentava muitos títulos para um público feminino.

Mas, voltando à vida de Rembrandt. Saskia morreu e deixou o pequeno Tito órfão de mãe com apenas 9 meses de vida. Ela havia lhe deixado de herança uma parte de dinheiro, condicionando a que ele não voltasse a se casar. O mestre resolve contratar uma ama-de-leite, Geertje Dircx, uma camponesa viúva. Geertje se ocupa com firmeza das tarefas domésticas e do menino. Ela era analfabeta e rude, o oposto de Saskia. Mas era muito trabalhadora e decidida. Rembrandt se apega muito a seu pequeno e único filho. E se torna amante de Geertje, coisa que escandalizou a sociedade calvinista local. Além disso, eles lhes repreendiam o fato de Rembrandt não ter nenhuma prática religiosa, de gastar mais do que ganhava inclusive para comprar coisas extravagantes, como, por exemplo, bichos exóticos.

Sua fama começa a se enodoar com os preconceitos da sociedade holandesa, apesar de ainda ser muito respeitado como artista pelos críticos. Os amigos vão diminuindo, alguns alunos abandonam seu atelier. Geertjer, mais tarde, abre um processo contra ele, acusando-o de não ter cumprido uma promessa de matrimônio. O tribunal obriga Rembrandt a pagar à ela uma pensão anual.

A Holanda entra em guerra com a Inglaterra e a recessão surge. Os credores de Rembrandt aumentam ainda mais a pressão sobre ele, que começa a vender os móveis da casa. Ainda havia a dívida da casa. Nessa época, ele havia mantinha uma relação amorosa com Hendrickije Stoffels, que fica grávida. Rembrandt resolve dar o nome da menina de Cornelia, como havia tentado dar a duas outras filhas que tivera com Saskia e que tinham morrido. As dificuldades financeiras se ampliam. Em julho de 1656 foi feito um inventário dos bens do mestre: 363 lotes, entre eles coleções de desenhos, gravuras e pinturas de grandes mestres italianos e flamengos. Tudo foi vendido em leilão para pagar suas dívidas. Em seguida, também sua casa é vendida.

Rembrandt se apega ainda mais a Tito, seu único filho que alcanço a idade adulta. Era um menino ruivo, inteligente, mas de saúde delicada. Dele, Rembrandt fez belíssimos retratos. O filho agora era o modelo preferido do pai.

Em 1663, morre Hendrickije, sua última companheira. Eles já viviam em uma casa modesta. O preço de seus quadros voltam a subir e ele recebe novas encomendas. De tão pobre agora, Rembrandt teve que vender a sepultura onde Saskia havia sido enterrada. E sua pintura estava agora cada vez mais próxima de suas lembrenças da obra de Ticiano. As pinceladas eram ainda mais densas e ele deixava algumas telas sem finalizar, sem o “último toque”, como o velho Ticiano fazia.

Tito se casa com Magdalena van Loo em fevereiro de 1668 e logo ela fica grávida. Rembrandt vibra com a ideia de ser avô. Mas em setembro, Tito morre. Rembrandt se prostra numa tristeza profunda, quase não sai mais de casa, onde vive com sua filha Cornelia, que agora tinha 15 anos. Quase não se alimenta mais. Em março seguinte, vai assistir ao batizado de sua neta, que recebeu o nome de Tita. Em seguida, morre também a mãe da menina. Rembrandt mergulha mais do que nunca na pintura, como remédio para tanta tragédia. Assim como Ticiano, que também perdeu um filho predileto, Rembrandt se agarra às cores de sua palheta, à sua pintura. Pinta alguns autorretratos, como o fez durante toda a vida.

Em 1669 morre o grande mestre da pintura holandesa. Morre pobre e quase solitário, com uma filha e uma neta para cuidar.

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